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Mostrando postagens de 2012

A FACE DA NOVA COR

Por que solta a rolha no poema mudo o signo arcado? Poema tremido tingindo o vazio vai me anoitecendo. Por que solta a rolha no poema mudo o signo instável? Mito meu, rochoso, não me liga às frestas sempre em fuga líquida. Voam meu destino Belezas de preto Num céu de trigal. Mas ridente é a face Do quadro sempre novo Que se estabelece.

FURÚNCULO NO TEMPO

Sinto que este tempo zomba. Zomba d'eu que sou patético. Zomba de mim mal soando. Parou aqui o poético. A faca suspensa no ar. A colher quase no pólen.. Este segundo parou. Parou mas não quer o solo. Zomba d'eu este segundo. Como posso além chegar? Como posso lá beijar Se cá resto, infecundo? De tanto para o tempo O poema tem furúnculo.

ONDE DONA CHEIRA

O olhar é sema ou meio De amar não sendo e estando. Ela me ama. Pausa. Vou tentar saber a causa. Ela me ama. Ela me odeia. Manterei o estilema? Ela me odeia se estrilo. Ela me ama. E me enfronha. Vou tentar na aldeia o poema. Ela me ama. Ela me odeia. Vou mas sei que. Ela me ata. Ela me ama. Então venho. Minha alma está a prêmio. Ela me ama. Ela me odeia. Temo. Não posso mudar de tema? Ela me odeia. Cena. Ela me ama. Sirena. Sem tempo presse problema. Ela me ama. Ela me odeia. Tem lábios de Iracema. Sua carne é alma e ceia. Ela me ama. Céus! Paradoxo e emblema. Ela me odeia. Revel. Sua atitude de ursa : Ela me prepara o mel. Ela me ama. Entendeu? Arrulha-me como pomba? Ela me ama. Ela me odeia. A raça dela é falena. Sua pele é lisa e crespa, Seus cabelos brancos pretos, Tem seiões que são peitinhos, É bem seca e redondinha, Branca amarela e pretinha, Pura raça e misturinha, Bebe chopinho, sorve aguinha, Tem a face em dieta E tem a face gord

EU DE IMAGEM SONOROSA

Baudelaire fuma na estação um poema-absinto. Intitula seus poemas e os nomeia como s(eu)s. Saussurre sussurra linguagens enroladas num charuto. Na minha imaginação só lhes permito isto. Leio agora quem não gosta da poesia do eu. No tempo da oral palavra O eu a memorizava. João Cabral queria ser engenheiro Mas Severino não pôde pagar a mensalidade. Sempre haverá o eu, o eu, o eu, Será sempre o eu a intitular o poema do não-eu. A poesia nunca acordará sozinha. É preciso uma voz que a lance a outros. O eu a repartir o espanto sempre dará seu canto À revelia. A rosa é uma rosa é uma rosa. Um eu plantou essa imagem sonorosa. Ilusão. Tenho de sair para quebrar o entorno do eu entupido. O eu ao assinar um poema do não-eu:  (EU)pitáfio.

AVE MULHER COM FLASH

Na chuva,  uma mulher  que enquadro  em meus olhos, adro. Sempre nasce  uma música  quando  me debruço  sobre esse quadro. Uma ave  molhada  com flash escorrendo  pela chuva. (A poesia seria mais  simples  se restrita apenas  à pele.)

TEMPO COM MANCHAS

Existir como ser em ruínas? Uma palavra clara para miséria! Pisei o jardim pleno de massinhas vermelhas. Mas as flores sumiram. O cão na faixa de gaza as devorou. Foi gerado por um raciocínio manco. Criado por neutralidades nubladas. Tenho de continuar apesar dos mortos na rua. Confesso que quis parar de pisar jardins. Mas o tempo não voltaria. Hoje, Palestina teve uma esmola da ONU. Se eu enxergasse uma dádiva no homem morto Ou o leão vivo como homem morto Seria mais aceitável num teatro sem paredes. Tenho de continuar em meio aos escombros. Veja como pareço amargobjetivo. Veja como se escondem as tristezas. Veja como os meus pés tortos se escondem. Veja como a parcela de lucro mergulha na foice. E tem um anjo com vitiligo que insiste Em ser bom, soltando pipas e bombas. Quer me colocar na lista de partida. Quer que eu atravesse o muro-mim-mesmo. Tenho de prosseguir. Veja como pareço burguês. Veja como digito no PC, de olho sisudo. Veja como meu nariz se exibe. O sono com vitiligo te

UM RÁBULA COM FURÚNCULO

Assim a fábula do furúnculo: Um rábula de alma zen. Nariz com cravos aduncos. Lembravam-no no armazém. Não comprara alfinetes Para furar-se o homúnculo. Nem comprara estilete, Só um pedaço de junco. E terminou assim: Com o junco fez um cesto, Uma esteira E um assento de cadeira, Esquecendo o furúnculo E sua fábula o rábula De cadeia.

TRAEM ENQUANTO CHUVAS

Traem com tal desfaçatez, Homens sem pombas que são, Apenas para ganhar espumas marinhas. Usam a traição Para triunfar sobre bocas brancas Rastejando paredes com alma enlatada Qual lagartixas ou lata/gartixas. Abusam das costas alheias, A palavra dada é cravada no escuro, São formados em lama e lixo, Profissionais da antiética. Venais, Traem mascando chiclete, Enquanto chuvas caem de pedras Sobre as nossas janelas.

