Pular para o conteúdo principal

SENHORA EX-MÃE GENTIL

Natanael Gomes de Alencar e Leonardo Só
(POEMA RECONSTRUIDO DE RETALHOS DE 1996 NA EPOCA DO MASSACRE DOS CARAJÁS)

Começo aqui estes versos
Para falar com ardor
De quem constrói a nação
Como bom trabalhador.

Vão as falas que se seguem
Para ti, ex-mãe gentil,
Não esqueçamos que o sangue
Dos teus seios nos fluiu.

O pedreiro fez teus pulsos,
Os braços de tuas celas,
Fez teu manso colo puro
Com medidas nada austeras.

O mundo é a nave das tiranias fatais,
Mas a vós, Senhora Mãe, torce a face e a retrai,
Pois nem do algoz usas disfarce,
Quando massacras e tripudias
A nossa cidadania, como ousaste
Em Carajás.

O professor muito ensina
Tuas crianças, com flama,
Seguindo a sua sina,
Sem valer o quanto ganha.

O faxineiro faxina
Tuas sujeiras, Senhora,
Mas de dentro nós notamos
Que isto não te melhora.

Diarista ou a contrato,
Zela para dar apuro
Ao teu urbano perfil,
Se jogando no teu culto.

O mundo é a nave das tiranias fatais,
Mas a vós, Senhora, torce suas rugas fractais,
Pois nem do algoz usas disfarce,
Quando massacras e tripudias
A nossa cidadania, como ousaste
Lá atrás.

Há dentista, advogado,
Médico, ascensorista,
Mecânico, carpinteiro,
Vendendo siris nas pistas.

Há padeiro, vendedor,
Oculista, tapeceiro,
Jornalista, escultor,
Se esfalfando nos chiqueiros.

Para ganhar u'a merreca,
Tem muitos profissionais
Em teus seios, ex-mãe gentil,
Mamando pra ter bem mais.

O mundo é a nave-mãe das tiranias,
Mas de vós, Senhora, ele esquiva a quilha,
Pois nem do algoz usas disfarce,
Quando massacras e tripudias
A nossa cidadania, como ousaste.
Ousas mais?

Mas nem só do bom trabalho
Tu auferes as conquistas,
Há bandidagem demais
Corrompendo-te e às vistas.

Tens políticos honestos
Que torcem pelo Brasil,
Querem que ele seja um astro
Que no céu nunca se viu.

O teu povo se divide
Entre manipulações
De uma fé maniqueísta
Que venera facções.

O mundo é a nave-mãe das tiranias,
Mas a vós, Senhora, torce a vil face,
Pois nem do algoz usas disfarce,
Quando massacras e tripudias
A nossa cidadania, como vemos nos "anais"
.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

QUE ENOBREÇA OS OLHOS

Seus olhos são nuvens com versos, caravelas e peixes. E eu sou uma ressaca marítima. Há sede debaixo de meus olhos. Há demasiada ansiedade em minhas naus de ondas. Não há vestes a proteger do frio. Não tenho muitas saídas, você sabe. Tenho de ser peixe. Estou uma confusão só. Sou um coral de crises. Sou um rodapé por uma estranha corrente. Talvez se me entendesse, poderia ser Netuno. O forno pifou quando eu planejava a queima sagrada. E a casa envelheceu na árvore da chuva que cai pesada. Há chuva que melhor que esta enobreça os olhos?

VOCÊ TEM HONRADEZ

Você tem honradez? Batizo uma mosca de honradez. Uma mosca tem seu próprio conteúdo, Um ser humano tem conteúdo mental com falhas. Um ser humano mata milhões de uma vez só. Uma mosca.....mosca "estro"..... . Você faz tratos, contratos, em troca de algo. Você dorme com tranquilidade. Você e eu. Já temos a pena que não nos compete. Vivemos 60, 50, 40....mas 70 é pouco também. Com 50 temos saudade do antes do corpo decair mais rápido. Honradez : ter justiça, seja: fazer jus. A seu tempo sobre a terra. O outro lhe interessa ? Contratos Tratos lhe distanciam De algo que humaniza. E lhe aproxima do espírito das guerras, Eu nonada non adan. Em cima da mesa, Duas moscas amam trepam morrem (Há um quê de Hades na trepada).

ARAKEVE NUNCA MAIS

VERSÃO sexta-feira, 3 de março de 2017 ...ARAKA’AEVE NUNCA MAIS, inspirado em poema de Edgard Allan Poe - The Raven (O CORVO) e em Eros e Psiquê, de Fernando Pessoa ...Meia-noite? Não sei bem, era horário de verão. Folheava um livro raro, letra barroca e fininha. Meu corpo todo doído debruçava sobre a mesa. “Ouvi o som do interfone?” Estiquei-me. Dor na espinha. “Quem toca meu interfone?” Logo atiça a dor na espinha. Quem vem com seu nhenhenhém?”. Foi no início de setembro. Meu aniversário, eu lembro. Não paguei a luz. Velavam velas várias na cozinha. Esperava o sol, o dia. E a noite me tragava, A leitura me enjoava, só lembrava de Amelinha Ancorado no cais longo da memória...Amelinha !!! “Quem vem com o seu nhenhenhém?” A cortina na vidraça balançava, para horror Desta herdada arritmia que ao peito desavinha. Ouvi de novo o interfone por vagarosos segundos... “É cliente atrasada??? A fofura da vizinha? Como puxa meus lençóis! Ela é uma vizinha Bem versad