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Mostrando postagens de novembro, 2012

A ALMA SABE

O corpo, diante do amor, fica líquido, escorre entre gestos. Mas, porque a alma quer. Pois se não quiser, o corpo solidifica, vil carcaça. Não é tão fácil entender o corpo. Não é tão fácil dominá-lo. A alma colocada no umbigo sabe e vira orgasmo corporal. E delira, quebradiça, No vidro do verbo.

VISÃO

o ingente de ti: 1 te aproximas com oceanos nos lados.. 2 posso perguntar-te de onde o maremoto de tualma? 3 falam que teus olhos gemem nas ilhas cercadas recheando hinos de corais com a febre do sexo. 4 falam que teus olhos possuem navios-fantasmas e apelos às antigas bacantes... 5 e bates as nadadeiras feridas por pensamentos pontiagudos no corpo nu..

SE EU TIVESSE O VIOLÃO DE MANOELITO

Recordo-me, primeira namorada, a tua negra face de angolana, os teus olhos de luar enevoado, onde imagens de luz se acantonavam. Recordo-me aquele amarfanho Nos lençóis das moitas, pinicáveis. Recordo-me do andar equilibrado, o modo de agachar-te: roupa justa, custodiando o ardente céu do sexo, molemente, ´pondo sátiros no arbusto. Se eu tivesse o violão de Manoelito Estarias em apuros, Deusa Núbia.

PERDIDO GOL

Quando cheguei aqui,  pediram-me um poema dócil. Disseram-me: se és poeta,  um poema dócil é fácil. Apesar dos pedidos,  não larguei o grácil fóssil dos poetas muito mais antigos  que o Eufrates. E chutei então  de meu dom-com-tosse a possibilidade do fácil. Fizeram um tumulto  de barroco impacto. Simples é a pele  que tem tato de físsil. Foi o que eu disse e ficou longe o que era simples.

ME DÓI O QUE VEM

Me dói o que vem e não verei Me dói o que já veio e não vivi Me dói e sofro rindo a dor que sinto E minto onde há palco por sentir Essa dor que pinto embora a tinta Esteja embora ali vem de mais longe Ao alcance não da mão extinta Mas do verbo em mim de não sei onde

ACENDER A CHUVA APAGANDO

Tudo que marquei e amei de letras e auroras procurou impossíveis. No delírio, a ponta do abraço desejado envolvido pelo vulcão de explodir o eu. O que não tateei senão uma vez constrói peles fingidas. O que não conclui na vida finjo na estrada de papel. Desço a irrefreável via. Renascer no intervalo. pular a janela escancarada. Salto ornamental no mim-mesmo. Pintar, respondendo ao vazio do cheio que não se cumpriu. Esquecer que sou  a fuga permanente dos passos de impossíveis que se afogaram. Esquecer que fui mas já não me lembro. Apagar, fechar os olhos e acender a chuva apagando.

CHEIRO PÓ DE PALAVROÍNA

Bate o vento na letra/dádiva, sacudindo o pó. Assim, me refestelar: cheirar pó de palavroína. Às vezes, sou pouco profundo e de extremos: Ovo frito e aminoácido junto à poeira. Ouço ao som da tempestade/dentro palavras fervendo. Meu barco desenvolve rastros de Sylvia Plath sob a língua. Seu suicídio teve cortinas. Mas seus poemas eram barcos livres. A coragem pisoteei sobre o cavalo morto de Nietzche. "On the r'ovo" foi uma viagem que fiz à cozinha. Por vezes, minhalma é extrema poeira. Aumento assim o tríceps do poema e como musas. Palavroína...Alguém tem mais pó, aí!

TRIGO ANTIGO

Eu fiz este poema antigo como suave missão. Jorrou, como fosse trigo de medieva plantação. Senhora, sentido e fruto, o tempo não joga dados, esta tua barriguinha ainda provoca fados. Senhora, que ri pra vida, num passado de varandas, tens no não-querer poesia a que meu querer ciranda. Esse ar de Deusa Antiga, ao vento, rouco veludo, inspira, Senhora minha, a Vida por quase tudo. Quando ris, Senhora e Arcanjo, pulando seio e risada, me faz querer novos banjos pra tocar-te sem parada. E como não passo de um poeta (in)consequente, piso e furo o pé do verso, gritando feito um demente.