APAGUEM-NO (versão II)

O homem cai no mundo. Dão-lhe cuidados, leitinho, sopinha. Limpam as suas frestas com lencinho umedecido, fraldinhas, Em seguida, fazem-lhe festas, até planos lhe impõem. Primeiro e Segundo e Terceiro e Quarto, etc. etc. todos sabem. Bem depois, se presta, presta. Se não, não. Não sei. Quer dizer: surge de um ventre, em corte. Não é uma pasta (se não lhe passam de jeito). Não dá pra fazer um Ser com ele quando não quer. Às vezes, vira peixe em lata nas conduções e comícios. Não é um quê coisificado (só quando o coisificam). Ou melhor: nasce e cresce. Outros tentam equiparar-se com bengalas de bambu. Outros, sempre de quatro, só aguardam arreios. Outros, na língua esperam outras línguas. - Apaguem-no!, dizem quando decepciona.

DE CORPOS E DE SEDES (versão II)

Quando um corpo vai noutro corpo incorporando, uma dor vai começando, a dor do fim que se aproxima, quando o corpo cansa, descansa, e arranja outra rima para o amor. Quando um corpo tateia a outro corpo, parece uma tempestade que se apruma, que tudo derruba, além das árvores que a floresta do amor insinua em derrubadas távolas. Quando um anjo tem sede de um anjo, há como um preparar de céus e climas, e o tempo avança, avança, avança, sem se concretizar, ambos vitimam o espaço que jamais alcançam.

AMANHÃ

Diz a alma: amanhã é outro dia. Outro começo. Outro fim de mundo. Todos sabem, pelo menos a maioria. Se perdermos o amanhã? As perguntas são simples. Sempre serão simples. O poema é simples porque pergunta. O poeta a mesma coisa. Porque é o poema. É simples porque tem a pele verbal inquieta. Eu tenho uma pele que parece simples. Sangra seiva. Foi com minha pele que defendi a indefensável morte. Que professei religiões que justificavam meus culhões. Que professei religiões que justificavam acima dos meus culhões. É com a pele da mente que escrevo de mil formas. Mente a alma. A alma me é ente. Mente?

DIANTE DAS CÂMERAS

Jasão tava no bar com seu violão Asa Grande. Passa a Fernanda Rosa, filha de um grandão do contrabando. Tinha um bundão de paralisar prosas de alemão. Em casa, Medéia dava um plus nas mãos depois de limpar a bunda do filho do meio. Jasão tava no bar com seu papo vesgo. Passou a Firmina, filha de um patrão do morro fronteiro. Tinha uma cintura e seios pequenos, maneiros, de biqueiras puras, plenas. Em casa, Medéia chapinhava o pelo com o fio do pescoço remendado. Jasão tava no bar com seu pinho pronto. Passou Epifânia, filha de João um bicheiro que a estava esperando. Jasa passa a mão e João marca o cenho faz o sinal da cruz e um capanga apronta o cano. Como era um filme, interromperam as gravações e foi todo mundo comer macarrão. No set, Medéia desmonta a persona e vira Andréia Freitas, atriz da rede, ajeitando o silicone em tempo record.

VAMOS JOGAR

O belo é uma questão  de negar tudo. Metafísica de Descartes. Negar os sentidos. Negar o espelho. Negar o poema. Negar o sonho. Negar a negação. Um é bom. Não. Dois, três, quatro, etc.,  dá bem pra fazer receita poética, participar de júri, dar oficina, e masturbar omeletes entre si. Os lábios literários almejam com gana o efêmero púbis  da mídia? Não? Eis o jogo, a trama. Começa na primeira linha. Vamos jogar, sim? Penso, logo desisto Existir é isso: de existir Se faz o correto viver. Se há o perfeito, há o se.  E se....R?

ORFEU EURÍDICE E O CRACK

Orfeu queria tentar e, por amor (incluso aí tesão), foi até a boca de “crack” ver Eurídice Conceição. Tinha uma intenção: tirá-la de lá. E eis que entrou. Negou, mas, contra a própria vontade, viciou, perseverou e eis que um dia avistou a bela. Porém, cada vez mais longe a Ceição. Ele ia, ela fugia. Até que a décima mulher do dono da boca 90, requenguela, Perzéfa Transsex, operada, gostou de Orfeu e intercedeu pelos pombinhos. Bocão foi bom. Teve galhardia. Disse que Orfeu podia levá-la, mas tinha de pagar as pedras que devia. Orfeu deu-lhe a lira, seu violão ferrado, de quinta. Papo furado, disse Bocão. Tem cor de viado. Não vale um pinto. Está até encupinzado. Falou Orfeu: Mas a meu dindo da Grécia pertenceu. Bocão falou: Tua mulher é minha. Eu uso dela té tê a grana. Mas, Bocão, ela me ama, chorou Orfeu. Provô da pedra, só ama o crack. Vou comê ela! Perzéfa perto cortava um fruto. Gritou: seu puto! Furou Bocão como peneira. Seu sangue em poça desceu o morro.

ENXERGAR

Lua insiste em crateras em cruz. Mesmo depois que usei seus cabelos para recheio dos uivos sagrados. E sua carne e seu sangue para a oferta ao Nada. Mesmo depois que lhe falei da opressão que teimo em fazer testando as armas. Mesmo depois que queimei meus satélites cristãos. Que lhe disse das mulheres oprimidas por igrejas cujos homens são elos entre homens e o Homem/ Pai/ Buda/ Krishna. Mesmo depois que falei da minha tribo de bigodes. Mesmo depois que lhe mostrei tudo que criei em volta da queimada de mulheres. Mesmo depois que mostrei-lhe a marca de seus olhos nas minhas costelas. Mesmo depois. E que parti-lhe os ossos. E que usei sua pele para os abajures.

CAÇOADA RUDE

Chalaça chula, me desculpe. Foi chalaça, Passa. Rechaça. Caçoada rude. Massa. Fiz o que pude. Zombei. Ferrei. Ferrado. Se mude. A cachaça é pura. Fico aqui. Lasso da Flor do Lácio.

