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DE MIM E DOS QUE AMO

Tento escutar o que dizes
de mim e dos que amo,
para assim poder avaliar
o meu egoísmo atroz
de considerá-los mais que aos outros
e poder te agradecer
e dizer que puxaram a mim.

Ou escutar o que talvez tu nunca venhas a dizer,
para assim passar desdém no chão,
para assim poder lavar a ira secular,
para assim esfregar os cantos ansiosos,
para assim fazer o café com duas broncas mascavas,
para assim poder mudar o guarda-roupa de lugar,
o sofá do teto para o subterrâneo,
o criado-mudo na parede sul,
a montanha defronte do sonho esquecido em meu sacrifício
para o sol por trás da biblioteca que um dia terei,
para assim poder escrever o roteiro adaptando o berço,
para assim poder representar a vida do rinoceronte,
para poder ir ao vaso por um seio da loura do banheiro,
contratada para contra-regra do fantasma da ópera
que é a vida daquele vulto que se veste de mim e tenta gritar a cada acordar pra ti.

Tento escutar o que talvez já tenhas dito
de mim e dos que amo
e se perdeu no chão como o celular sem bateria
original que comprei pela Senhora Internet I,
A Rainha Bondosa, Consoladora, a Hipócrita.

E, se bebo a imagem do espelho todos os dias, 
sei que o que dizes de mim e dos que amo
bate comigo sempre, por reflexo.
Mesmo sem vontade, te ofereço
um cafezinho, depois me deixa só,
isso só porque quando falas de mim
e dos que amo
abanas o rabo.

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