NUNCA E SEMPRE RESPIRAR

Eu já naveguei por mares oníricos. Avistei praias que me ensinaram areia. Mas aquela sereia que ali morre Numa esquina com jornais-morango, Neste não-onírico mundo na sarjeta, Mostra guelras dormentes de violência Aos meus olhos feitos de letras com pontas. Outra vez me encontro a regurgitar nos papéis. Fico fragilizado diante daquela sereia que ali morre. Meu coração é frágil como um filhotinho. Em meu ser todas as fontes têm poder. Ela quer me impedir de olhá-la com minha solidão. Logo eu que só sei viver assim. Com solidão consigo me mover por fora. Consigo dizer olá com ódio. Consigo matar baratas. E me sentar para preencher processos de horas Cheios de pedidos e revisões de relógios/cérberos. Sem amor consigo segurar a caneta. Caneta que o ser sempre enche de tinta neutra. Sem amor consigo dizer que não consigo senão amar. Eu já naveguei remando com palavras escuras. Tropecei em ondas odiosas que me ensinaram. Corais me ensinaram deste amor vermelho Em

ENTRE OS DENTES DO URBANO

Repensar sobre o começo leva tempo mas Facilita o andar entre roupas velhas. O anjo cagado falando entre os dentes Solta cinza e cheiro de asas queimadas. Há garrafas quebradas, pelo molhado. Deus(a) escorrega e perde o braço direito Esmagado por uma máquina. Cresce Outro braço afinal ele(a) é Deus(a), Muitos a pensar de andar torto O(a) adoram querendo céus. Ninguém entende sua solidão. Trôpegos albatrozes no óleo urbano. Cobertores com pulgas e carrapatos. Raciocinar tocando nos oceanos simultâneos, Até que os tempos terminem em execução. A cabeça com uma mordida de pitbull. Andar birolho sobre os ponteiros Em potência e fúria e poeira. Ler o jornal. E se muita coisa atingir de soslaio Fazer um jardim. Há argamassa para as muretas. E aqueles miolos fazem um bom adubo.

VINHO SOBRE LÁBIOS

O desejo sempre à espreita empurra-nos aos olhos suas cores supostas, abrindo-nos suas costas. Queremos pô-lo a correr, mas pesa sua prosa. Regozijamo-nos em suas curvas oleosas. Ele vem e rouba-nos vontades, verdades de alfarrábios, derramando o vinho sobre nossos lábios. Folgando nos sentidos, marca com sentenças remoinhos nas praias a que a paixão nos vença. Quando o desejo elevou-se no cômoro das deusas serviam paixão nas tábuas dos desmandamentos.

A FRASE QUE NOS LIGA

A frase que nos liga É corpo ou não? Anexo em libido Ou tecla o imo? Delírio ou jardim De amora e romã Ao mar do fim? É tico- Roman? Român- Tico é? Intimista de estilo Ou demora em castelos De lagos de vidro? É de estilo avesso? Ou ora ao pleno encanto O seu molde carola E barroco? Sei do tremor que rege A frase que nos liga em eterno coma

EM TEU CORPO/ÓASIS

Quando veio vindo O teu pé direito, Pressenti no arrasto O teu lado esquerdo. Quando foi surgindo, Não, minto direito; Teu vulto foi vindo, Fez o Caos perfeito. Quando então chegaste, Vi como tu eras. E me antecipaste Sóis de primaveras. Quando o nosso teto Caiu (é mentira)... Sempre deste o veto À minha fantasia. Deus deita na areia, flutuando as bases, querendo enterrar-Se em teu corpo/oásis.

AUTONOMIA DA MULHER

Quantas vezes as queimamos!? Quem sabe o próximo conceito que as vestirá? Descobertas em suas imagens de luz são seiva à árvore do quando-acordarem. São a libertação deste tronco. Então, que tenham próprios espelhos. Outros, mas do Sagrado da Vida. Sair de nosso labirinto: machados fálicos, até que possam devolver-nos as pedras.