VOU-ME EMBORA EM PÁSSO ÁRDEGO

Quem sabe aponte ou pinte em Pequim um peixe em tortura, foto de Pasquim. Quem sabe em Pequim os dragões me levem e tigresas chin me estraçalhem breve. Quem sabe em Pequim deite fogo ou não num pagode em brim, teto de fogão. Não ouvi o mando do infiel mandarim, pois me doem, gritam seis pedras no rim . A Kuan que desejo não escolhe cama, nela darei beijos com sol sobre a lama. Seus olhos rasgados como duas flamas, ao som do flautim, me tatearão. Andarei de burro brabo, sentadinho na garupa, com tetas no selim fazendo upa-upa. E mil musas nuas sob azuis jardins comerão a sós versos-serafins. Me aguarde, então, Passo árdego/Pequim! Em ti gastarei A vida aos pouquim!

VELAS AGUÇADAS

No fora, há quadraturas insolúveis de mínimos in- setos. No dentro, há ritmos que entortam o poeta. O ser - apenas uma jangada de ler rede- moinhos poéticos ao sabor das ondas que furam-lhe os olhos de papel de pão onde aguçam velas mares respirantes.

SANGRAR NAS ÁGUAS

Sonhar a poesia feita da mais pura cruz, Que seja capaz de sangrar nas águas. Sonhar o amor que possa fluir sem dor, Que dos olhos chegue ao real dos fundos, Como o olhar de quem a gente ama, Como sons de sóis profundos. E ela vem se aproximando do poema, Sente o coração cheiros gramáticos. Ela mira o calcanhar da sintaxe. 

SER DE AREIAS ESPUMANDO

Amo-te as praias Que um mar alaga Nas grandes ondas Que te propagam. São sós areias, Grãos ajuntados, Que dão ao ser Doidos estados. Que irão contar poetas Se nos teus gestos sem mais Há conchas, barcaças, Pesadelos tais? Talvez se te apiedasses, Bem junto a tuas praias Nascessem tempestades De espumantes faces!

CULTIVO DE TUA MORTE (reelaborado)

Quando o amado-ameba, Medrado em ferro gusa, Amarrou-te na sua pedra, E percorreu-te as vias obtusas Do fígado da alma. Era a posse, era o desejo, embora Entre esses dois gêmeos haja A distância de um beijo. Esse amado de ferro  Deixou-te de quatro E vibraste, pequena e verde, Ao sentir os pelos do seu ventre. Acostumaste à marra. Pelo menos era omi Como o teu primeiro pai... Entre o omi e o hommmmm Únculo há diferença? Deixou-te de quatro E juncou-te o medo No espírito redondo. Quando terás um HOMEM? Um que queira uma MULHER? Joaninha és ou grilinho? Tua estatura é um engano. Mereces esse homem com pegada, Mereces a culpa que carregas, Mereces esse teto em que te pregas, O sapato que te esmaga, As formigas que te transportam? Não te queria o amor, Queria ter-te nas unhas, E, simpaticamente, Tomou-te os órgãos. Lambeu-te o seco quadril, Cavando, vil, o (in)suficiente No corpo de tua alma Para a plantação dos dentes. Assim os dedos do homúnculo Do

NUNCA ESMORECER

Sempre com o ser de sonhos a marcar com carne. Os pés que rastejam nos cacos dos espelhos. Sempre soltos os anseios de relâmpagos e cometas. Sempre a cabeça dura contra os algozes de verdades às mãos. Nunca esmorecer ante os princípios movediços Dos pensamentos de esquina, cediços.

CELESTIOU-NOS

Olha, dizia-nos o Céu, vou voar sobre vós. E azul escarcéu colibriu nossa voz. De vê-lo fiquei oblíquo, em nós o Céu soou e, todo ubíquo, celestiou-nos. Enquanto isso, mil sóis fluiam e nossos corpos diluíam. Nossas almas de frágeis linhas, tatos suavam, tintas ferviam.

PARA HELLE ALVES E SUA PAZ

- Quem é aquela naquela lojinha Com cabelos de nuvenzinhas? Você fala de Helle, irmã de valor, Ou fala de Helle, mãe que costurou Um grande tapete com fios de valor? - Quem é aquela naquela lojinha Com cabelos enovelando? Você fala de Helle, irmã de Homem, E mãe de Lael, a que derrubou Enormes paredes com verbal espada? - Quem é aquela que caminha lenta e abre a lojinha com paz e contento? Você fala de Helle, irmã de Poema, Que caçou notícias no sul e no norte, No leste e no oeste, onde desse sorte? - Quem é aquela que senta e reflete Sobre a noite ida, sobre o mar aberto, E que traz na alma sonho flor e mel? Você fala de Helle, a que foi pioneira, Mulher, jornalista, que cedo foi feita Amazona andante?

DÚVIDA DE ODOR VERBAL

O rosto áspero, ao raspar na véspera, rasgando os fatos às palavras dando conchas, suor em pérolas, porosos versos do dia-a-dia, o ser repaginando. Ser atingido por mil paradoxos, ser oceano de papel pensante. Chegar ao êxtase hierofante chegando a traços de infante. Sentir o odor verbal da intensa vida: criando semas neste altar risível. Mas se tanto metro hoje é guia e molde, terá lugar o poema irreprimível? Se bem não siga eu completamente, cuspa de lado e escreva em dilúvio. Ser poeta é ser oásis num deserto, e ser deserto num oásis, mesmo em gelo e peste.

