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HISTÓRIA DO QUE NÃO PUBLICOU

(Não, não tenho livro de poemas...)

Já lhe mencionei brevemente
um dos mais conhecidos poetas,
filho do sabão e do amoníaco,
nascido em Bucatão, suicidando-se –
padecendo de femeoidolatria, –
enforcando-se com um poema -
o primeiro seu, pontiagudo e longo.
A sua vida não foi propriamente vida,
pelo frio que continha de solidão.
Na opinião de Gurilundo, teve o poeta
o supremo “dom de exaltar o nada."
Um dos mais conhecidos poetas,
filho do sabão e do amoníaco,
publicou o seu primeiro livro
aos cinco anos, seis meses, um dia,
meia hora, trinta e dois minutos
e alguns milionésimos de segundo.
Mais tarde, exila-se na Bonifácia,
onde vende seu corpo para coroas;
parte para Praia Enorme, e ali vive
de «leite, tirado de prostitutas
do pasto pink da noite»; frequenta
cursos em Zonabuonapeste,
traduz Mendigos Poetas que escreviam
com a merda mais amarela que pegavam.
Frequenta os meios intelectuais
e pede esmola aos exilados bêbados
casados com lésbicas indecisas e ricas.
Regressa à Bucatão, disposto a participar
de orgias de leitura à beira do rio
de fios coloridos mergulhado de fósseis.
Toda a sua vida o torna sensível para a cultura
que há no dente molar das mulheres-biblioteca,
chafurdando seus poemas no culturalêxtase.
Na sua escrita, podem reconhecer-se traços
uniformes de tarados alemães comendo

no ato de ler, afastados do burburinho,
magras mulheres 

de beleza em folhas amarelas...

(Mas junto dinheiro para a publicação.
Se quiser ajudar...Não? Então, leia de volta.)

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