O ARTISTA INFAME (OU FASCISTA)

POEMA REFEITO DE UMA QUINTA-FEIRA, 13 de setembro de 2012 TERÇA-FEIRA, 27 DE NOVEMBRO DE 2012 O ARTISTA INFAME (OU FASCISTA) POEMA REFEITO DE UMA QUINTA-FEIRA, 13 de setembro de 2012 - Bater nos ídolos! Bater nos ídolos! - O mendigo repete para seu grisalho bigode. O artista fascista é o reverso de si. Transforma em lenha o próprio feixe. Feixe de verdades de outros. Sua moral é a da Morte. O artista fascista não se move sem interesses. Sua finalidade não é ir para além de si-mesmo. Se auto-flagela com o suor da própria nudez. Pois sempre quer permanecer. Traz a máscara aderente ao ser. Beneficiado pela Botina, faz orações pela Botina. O artista fascista não lê o mundo. Por que o artista fascista é o doce vencido do sistema. Neste momento parece que vejo sua devoração. Não dá mais pra sair dos dentes de Sist, o Monstro. Vem montado no cavalo chamado Alienação. Com sua burca moral ocidental, fala bem. Pronto desde o berço pra Ordem Unida do Antipensar.

QUEM QUISER QUE CONTE

Há poemas para todos os gostos Há poemas antológicos ontológicos Há poemas em que aposto E nem todo mundo gosta. Há poemas para todas as ruas Há poemas para todas as danças Há poemas em que insisto E nem todos gostam disto. Há poemas que abrem todas as portas. Há poetas que sempre estão no aperto. Quem quiser que conte cinco tortas. Eu como quatro.

FRATERNIDADE

Brancos que assaltam são meus irmãos. Negros donos de empresa (poucos, sei) são meus irmãos. Amarelos que brilham mais que o sol são meus irmãos. Vermelhos que se consomem em paixões são meus irmãos. Roxos que se picam de tristeza tumular são meus irmãos. Verdes peles que mais reverdecem são peles irmãs. Azuis que se pintam de céu sempre que podem são meus irmãos. E os pintados de assim por diante também o são.  

QUE DEUS SEREI?

Se eu encher este poema, Estarei me exibindo como popular? Se eu encher este poema de Mulher, Estarei mulherengo? Se eu encher este poema de volúpia, Serei um erótico mostrengo? Se eu encher este poema de pão, Serei padeiro? E o sentimento? Que sinto e não tenho... Ou se tenho, não o sinto.... Se eu encher este poema de moedas terei um cofre?

MÃE E PAI

O meu pai tinha um caminhão. Caminhou muito de Ouricuri pra cá. Minha mãe tem um coração Maior que qualquer caminhão. Até maior que o Universo Saudade do colo de minha mãe, Onde eu podia ser menos egoísta. Saudade do cordel de meu pai, Das proezas de João-Acaba-Mundo, Em seu confronto com meu universo.

UMA PALAVRA

Anteontem, me encantei com uma palavra. Fiquei molengo como nunca se viu. A palavra tinha tal poder Que ajardinou o dia vazio. Você me pergunta qual é a palavra? Você sabe, vai dizer que cê não sabe?

QUANDO ACREDITARÁS

Quando um dia sem escrever? Quando deixar de me buscar? Quando deixar de fotografar naufrágios? Quando deixar de pisar nos espinhos de propósito? Quando deixar de lado o ser-relógio? Quando essas águas-vivas deixarão de queimar?

FINDO O DIA.

Sei que o poema é dos antigos. Não tem frase curta e hermética. É que o tempo está tão simples à volta da minha vida. Críticos novos me flecham a verve com poemas instáveis e loucos.... Badalam bronzes em meu cerne. Livre, um sonho uiva pra lua. A tristeza que colhia até há pouco estava aqui desde o nascimento. Saiba, coiso-leitor,  que o tempo está solar à volta de minha rua. Traz angelical aroma, qual sinto, soma harmonias, e dá mais cor à redoma que me faço, findo o dia.

CRUCIFICADA

Ela foi crucificada Na cruz em que ele pensa que morreu. No monte em que ela foi assassinada Só um verso pequenino enrubesceu. E assim a gente vê O quanto ele obscureceu-a Com suas crenças patriarcais.