ANTES DA FOLHA AMARELAR

Quando chegarmos à velhice, ainda deitar-me em ti, em decúbito, sem caduquice, a que o fluxo súbito da Morte no umbral beba em nossas árvores orvalhadas líquidos desejos de Vida. Sei que podemos mas não devemos perder o último raio de luz, nem pôr de lado ainda nossa cruz. Na reflexão de instantes, podemos restaurar tremores corporais, orarmos em amor de leite , deslizando gestos em tato máximo, ventres e seios apoiando estrelas, antes que o orvalho seque a folha amarelando

UNS FIDAPUTAS

Sócrates foi morto com cicuta e não ligou,  a vida é mesmo curta, continuando..... Sócrates, a falar virtudes a jovens que choravam e não entendiam bulhufas da sua força. Eu não conseguiria. Já pensou? Saber que se vai morrer, por causa de uns fidaputas associados ao governo de linha corrupta, e que talvez dessem uma enquanto assinassem tua morte. Que iria pensar após beber a cicuta? "Essa porra dessa cicuta... Se fosse tequila, ah, se fosse....".

AS PEDRAS SÃO E AS TEMOS

Meu irmão Sísifo, não te magoes, as pedras são nada. Vejo em teu semblante um leve rasgo de paixão por montanhas. E por teus irmãos rochosos que ainda vivem. Querido irmão em dureza, por que arrastar? Crianças e adultos morrem na África, Sem saberem das luzes de Sebastian Sal. Nem todos sentem pena do besouro esmagado, Só o Homem de Lata do Magico de OZ. Por que eu te disse isso? Não sinta pena de rochas. Se quiser, continue rolando-as. Os infernos não estão só nas outras rochas. Também nós os temos em ativa circularidade.

FUNERAIS PARA O COPO

Prender peixinhos de vala  em vidros de maionese. Fiz isso em criança. Deixar na mesa. Pegar um copo, prender a mosca,  lavar, tomar o suco. O copo no fogo trincará. Funerais para o copo ganharão sentido. Recriarão copos novos. Sempre criam. Quem sabe se aprenda a aprisionar moscas de plástico.

VÍTIMAS DO IRAQUE E DOS DE ARAQUE

Recordo agora das vítimas palestinas, das vítimas da África, das vítimas no Iraque, das crianças desnudas em Hiroxima, e vejo monges de raspados côcos venderem côcos em frente da igreja e destruirem coragens com amor. As pupilas de Mefisto matam crianças perfiladas como em boliche. Um bobo ataca pelas costas uma cadela com frio na escada. Tragédias na TV superam as ficções que em breve deixarão de existir. O verborrágico mercado se auto-justifica e não sai de seu opaco vaso sanitário. ..Por que todos esquecem o sangue que pintou a árvore do amor?

ANDAR MORTO (WALKING DEAD)

Penso na minha poesia como se não existissem outras; e eu nunca fui bom de morte como sou de vedação da alma vazante; sei fazer uns bons amigos, um bom café e tenho um bom par de inimigos (mentira) que não sei onde estão, talvez olhando aquele  poema de amanhã que lhes dá hoje asco e afã; Penso como se apenas a minha morte comovesse ou estremecesse ou importasse ao bóson lá na casa de Higgs. Penso que tem de ser rápida a limpeza. Que não quero deixar tripas espalhadas  nem sangue em postas poças. Feito zumbi de seriado americano. Por prevenção, comprem um machado, pois para um zumbi poético morrer  tem de ser cortada a cabeça do poema...(se tem pés não pode ter cabeça?). Um cão com jóias chamado Pacto de mancha negra n os olhos  começa a escrever  a minha história sem sal.

ALÇADO A SER SÓ NO CAOS

Já notou o anti-poema Alçado a ser só no caos, Alheia boca em grafema? Faz devorações que gingam, Dançando vãos estilemas. Mas seus títulos enfermos, Seus diversos tons de doença, E os seus corvos não renegam Voos nos céus mais incertos, A procura de histórias No fundo de nadas que nego.

O GRITO

O grito fura cabelos No espaço do tempo. O grito mede vazios No espaço em silêncio. O grito mexe os ouvidos No espaço sem tempo. O grito faz o óbito Do mito indiferente. O grito instiga o verso No espaço de sempre. O grito insere insetos Entre calmos intentos.

GARRAFA

O erro que venha essencial  e escorregue O erro que venha mal e gere bens no papel O erro que traga  a palavra acertada Como aquela garrafa  que as ondas trazem quebrada na mente das ondas

RESTOS DE À FLOR DA PELE

Deixo você ir, Espaço/tempo Para ver-te por dentro. Deixo-a ficar, Embora à flor da pele. Ou melhor, ir e ficar, O amor pontiagudo nos restos. Fico na esquina de qualquer angústia Onde me esmaga a dor e o prazer Indo e vindo E como ver meu perfil sumir No teu, se desenho com mãos trêmulas? Sim, pode ir... Não, pode ficar...

AMAR A BELEZA

Certo que ama o teatro a ilusão do bem no mal a poesia a música as Artes do prato desde que cheio de um bom pedaço de bife e fritas e chopp de ladinho declarando sua volubilidade virtual às linhas de um bom poema. Amar a beleza das linhas de palavras que nem se sabem deixa este coração desalinhado e leso e riscado de blasfêmias no palco.

NASCI CRESCI

Nasci e cresci me inquietando. Desde sempre perguntando. E quanto mais perguntava, na alma Reta um lado ardendo. Algumas palavras nasceram E me entortaram mais. Fiz túmulos de papel, Mas à dor não deram paz. E fui destoando, toando. Desentranhando, doendo, Entortando o desencanto De atordoar o tempo. Das poesias que fiz, A mais torta é mais feliz.

