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Mostrando postagens de 2011

MISÉRIA IBOPE

Na tela, boneca em ralos gestos, De pouco osso, tábuas - seu véu, Tutano mole de uma alma lassa, Geral como acaris como boréus. Não morre, mesmo em gestos anoréxicos, Das loucas vias, de sóis - larva, Miséria ibope dá na internet, Onde lhe lavram. Vou contar: Num lixão, um pobre encontrou Nietzsche. Deu ibope ao Super-Homem.

HOMINIS MORES

Choram a morte do homem não sua lavoura não sua família não teve lavoura nem família só teve um lápis e uma caderneta quando dormiu no mármore quase escreveu algo um risco ficou como obra máxima quase não fica nem isso

O SER VOE

Vento que vagas Fundo a vogar O que divagas Por entre rochas Duras no a(mar)? Voando em vão Voraz virando Violento e forte Violando vilas Vais opulento Voilà me leva Nesse arrebento De flutuar Sobre estas dores Venta em meus olhos Vento em folgança E que o Ser voe Pr'outras lembranças!

DE QUATRO EM QUATRO ANOS

Hospedamo-nos no barco do dia. Sentimos o cheiro dos fétidos canais. Sentimos o cheiro dos peixes perfumados. Conversamos com as sardinhas da limpeza. Os tubarões pegam todo o dinheiro dos pescadores. Vez em quando, de quatro em quatro anos, nos comícios. Por vezes, um tubarão se une a outro. Gostam de santinhos, tem mesmas barbatanas. O cheiro do peixe não nos matará, embora. As urnas estão cheias de águas-vivas a longo prazo.

SAMBA QUIS SAMBAQUIEI

Fui visitar sambaquis E comi ossos no espeto, De conchas fiz atabaque Pra macumba de esqueleto. Juntei no meu coração Muitos versos e quimeras. Em solidão, vi amores Entre siris e moneras. O cientista Rivet Nas conchas de Piaçaguera Gostou tanto que ao vê-las Esqueceu-se porque viera. Olele Olalá Samba aqui que eu sambo lá!

MINHA MÃE ME PEGOU

Dez anos. Minha mãe me pegou. De lado me olhou. As mãos de cabelo. - Sai do banheiro! -Aposto que espremeu o dedo! -Vai rezar defronte ao rádio, infame! Às dezoito horas, a oração do Padre Donizete. O copo de água benta estava com moscas dentro.

UM-UM

O tempo inteiro E o tempero. A trempe: inteiriça E liberta de tensões. Porções do Outro restam em Expostas liquidações. Ansiedades a mover os ponteiros: Quanto mais exigidos, Correm transfigurados. O tempo liberta Quando aperta A chave incerta.

UNIVÉRSICO

Palavras vão saindo em cachoeira. Uma cachoeira com buracos de universos. Dizem que cada palavra gera a beira Onde caem outras palavras.

AFOGADOS EM BELO TREMOR

Com o ser um pouco sonho. A morte deveria ser assim. Um belo tremor sem muito. Um belo robô com dúvidas d'ont. Com beleza azul-prateada-ôntica. Antes de atingir estilo (morte). E diga o verde-louro deste ser pelo que não explica o relógio onde seis corpos metralhados por motoqueiros jaziam deitados na via principal colhendo lágrimas das mães que todo dia botavam ração pros peixes dos aquários dizendo pronto, bebês, comam esta ração nova que comprei. Nem perfumado passo atreve Seu presente ser em beijos De toque cálido. Há jornais sobre o sangue no asfalto absorvendo amor desamor colados no pó deixado por automóveis e passantes aderindo desumanidades rascantes fezes de cachorros secando há dias rolando do canto das calçadas. Há jornais onde seis corpos flechados por índios montados em cavalos de ferro e ronco são afogados em sal de glândulas lacrimais esses seis corpos aguardando ambulâncias que sempre chegam com braços cansados que sempre vomitam

CABELOS DE PRATA

A minha Mãe. Seus cabelos agora são de prata. Seus movimentos sempre foram porto. Nos seus braços, quando eu era mínimo, Minha canoa aconchegava. Mas seu olhar ainda é tão rápido. Consegue ver todos os horizontes E intenções de navios. Nos rios de suas rugas,  ela guarda minha terra do nunca.