NO PALCO A PROMESSA

Algo, de natureza sacra e profana. Assim, talvez se alterem as coisas. O ator de uma lágrima, o Prometido, O que havia de vir para redimir. E então não haverá mais desarmonia. O palco será o centro da festa. Brincaremos com os olhos dos antigos E os mascaremos, antropofagicamente.

PERTO E LONGE SEM TI

Estar longe de ti somente um dia É muito, mas começo para ter-me. Estar perto de mim a eternidade Desequilibra a alma, se esquecer-me. Estar? dificuldade que me afia. Ser já é em dúvidas quedar-me. Vigio na intenção de não perder-me. É te largar um modo de encontrar-me? Voltar? Não posso. Está passando o tempo. Só não sei onde, sei que é mais destarte. Se o tempo pára, sei que paro em ti, Amando ausente, mesmo a festejar-te. Sim, bem-amada, deixa o ser chorar-te. Cruze por terras muito, embora tarde. Estar perto de mim a eternidade, Sem ti, é como estar longe da Arte.

AMOR PELAS MARGENS

Quando meu corpo morrer no teu. Quando minha alma nascer no inverno. Quando meu corpo morrer incréu. Quando o ser meu morrer no breu. Quando tudo for de mar e aurora. Quando ouvirmos sinos sandeus. Quando os rios nos fluírem antes. Quando as águias cobrirem cimos. Quando o jacaré abrir a boca em flor. Quando as plantas conversarem. Quando o amor deitar no Todo. Quando as placas se amarem. Quando as pedras se enfrentarem. Quando os pombos panificarem. Quando o teu rosto for de osso. Mesmo assim o Poema Esperado Cumprirá a Profecia de florir As margens da aldeia  Dos anjos rebeldes.

TALVEZ QUANDO ME AMARES

Vens, talvez num trem, talvez no ar, no mar, e o aguardo é eterno, mesmo porque não é no real que te espero. Aguardo-te no incriado, no antes do real, antes da criação do abismo das águas, antes da nomeação de todas as coisas, antes da língua da existência se estender ao Todo. Vens, talvez, a te arrastares no tapete, ou a me mostrares a última canção das feras, ou quem sabe, ainda, pendurada no lustre, a declamar odes ao enredar do corpo e a citar as cores mais ardentes da aurora ...

PARA A ENCENAÇÃO DE SÃO VICENTE

Mar, tu mesmo, aí deitado, de olhar jovem-sempre,  entre o verde e o azul,  o que trazes em tuas águas  que não diviso com facilidade? Conchas, ventos, sal, tronos de pedra,  o que tens de superficial e profundo,  exibes para um céu azul e imenso! Esta atração pelos teus sons,  quiçá venha de uma idéia submersa  que observa os homens desde tempos arcaicos. Eis que começa o espetáculo e tu tentas chamar a atenção.. Numa atmosfera de sonho,  chega Martim Afonso, herói para os índios e inocentes de hoje. Em sua alma, se avizinham um trilhão de esperas e desesperos. Ser ou não ser, desvendar ou não desvendar, declarar ou não declarar, tomar posse ou despossuir? Mas é Martim que adentra ou o ator que o procura por dentro? Te mostras, Mar, alheio a tudo isso, pois, sabes da verdade crua dos homens e seus dons de generosidade e assassinato, pleno dos rendilhados entretecidos em Bem e Mal. A platéia delira porquanto é-lhe ofertado um feixe com a alma de todos os atores e não-atores,

BRAS/EROS

Quero-ver-te a fenda onde aportas asas e vivificar-me o açular das brasas E em meio a meios no vale dos montes deixar meus receios fluindo nas fontes Quero ver-te a boca envolvendo a ponta e socar-te a louca fúria na garganta E assim juntar em Eros dispostos numa hora audaz nossos céus opostos

A ARANHA ARRANHA

A aranha feita De desejos-árvore Monta teia enorme Para um sol de mármore. Enredando o signo, A aranha arruma Crenças em costura Com letras-agulha. Versa com coragem: Sendo algoz e vítima Da palavra em teia Com seus cortes íntimos.