MAS GANHASTE

Perdeste  mais um  dia disso. Mais um  dia daquilo. Perdeste  mais um risco de arco-íris. Perdeste  ao discar tantas vezes  para Osíris que inexiste sem o antigo. Perdeste  o amarelo e roxo  dos ipês. Perdeste  cantos de pássaros. Perdeste  o verde dos jardins. Perdeste  os amores  que trituram. Perdeste  tempo ao espelho, ficaste empedrada. Perdeste  o caminho que não escolheste. Perdeste  quando negaste o rosto  ao cão da escada, amor verdadeiro. Perdeste  quando viste luz  e ensombreceste. Perdeste  quando não ligaste  à dor de outrem. Perdeste  te desviando  às chances de sorrir. Mas ganhaste quando a amizade  devolveu o que perdeste em nacos de afeto iluminado.

TENTEI NÃO DEU

Tentei prender-te no poema Não deu Tentei subjugar-te na alma Não deu Tentei prender-te entre linhas Na gaiola nos braços Não deu Numa baleia branca Não deu Num tubarão alemão Não deu Numa favela carioca Não deu Na Rede Globo Não deu No BBBrasil Quase deu No livro de tragédias Quase deu No teatro de bonecos Quase No coração tentei Um pouco entraste Escapuliu Foi então que sem querer Querendo Tentei no ventilador de teto Aí deu Consegui E até hoje, quando em suor me afogo, Ligo o ventilador ao máximo Só pra ver-te rodar E adormecer-me em vermelho.

CRENÇA EM FARDOS

Um cheiro de poética grega. Um tal observando uma bicicleta. Faz de conta que não olho a moça em flor. Um carro passa rente à bicicleta. Um outro passa rente a um homem. Ele tem a vista obstruída pelo açúcar. Mas nenhuma dívida com os amigos. Nós dois e mais uns doidos cremos No magnetismo da linguagem. Somos senhores sem vergonha De poetizar Beleza e Podres Humanos. Temos modos diversos de entrelaçar o verbo. Mas nenhuma dívida e muita dúvida Em cada tijolinho de nosso interior. ...Nós acreditamos em fardos.

CACOS DE TEU MEDO

Acho cruel discordar do cãozinho que exige o passeio exatamente às 22 horas. Acho emocionante imaginar-te no abismo por desnudares os céus com as idéias velhas de teu pai. Acho emocionante imaginar-te a morte depois do que coube à verruga em tua alma. Acho emocionante te imaginar sem sapatos sobre cacos de tua alma de espinhos por poluíres a Moldura do Retrato.

O ÓDIO DE MEU PAI PELOS GENERAIS GORILAS

Eu sempre percebi nos olhos de meu pai o ódio supremo aos gorilas que comiam o cérebro da Democracia. (Os Generais eram chamados de gorilas, mas tinham menos coração que King Kong.) Eu sempre percebi nos dedos de meu pai o inchaço do ódio quanto aos gorilas que cresciam das ervas daninhas em torno dos justos. Eu sempre percebi aquele ódio que pensei ser contra mim.

INCRÍVEL FOME

Certos tons me dão uma fome incrível. A saliva aumenta e o estômago idem. Tento não olhar essas pautas vivas, Mas desde a infância sou fraco à música. Na mesa, uma faca de fio cego. Há sangue de SER por toda parte. O prato melado e sujo de harmonias. E as sobras no dente a gerar chiados.

MURO DO UNIVERSO

Um anjo da guarda urra durante trovões. Talvez o meu, cansado de espremer o pus da alma. Descrente até que chegue a noite que se aproxima. Anjos sangrando fazem chuvas ácidas. Só enxergo rubis caindo. Tendo um olho canino, o anjo que urra se fere  com pedaços da via láctea, enquanto uma mãezinha  joga bebês pelo muro do universo.

DE CIMA O CORVO DE JORIE GRAHAM

O corvo dos girassóis cai de meus fios Deixando curva a escuridão. Vem vindo como expectativa negra De cima feito míssil. Não é estranho caída assim tão ébano Na vulva rápida do abismo? De olhar assim pra cima o projétil negro, Uivo a partir das dobras do pescoço. Demora o corvo nas asas dos versos Até sua última hora. Será para sempre a integridade negra Sem nunca chegar ao fim d'abismo/eu?

NOJO NONADA

Se você olhar na dobra dos olhos você verá. Aquela mínima de pele acima das pálpebras. Ali se esconde aquele pai irado e bêbado. Quem sabe, a mãe drogada fluorescente. Se você olhar verá o que é impossível esconder. Marcas de quem lhe pôs objetos de ponta. Os dedos do avô, noivo, tio, paizinho? Naqueles sinais do ventre e perto do púbis. Quase escondido um ponto de lágrima você verá. Só juntar dois olhos para ver lagos de horror. Só por ostentares moral casta, cravo-te Os dentes deste poema no teu nojo nonada.

DA AUSÊNCIA DE CULPA DAS MULHERES RISONHAS

Aquela mulher entra na igreja  onde homens  intermediam Deus,  esquecida ela  das inquisições  que mataram mulheres por dominarem as ervas  por andarem  de peitos livres  dentro de casa e por dançarem alegres, por terem luz  cativante  nos olhos e úteros belos  como o oráculo de Delfos. Quando mulheres  foram queimadas  veio o medo  e outras mulheres deixaram de cantar nuas dentro de si. E gotas mínimas  de descanso à dor se foram. Embora sempre a esperança  da volta da ausência de culpa. Um dia disseram uns caras: - Cubram de terra  as costelas daquela mulher! E no outro as restantes  engordaram  para cobrir as costelas.

SEI POIS PESQUISEI

Eles têm línguas espessas. Elas são gosmentos peixes de ferro. Eles e Elas são leves como a inexistência. Sei disso pois fiz pesquisa em todos os nossos arquivos. Abri um processo de número zero. Endereçado ao Eu Tu Nós Vós.