LUZ NOVENTA COM FLORES

As mulheres de noventa e noventa e poucos, cem e cento e poucos, são feitas do material de galáxias,  há uns sóis em torno delas:  de luz com flores de tempos transversais. Nunca conheci uma.

FATOS

Lucros:  lacres acres: sauros escroques de terno e arrogância lagartos governam comem as folhas do saber julgam com os lábios do interesse luta no Lácio de classificados disse o dinossauro no bolso da lagartixa sem educação sem saúde sem previdência o imperador não teme os pretores rasteja na parede há uma divisão um ódio contido na torcida sempre gostaram do pão e do circo no estádio dos gladiadores o inverno está se vestindo de noite

AS MU

As mulheres que são chuvas contra ventos insalubres são esperanças,açudes As mulheres insistentes apertam todas as nuvens, vivendo-se todo o ser, As mulheres inclementes gritam para fazer úteis o bem e mal de suas mentes, As mulheres resistentes têm nas veias rios densos e mole ferro nos ventres, As mulheres criativas são verdolengas, astutas, entortando o existente

A PEDRA

Uma mão joga uma pedra, a pedra, lenta, sonda pássaros, e curva o ar, se curvando, de encontro a centelhas, fagulhas de relâmpago, sons de aviões a jato, gritos fragmentados com escuros traços, gritos de alegria com claros entornos, e a pedra vai fazendo uma parábola, parando um instante a que um matemático/físico tire fotos, posando para um poeta antes de ser mais uma em meio ao caminho, imaginando que possa atingir o espaço infinito antes da curva final, a pedra curva o objetivo com destino ao rio da minha aldeia cubatense, e quando atinge a flor da água vai em câmera lenta pelas pétalas dos peixes, peixes bronzeados, com barrigas de tanquinho de óleo e águas servidas, antes de atingir o leito do rio, a pedra sente o fluir das moléculas estrangeiras, o frescor dos restos que negaceiam a boca dos predadores, chegando ao fundo num cansaço extremo de quem já viveu tudo

A POESIA FLUI

A poesia flui. Desliza por teus seios, no dedilhar dos ventos. Mas a poesia pára. Pára em teus seios como um vulcão-ins/tinto. A poesia é tara celeste. A poesia é plasma. Não, a poesia é cara. Cara à tua carne de páramos azuis. Tegumento, a poesia cobre o sumo da essência de teus cheiros. Não, há infinitudes em teus seios. Sim, são inchada loucura. A poesia treme em torta febre para a cura posterior em teus meios. É prisma. Não, ela é figura. Então, que eu disse? Matéria escura? Artéria e fogo. O Deus vivo. Viva Deusa. A Morta Esquina. Careta Brasílica. Coisa azeda. Gostosura. Duro belisco na alma/corpo. Jogo físico. Carência. Fartura. É onda ao vento. É mar de juncos. É o que eu disse. É sempre e nunca. Inutiliza? Desejo? Amplia? Flui em fiascos. E é carne crua. Como teus geométricos pensares... Dura e passa. A poesia que teus lábios auguram desde o começo dos tempos.

ÚLTIMO FIO DE ILAIR

A chuva desabou e a enchente se fez. Ilair pensava estar só.... E estava. mesmo só. Por estar entre ruínas, Chorou da amurada e foi acolhida Sob as asas de Daniel Gilberto Juan, Um anjo-tri de um só coração Escalou a parede Como Deusa 53. Escolheu sua pegada na corda E pulou à busca da sobrevivência. Era o seu objetivo tecer a vida Com os últimos fios de esperança. Só os cães como oferendas  Às correntes lhe causaram dor maior.