POSSIBILIDADES DE ÁRVORE

Sou menos e nesse menos há mais possibilidades. Sempre estou por encher.  Procuro uma clareira com um porão para guardar. Preciso embainhar o cheiro que há na obra de aspiração florestal. Preciso de uma febre que há nas folhas do dia quando escrevo. O que me fortalece é ter caído sob machados algumas vezes.

ALFINETE NO SOL

Acácio é que diz: "Aquele que você olha  mais de perto não existe." Eu não tenho certeza como a deste poema  aqui que você existe pois o perto para alguns é tão longe quanto o lugar em que mora a menina que tu eras quando estourou o Sol  de dentro com um alfinete.

CACOS DE UM OPERÁRIO DE LETRAS

Cacos melados de minha mente rolando pelo morro de Sísifo abaixo. De minha mente que não se conhece desde o minuto passado. De minha mente primeiramente tecida enquanto o fígado de um africano recebia bicadas. De minha mente que insiste em funcionar pela luz que chega de outros prometeus e ícaros. Cacos de cera e pólen em meu pensar num barulho de avalanche. Cacos operários de minha mente de pensamentos apaixonantes. Vai rolando abaixo e nem sei nomeá-la com outro nome que não seja o verbo amar.

NEGAR O QUASE-PÓ

Quando chegarmos à velhice ..peraí, eu já cheguei. Deitar, em ti, decúbito ventral. Cair em teu quintal de desejos antigos. Quero em ti criar poemas de ralar umbigos. Quero o prazer do mergulho no teu sexo não ambíguo de vários anos de idade. Quando...espera, estou aqui. Sei que podíamos delir. Também ressentir sentidos. Bem que podíamos foder enquanto ferver o sangue e seja possível negar a ilusão que somos no tato posto de relarmos o duro no rachado pomo.

SER HUMANO É DESUMANO?

Um ser humano leva um celular, que comprou de um desconhecido, barato e sem nota fiscal pra que sua filha dê-lhe um sorriso. Outro ser humano no banco da praça pensa na família  que lhe espera no barraco e estende a mão  por cinco reais de esmola pois diz que não compensa menos já que tudo tá o olho da cara; e seu carro está a apenas cem metros dali, no caminho ele vai tirando a gaze com que enrolou pernas e braços... acha um celular. Outro ser humano no beco da ponte faz um pacto de ilusão mesmo sem ver ou ouvir com o anjo Febrônio que caiu faz pouco tempo (cem anos?) de um buraco da camada de ozônio. Seu celular quebrou. Outro descobre de onde vem  a palavra penico  num livrinho cujas páginas  ia usar depois da ocupação de seu peniquinho esmaltado. Ser humano é difícil pra burro... sem celular.

DURMAM BEM

Talvez estas palavras agora não tenham nada a dizer e só procurem um espaço nesta escuridão  para dormir um pouco por isso o jeito delas meio bambas vomitando dizendo palavrõezinhos em voz baixa  pois andaram tanto e não houve um olho que as conectasse. Talvez eu só devesse lhes dizer: - Durmam bem....

MAR DE MÁSCARAS

Noto estranhos ritmos navegando o entre-ilhas do contra-senso servindo neste comercial urbano energéticos com ódios para conjurar a sede de auroras de plástico e orgias de consumo enquanto homens cinzentos matam mendigos  e mulheres castigam a si mesmas sob inquisições de ilusão.

NA PORTA DA DICI

Eu parei para ler uma letra de música estampada na porta de vidro de uma associação comercial e pensei numa letra que eu pudesse fazer com lirismo igual POR VOCÊ EU DANÇARIA TANGO NO TETO Mas uma voz de mansinho pra que ninguém a ouvisse disse devagarinho num modo bossa-nova de João ou Tom Jobim quero o poema todo fica quietim quero o teu desejo de ser mais que o mito da aldeia inglória quero a tua fama lama flama à vista tua imaginária musa de revista quero a tua dor fingida de artista quero a tua cor pálida alquimista quero, ou dá ou desce DESCI DANCEI

TEMPO DE GOTAS VELHAS

Caem as baratas gastas que se agastam na noite, casacas de chuva velha, patas aceleradas. Gotas velhas, chuva nova, sem sangue, sem ossos densos, com antenas sonolentas que distorcem costas tensas. A chuva fecha o que penso, e nem sei se o pensar colhe, e me transporta qual barata, embora o tempo me esfole.