MESTRAS

a pedra me ensina sem permuta a ir por via das dúvidas juro duro surgir pensar esmagando o ar vir pelo lado jurando sólido a lamber  os beiços da língua portuguesa são pro poema a prender o vento a copiar o mar juro que idéias são mestras duras e sem pena no teclado

QUEBREI ESOPO

Já quebrei as mandíbulas de Esopo com as águas que jorram de meu esquadro buscado na inevitável enchente de violência no começo do século quando todos eram bichos de cartola e não ligavam a esquadros que soltavam águas que casavam com fogo e não feriam.

NI AO MAR NIEMEYER

Oscar foi nadando nadando  Até que dominou as ilhas de papel. Traçou linhas de vida nas pedras. E com sua poesia curvilínea Entortou as retas dos rochedos, Gerando com suas curvas  Mulheres feitas de pra-sempre. Ni ao Mar. Niemeyer.

INCENDI(EU)-ME

Veio o poema sobre mim. Recebi-o pele adentro. E foi assim: faiscou, Fogueou o verso, intenso. Esperava o quê? lirismo Surpreend(o)eu, a ter-me. Quase à morte, bem febril, Queimando: o centro-ser. Foi na alma que se deu: "Gauches" graus: incendi(eu)-me.

DATA VÊNIA POR OBSÉQUIO - poema antigo revisto

Com a alma "down" e corpo incerto, o poeta solicita, presto, listagem de todos os poetas lidos por cada um dos que tem o hábito in(útil) de ler poemas destes vagabundos. Que sejam sublinhados os poetas em desvio de função. E os prontuários de todos os escritores exonerados a bem do serviço poético sejam a mim enviados. Que mandem a mim também os currículos dos poetas e escritores aposentados. De poetas de confiança, desconfio. Quero ver as feridas e ouvir seus gritos p ara acreditar na Poesia Sua q ue bem entrou em minha Cuba levando às mãos palmas de ouro. Para acreditar piamente, Tenho de ver chagas, os dentes de suas palavras doentes marcando o espaço em branco (detesto poetas e saltimbancos!).

QUANDO RESSURGISTE

Quando ressurgiste, os reis tinham morrido. Teus lábios já eram outros. Não abriam mais os solos. Não provocavam  mais tempestades. Não despejavam  mais gases tóxicos. O poder era só o da vida efêmera.

PRANTO DO ATOR

Assim, chorou o ator, em primeira atuação, quando o pano descerraram. Na platéia, surda velha escutava a todo pio. Bateram em sua bunda, de cabeça para baixo, e ele chorou como nunca, porém bem mais choraria. Puseram na sala ao lado. Ele ansiava por Ela, a Diretora Geral, Mãe de belos odres plenos. Quando ela se aproximou, carinhosa como sempre, ele pulou com furor: cravou gengivas de pedra naqueles odres em flor. Esvaziou-os até ficarem murchos de dor, só que se encheram de novo, e ele esvaziou-os, e eles bem mais inflaram, e ele os desinflou, branco espedaçado em sangue, e assim foi se instaurando um hábito inarredável de mamar e desmamar, sob o sol cotidiano, cada ano seu de vida. Terminou sem os tapinhas, sem aplausos, ovações, no mesmo leito que havia.. O teatro cheio de mofo, A velha surda no estofo E a comadre gris vazia.  

TRILHA DE LESMA

Há alguma in(certeza)? Muitas, né. Hoje, acordei como se tivesse em susto diante de um papel em branco, onde faltava um pontinho inalcançável. Ao dedo, que, no calor, molhava o que fosse secura de conceitos. Lembrei-me dos primeiros dias, o caminho como trilha de lesma. Era de estilo, talvez o meu visgo tenha feito escorregar até caramujos antigos. O ego ainda insiste em rezar e traçar sinais além-de-si. Tem de ver o si. O si.

ÓRBITAS EM MEIO

Vários olhos cegos nesta Data-do-Papaizão. Jorram anseios no Iraque do Cidadão Com Filhos. Quem responderá perguntas sem lábios? Olhos de vazio portam desespero e projéteis, Rodam a chave no buraco dos morros De Lugar-Algum para Nenhum-Lugar. O cão-filho destroça  Uma menina abandonada Com pontas de pneus incendiados. Lembrando árvores de escuridão, nos perdemos Em caminhos com cinderelas golpistas.  Há muito somos sufocados sob sacos plásticos, E os homens continuam tendo esperanças Embora sonhos sejam interrompidos Por pedidos de identificação.

LUZ DO MEU NATAL

Logo o dia de Natal Chegará, rindo e sem pressa. Virá andando, normal, Longe da minha travessa. Os mais ricos salafrários Esperando a ocasião Comprarão presentes caros Às crianças do salão. Sempre tem bons milionários que darão de coração presentes aos desprezados pelo sistema fujão. Haverá pobres também que embora sem dinheiro farão pelos outros pobres o que lhes fez Deus primeiro. Pensarão num bom menino Ao longe, irradiando paz. Sem saberem que está perto Desde os tempos de meus pais. Brinca com a minha cadela, Rasga o meu bom sofá, E esquece as coisas sérias No que vive a maquinar. Ontem subiu no telhado. Dei-lhe bronca, ele sorriu. E no seguinte minuto Voltou, caiu, se feriu.... Hoje, viu menina bela, Sem saia pra levantar; Então, entregou a ela Seu pipi pra segurar. Esse menino Jesus Foi Pessoa que me deu. E no Natal dá-me choques, Eletrocutando o eu.

SOB URNAS

Eleições começam. Em Cubatão faz tempo incrível. Minto. Em mim há entronizações de Pessoa. Penso numa paisagem com pai, mãe, e irmãs. Penso em três grandes amigos: UM, DOIS E TRÊS. Penso em outros grandes amigos: lista infindável. Se é infindável, por que comecei com três? Depois eu me respondo, pois eis que está chegando. Todos riem, se abraçam, pegam crianças no colo. Mesmo em Cubatão isto é incrível. Em casa há uma árvore modesta. Debaixo dela haverá presentes sob luz piscante. Mas, antes, há que regateá-los nas urnas. Penso em três desejos. Depois, em milhões De desejos que se realizarão no pensá-los. Mas a alma está enorme com um santinho de OZ.

