A rua de minha aldeia chamada Brasil
comporta igualdades e diferenças
e aguenta o peso de todas as decisões
e indecisões sobre corrupções e assassinatos
e vendedores de virtudes e paixões
e prostitutas jovens no nordeste
sendo vendidas por pais e mestres
e tráfico de órgãos e pianos
e planos de saúde caros como
a barata consciência sem inseticida
que combata sua vida insana e espúria
e aguenta jovens sendo perdidos para a droga
de um tempo sem sentido e luta e sonho
e aguenta mulheres sendo enganadas
com umas poucas conquistas e ludibriadas
com o sentimento de mães de todos
e com as portas do carro abertas
por homens que se acham e dizem cavalheiros
e que querem suas donzelas cientes dos deveres
de cozinhar, lavar, sorrir e trepar
nos bancos das igrejas fundamentais
para ditar valores que vem de longe
pendurados nas barbas dos ancestrais
que estão tão mortos mortinhos
quanto o desejo de um mundo de pensamento único
de vamos ver qual religião vencerá
que profecia vingará
e aguenta poetas com pretensão de darem luz
a quem ele julgue perdido em sentenças obtusas
e fés obsoletas
qual fé é obsoleta?
todas as fés e faltas de fés são importantes
à mesa como o café com pão e manteiga
ou no mínimo duas pessoas se sentando e falando
oi, vai fazer um dia assim assado hoje
pois na rua da minha aldeia
onde os acidentes se multiplicam
a desigualdade infla seus ovos
onde o negro é pisado
o índio
e os crimes compensam e descompensam
as safadezas são enroladas em papeizinhos
de marias joanas que dançam em garrafas
atiradas no nosso mar poluído
com crianças borbulhando e fedendo
esquecidas
pois na rua de minha aldeia como dizia
na rua de minha aldeia chamada Brasil
árvores arrebentam as calçadas
e asfaltos são arruinados
dando aos cérebros feridas estouradas
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