BOLO MISTO

A verdade acaciana  é que estou explodindo expressões em comprimidos, às vezes para contrabalançar o furor de minha febre demasiada. Outras vezes, esqueço, e calma tomo com guaraná. Calcando o verso num copo de ossos-letras e analisando vácuos, faço mortes em retalhos: de encontro a é uma morte e ao encontro de é outra. Uma coisa é o encontro dentro. Outra coisa é o coentro-conto. Fico assim por horas, doendo. Assim, melhor provo as gentes, com três colheres de mentira e uma pitada de verdade, pequenininhas mortes de amor.

DESDE O COMEÇO FÍSSIL

Desde o começo, fui ser físsil. Trago das palavras que explodi verbo sob as unhas. O lábio do depois. No fundo da gaveta o modo de ser respira. Não cria mofo. Como a foto em verniz de um santo flechado. Inútil lavar sob as unhas.

DE LADINHO

Eu posso justificar o justo gesto, posso dar a décima parte de meus passos, mas não posso ser bom. Ser bom seria como não te amar pelos olhos de tua ausência. Ser bom me faria passivo e doce e não teria salsas sacanagens a pensar de teu jeito calmo e não poderia mais antecipar teu rosto molhado nem imaginar a cama com cheiro azedinho de tua vulva sagrada e simples de ladinho

ALMA DE INFINDA LAMA

Por vezes, desfruto da visão das águias. Vejo ovos rachando nas palavras do vento. Mas aprendo mais no que me dão os lentos Pés que não cuido muito bem, rachados. Quando desço, desço para o incerto grado, Gauche no que meus pés falseiam. O incrível foi ter gerado uma obra Com alma de infinda lama e sobra.

O CAOS SEMPRE CAUSOU

As folhas eram imensas em meio às anãs centenárias. Vestiam a árvore-vida com falso amor. Hetairas. Disparavam muitas flechas na direção da culpa, sendo todos inocentes de araque. O caos sempre causou à tona dos olhos.

A PELE ENCOURADA

A pele em couro é insuficiente Para os lobos com folhas nas ventas. Eles ficam à espreita na estante, De olho nas nossas leituras. Eles não têm vergonha como o padre nu. Dormem em nossos livros. Não costumam atingir alta pureza. Só se acabam quando não lemos mais.

MERGULHANDO NUM PÁSSARO

Minha mãe pedia para prestar atenção. E eu prestava atenção. Uma formiga no chão ferroava a minha intenção. Uma flor balançando abria -me o portão. Um caracol subindo a escada dava-me bolha nos pés. Meu pai pedia para prestar atenção. E eu prestava atenção. Um cordel de folhas amarelas balançando ao vento. Uma mulher de pensamentos dilacerados. Uma menina mergulhando num pássaro. Um bebê se maquiando com pétalas de ar. Eu prestava atenção. Precisava atuar com os olhos. Na cabeça, fui coligindo canções. Não canções criadas por homens. Mas as canções criadas por árvores caídas. As canções contidas no borbulhar das valas. Eu prestava atenção. Hoje levo a cada palco o som das árvores em mim. No som das árvores caídas há muita esperança. Nasce o ritmo inesperado com raízes terrosas. Nascem belezas com pés de um seio só quando jogo a voz .