AGORA CAIO E PENSO

Agora, é tarde. Mancha o café? Do que falamos? Não deu, nené? Não deu mais pé. Apenas pó Do que largaste Aqui, sem dó. Agora, penso: Se voltássemos? Prevíssemos? Nos vestíssemos? Estendêssemos... Mas... Voltarmos A ver sinais? Agora, caio. Tenho, em mim, O verbo atroz. O que faço? Foz?

TEOR EXPLOSIVO DE UMA AMIZADE

Quando conversaram, Não notaram o rumo Da amizade aprisionante E fizeram dela bomba errante. Quando a amizade cresceu, Entreabrindo a flor excelsa, Um cachorro viram na rua E imergiram-no, cúmplices, Num caos de gasolina. Assim, o teor explosivo  de uma amizade entre vermes. O cachorro era um homem?

PROCURA

Rios plenos e escuros de tragédias e lixos abrem os ouvidos às árvores oblíquas de deuses mortos, antigos. Inadmissíveis teses jorram ausências de vida. José procura a filha, entre cotonetes com algas, nos ouvidos do deus que sobrou na ressaca da última guerra urbana.

BANGO BENGO

Fui ao Bar do Bango, comprei pão e pato. Quando acordei, era um sonho! Saco! Fui ao Bar do Bengo, comprei pato e pão. Outro sonho. Acordo e estou eu doidão. Durmo nesta cidade, onde o Bar do Bango é torto, pertinho do Bar do Bengo, e um sonho é dentro do outro.

AMOR À LÍNGUA

Ardor e dor! Sentir assim: Flor de papel Num não-jardim! Oh, escutá-la! Oh, seu latim! Mágico tom! Dói-me o flautim! Oh, rodeá-la! Gume em meu traço! Oh, sempre ansiá-la! Flor do Parnaso! Oh, Língua, Vida! Se orgasmo em Ih, Me fala um Ah E me diz sim!

A ALMA SABE

O corpo, diante do amor, fica líquido, escorre entre gestos. Mas, porque a alma quer. Pois se não quiser, o corpo solidifica, vil carcaça. Não é tão fácil entender o corpo. Não é tão fácil dominá-lo. A alma colocada no umbigo sabe e vira orgasmo corporal. E delira, quebradiça, No vidro do verbo.

VISÃO

o ingente de ti: 1 te aproximas com oceanos nos lados.. 2 posso perguntar-te de onde o maremoto de tualma? 3 falam que teus olhos gemem nas ilhas cercadas recheando hinos de corais com a febre do sexo. 4 falam que teus olhos possuem navios-fantasmas e apelos às antigas bacantes... 5 e bates as nadadeiras feridas por pensamentos pontiagudos no corpo nu..

SE EU TIVESSE O VIOLÃO DE MANOELITO

Recordo-me, primeira namorada, a tua negra face de angolana, os teus olhos de luar enevoado, onde imagens de luz se acantonavam. Recordo-me aquele amarfanho Nos lençóis das moitas, pinicáveis. Recordo-me do andar equilibrado, o modo de agachar-te: roupa justa, custodiando o ardente céu do sexo, molemente, ´pondo sátiros no arbusto. Se eu tivesse o violão de Manoelito Estarias em apuros, Deusa Núbia.

PERDIDO GOL

Quando cheguei aqui,  pediram-me um poema dócil. Disseram-me: se és poeta,  um poema dócil é fácil. Apesar dos pedidos,  não larguei o grácil fóssil dos poetas muito mais antigos  que o Eufrates. E chutei então  de meu dom-com-tosse a possibilidade do fácil. Fizeram um tumulto  de barroco impacto. Simples é a pele  que tem tato de físsil. Foi o que eu disse e ficou longe o que era simples.

ME DÓI O QUE VEM

Me dói o que vem e não verei Me dói o que já veio e não vivi Me dói e sofro rindo a dor que sinto E minto onde há palco por sentir Essa dor que pinto embora a tinta Esteja embora ali vem de mais longe Ao alcance não da mão extinta Mas do verbo em mim de não sei onde

ACENDER A CHUVA APAGANDO

Tudo que marquei e amei de letras e auroras procurou impossíveis. No delírio, a ponta do abraço desejado envolvido pelo vulcão de explodir o eu. O que não tateei senão uma vez constrói peles fingidas. O que não conclui na vida finjo na estrada de papel. Desço a irrefreável via. Renascer no intervalo. pular a janela escancarada. Salto ornamental no mim-mesmo. Pintar, respondendo ao vazio do cheio que não se cumpriu. Esquecer que sou  a fuga permanente dos passos de impossíveis que se afogaram. Esquecer que fui mas já não me lembro. Apagar, fechar os olhos e acender a chuva apagando.

CHEIRO PÓ DE PALAVROÍNA

Bate o vento na letra/dádiva, sacudindo o pó. Assim, me refestelar: cheirar pó de palavroína. Às vezes, sou pouco profundo e de extremos: Ovo frito e aminoácido junto à poeira. Ouço ao som da tempestade/dentro palavras fervendo. Meu barco desenvolve rastros de Sylvia Plath sob a língua. Seu suicídio teve cortinas. Mas seus poemas eram barcos livres. A coragem pisoteei sobre o cavalo morto de Nietzche. "On the r'ovo" foi uma viagem que fiz à cozinha. Por vezes, minhalma é extrema poeira. Aumento assim o tríceps do poema e como musas. Palavroína...Alguém tem mais pó, aí!