ZUMBI, HERÓI

Vinde a mim, Grande Orixá, Não me faça ouvidos moucos, De um guerreiro sem igual Quero eu falar um pouco. Dá-me então verve ligeira Mas que atinja como um soco. Quero falar de Zumbi, Sobrinho de Ganga-Zumba, Líder que deixou um nome Que ainda hoje retumba, E para enterrar seus feitos, Não há nesta terra tumba. A mancha da escravidão Grassava neste país, Tratavam como animal O povo negro. Infeliz, Por estar longe da pátria, Chorava feito petiz. A raça negra sofreu Mas jamais se entregou, Foi vítima de maus-tratos E com seu sangue ajudou O conforto do reinado, Que muito isso explorou. Assim se manchou a história Deste brasileiro assento, Igualando a escravatura Com o período sangrento Da militar ditadura, Dois execráveis momentos. Mas voltando ao assunto Do bravo herói que falei, Ele nasceu em um tempo Que o fez fora da lei Para o opressor mas seu povo O fez honorável rei. Nasceu Zumbi dos Palmares No Brasil Colonial, Sendo o Estado de Alagoas A sua terra natal, E o Quilombo dos Palmares

NO LAVRAR DO NÓ

Dou um nó, escondo a ponta, quero ver você achar, Segredo bom não se conta, só se espalha no lavrar. Dou um nó, jogo, m'escondo, quero ver você pegar, Como sou só de palavra, m'esconder é palavr(e)ar. Pois se eu não tampar a ponta você pode despontar, E se achar ponta de lança, daqui a pouco paxá. Além do mais essa ponta traz ponteio despontante; Embora dissonantando soe o som bem consonante. Assim, enterro essa ponta na ponte de deslembrar, E se atravessar a ponte, cê não tem como voltar.

HOJE PROÍBEM O ARROTO DE AMANHÃ

Será que um dia proibirão a segunda lei que há nas prisões, e todas as leis de fome serão revogadas em nome  das bocas virgens? Em nome das quais os tais-mais com seus mestres de artigos e mais artimanhas legais proíbem a simplicidade das palmadas cardeais mas legalizam o roubo das posses patrimoniais, inclusive das mulheres? Mas por agora câmaras aprovam leis proibindo o arroto nas mesas o peido nas calçadas e as palmadas (inclusive as dos médicos nos bebês???) O que posso dizer-te ou dizer-me é que sempre têm eleições e os cães e macacos se acham sabedores da vida ossuda e bananosa...

FIM DE MEU MUNDO

Eu só sei do meu fim do mundo: acabará o gosto das coisas, quedará o desejo da carne e o pensamento não mais acenderá se eu ficar no pé da montanha. Só porque eu li Omar Khayyam estou com esses olhos pra Vida desde manhã....

TUDO EM TORNO ESCURECE

Tudo em torno escurece ao suspiro das hélices e do vinho que tomamos resta o dobro nos cálices... A sede está retornando e há um cheiro azedo no leito dos nossos vermelhos gestos embebidos no mel de ontem... O sol está longe de chegar e o sangue cadente risca os céus levando sua violência tranquila ao extremo oposto da terra...

SORRINDO SOB TEUS PÉS

Meu ser tropeçou numa tristeza Risível em volta do ser. Neste instante. Ficou entre nós essa pícara ruína. Afinal, não é coisa que se esqueça. Pousei meu ser, o passo destruído. E caí a sorrir, de cabeça. Apenas depois de ter tropeçado, Caindo de cabeça frente a ti, Tentei eternizar o estar-feliz. Embora os fios de ódio A querer soltar um grito extinto Tramassem enforcar-te. E fico assim gordo sobre o passado, Fragmentado em sonante estatelar. Restando aqui, vendo-te o avesso, Tentando crer que irás voltar, Que posso levantar-me destas pedras A sorrir, mesmo de chorar.

DA MORTE DA MOÇA CHAMADA AURORA

Aquela moça, Aurora, Aquela de mãos pra fora. Que tinha corpo e sonhos. Que um dia feriram horas Entre os relógios do mundo, Por não perceber os vermes Subindo tijolos em sua vida. Eles tiravam o prumo desde o nascer, Viam o nível, batiam de leve Nos delicados tijolos, Até que construíram sua morte Entre os distantes polos Os filhotes de Cérbero.

CUBATÃO NEM SEMPRE

Aqui nem sempre há mortos céus ou infernos vivos para Prometeu. Nem sempre um "daimon" esfarrapado de costas apaga as brasas da boca próxima cheia de formigas e cocaína. A vítima: aquela senhora bem alta que nem sempre vem aqui e que fumava basálticas rochas pagando pedras com a alma. Um anjo de costas chupa um osso espedaçado por angústias e põe sua própria noite na latinha, nem sempre. Cubatão nem sempre é assim. Na Fabril, há casas que falam coisas azuis. Na Light, há jardins que falam a língua inglesa. Há potes de ouro ao final do Arco-Íris.