TRIGO ANTIGO

Eu fiz este poema antigo como suave missão. Jorrou, como fosse trigo de medieva plantação. Senhora, sentido e fruto, o tempo não joga dados, esta tua barriguinha ainda provoca fados. Senhora, que ri pra vida, num passado de varandas, tens no não-querer poesia a que meu querer ciranda. Esse ar de Deusa Antiga, ao vento, rouco veludo, inspira, Senhora minha, a Vida por quase tudo. Quando ris, Senhora e Arcanjo, pulando seio e risada, me faz querer novos banjos pra tocar-te sem parada. E como não passo de um poeta (in)consequente, piso e furo o pé do verso, gritando feito um demente.

NUNCA E SEMPRE RESPIRAR

Eu já naveguei por mares oníricos. Avistei praias que me ensinaram areia. Mas aquela sereia que ali morre Numa esquina com jornais-morango, Neste não-onírico mundo na sarjeta, Mostra guelras dormentes de violência Aos meus olhos feitos de letras com pontas. Outra vez me encontro a regurgitar nos papéis. Fico fragilizado diante daquela sereia que ali morre. Meu coração é frágil como um filhotinho. Em meu ser todas as fontes têm poder. Ela quer me impedir de olhá-la com minha solidão. Logo eu que só sei viver assim. Com solidão consigo me mover por fora. Consigo dizer olá com ódio. Consigo matar baratas. E me sentar para preencher processos de horas Cheios de pedidos e revisões de relógios/cérberos. Sem amor consigo segurar a caneta. Caneta que o ser sempre enche de tinta neutra. Sem amor consigo dizer que não consigo senão amar. Eu já naveguei remando com palavras escuras. Tropecei em ondas odiosas que me ensinaram. Corais me ensinaram deste amor vermelho Em

ENTRE OS DENTES DO URBANO

Repensar sobre o começo leva tempo mas Facilita o andar entre roupas velhas. O anjo cagado falando entre os dentes Solta cinza e cheiro de asas queimadas. Há garrafas quebradas, pelo molhado. Deus(a) escorrega e perde o braço direito Esmagado por uma máquina. Cresce Outro braço afinal ele(a) é Deus(a), Muitos a pensar de andar torto O(a) adoram querendo céus. Ninguém entende sua solidão. Trôpegos albatrozes no óleo urbano. Cobertores com pulgas e carrapatos. Raciocinar tocando nos oceanos simultâneos, Até que os tempos terminem em execução. A cabeça com uma mordida de pitbull. Andar birolho sobre os ponteiros Em potência e fúria e poeira. Ler o jornal. E se muita coisa atingir de soslaio Fazer um jardim. Há argamassa para as muretas. E aqueles miolos fazem um bom adubo.

VINHO SOBRE LÁBIOS

O desejo sempre à espreita empurra-nos aos olhos suas cores supostas, abrindo-nos suas costas. Queremos pô-lo a correr, mas pesa sua prosa. Regozijamo-nos em suas curvas oleosas. Ele vem e rouba-nos vontades, verdades de alfarrábios, derramando o vinho sobre nossos lábios. Folgando nos sentidos, marca com sentenças remoinhos nas praias a que a paixão nos vença. Quando o desejo elevou-se no cômoro das deusas serviam paixão nas tábuas dos desmandamentos.

A FRASE QUE NOS LIGA

A frase que nos liga É corpo ou não? Anexo em libido Ou tecla o imo? Delírio ou jardim De amora e romã Ao mar do fim? É tico- Roman? Român- Tico é? Intimista de estilo Ou demora em castelos De lagos de vidro? É de estilo avesso? Ou ora ao pleno encanto O seu molde carola E barroco? Sei do tremor que rege A frase que nos liga em eterno coma

EM TEU CORPO/ÓASIS

Quando veio vindo O teu pé direito, Pressenti no arrasto O teu lado esquerdo. Quando foi surgindo, Não, minto direito; Teu vulto foi vindo, Fez o Caos perfeito. Quando então chegaste, Vi como tu eras. E me antecipaste Sóis de primaveras. Quando o nosso teto Caiu (é mentira)... Sempre deste o veto À minha fantasia. Deus deita na areia, flutuando as bases, querendo enterrar-Se em teu corpo/oásis.

AUTONOMIA DA MULHER

Quantas vezes as queimamos!? Quem sabe o próximo conceito que as vestirá? Descobertas em suas imagens de luz são seiva à árvore do quando-acordarem. São a libertação deste tronco. Então, que tenham próprios espelhos. Outros, mas do Sagrado da Vida. Sair de nosso labirinto: machados fálicos, até que possam devolver-nos as pedras.

O ARTISTA INFAME (OU FASCISTA)

POEMA REFEITO DE UMA QUINTA-FEIRA, 13 de setembro de 2012 TERÇA-FEIRA, 27 DE NOVEMBRO DE 2012 O ARTISTA INFAME (OU FASCISTA) POEMA REFEITO DE UMA QUINTA-FEIRA, 13 de setembro de 2012 - Bater nos ídolos! Bater nos ídolos! - O mendigo repete para seu grisalho bigode. O artista fascista é o reverso de si. Transforma em lenha o próprio feixe. Feixe de verdades de outros. Sua moral é a da Morte. O artista fascista não se move sem interesses. Sua finalidade não é ir para além de si-mesmo. Se auto-flagela com o suor da própria nudez. Pois sempre quer permanecer. Traz a máscara aderente ao ser. Beneficiado pela Botina, faz orações pela Botina. O artista fascista não lê o mundo. Por que o artista fascista é o doce vencido do sistema. Neste momento parece que vejo sua devoração. Não dá mais pra sair dos dentes de Sist, o Monstro. Vem montado no cavalo chamado Alienação. Com sua burca moral ocidental, fala bem. Pronto desde o berço pra Ordem Unida do Antipensar.