A RAZÃO DO AMOR

A razão de eu ter domado os cavalos do mar, De eu ter aberto o peito da Aurora, De eu ter dominado os dragões do sol, A razão de ter entrado em ti com o desejo de unidade, Nasceu quando sentávamos no sofá. Comíamos pipoca E assistíamos o Chacrinha. Quantas vezes o sal do bacalhau que ele jogava Nos atingiu. Eu sorvia os raios de teus olhos E relampejava sobre as estrelas, Que eu juntava com as mãos Pra lhe fazer um tapete prateado. Quando eu me vi em ti estendendo as asas, As penas eram feitas de tua aura.

QUEBRANDO

Arrancar os espinhos dos pés, Assim, jorrar as vozes do chão, Retirar o enxergar dos olhos, Assim, cegar os fatos, Acovardando o claro óbvio. Deitar fora o punhal, Quebrando as águas do ódio.

RUA A PONTO DO FIM

A minha rua está cheia de buracos. A minha rua se encolhe, desnuda. Até perante a cadela muda. O rosto da rua antes Era tão belo como o teu! Seu pescoço dobrava langue  as exangues esquinas. Agora não vê a hora de desligarem os aparelhos, na UTI.

ONDE CRIATURAS SIMPLES SEM DEUSES?

Deusa-Não-Deus se junta à brisa e delira. Gota a gota, a íris escorre nos telhados. Orvalho no soalho verde move giras. Deus-E-Deusa manhãs orvalhadas Nos cabelos das ondas do mar. Poetas, pégasos e unicórnios salivam Verdades em ruínas. A realidade puxa um cigarrinho na esquina. Onde haverá criaturas simples, desfumadas?

MULHER DE LIVRO

O teu olhar : canção, Oceano e som, Lança, balança Na pauta do infindo Metal o clarim das nebulosas Além do prefácio Onde olhos ouvem O corpo silencioso Da letra Envolvendo-me em tuas pernas

ZECA

Movem-no, modelo urbano. Ante o novo Sinédrio E suas guilhotinas, Zeca passa frio e não nota que Azeda sua marmita em zinabre Enquanto dá seu obrigatório voto. Não entende o Poder. Não entende o bulício. Mas ele sente as marteladas na flor. No jornal que esfrega, Há sorridentes homens De bundas cinzentas.

O TEMPO A VIDA E O MOTOR

Eu não sei se tenho isto a que chamam paz de rei; não é bom reino tranquilo, isto eu sei...tá bom, não sei. A paz é pra vida de um que muito de si já deu; já muito ralou nas pedras, caracóis-medos sofreu. A paz na alma é que arde, não dá jeito no morrer a posse do Mestrecard. O tempo faz reverter? Não conserta, só enferruja O motor que move o ser...

ENGANO FÁCIL

Ultimamente me engano facilmente. Jogo pedras nos rins como dor lombar. Os cabelos nos ombros das idéias. Livros amarelos rasgados. Cheiro bom de sebo. Sempre perdido um pedaço de estar. Sempre a cadela metafísica late para a morte. Acelera com seus latidos meus pés de galinha.

DESABO EM SUA CIDADE

Na cidade que é você Escalo prédios concretos Pontes construo de afetos Mas caio sem ter porquês Na cidade que é você Corroem mágoas molduras De espanto tecem figuras Oxidadas faturas De mistérios fazem torres Que de tão altas assustam Na cidade que é você Ruas alagam qual rios Sobem altos casarios Seus sorrisos são metais Estremecidos de frio Na cidade que é você Embalam tremores morros Demônios morrem de vez Amando os céus em socorro Da cidade que é você

SE OLHARMOS NO CERNE

Talvez se olharmos no cerne Do atabaque do Mestre do Tambor E assim penetrarmos os nexos Da Interior Selva Encontraremos em nós o que dorme E se seguirmos enfrentando as chamas Acatando instantes imberbes, Concordando em nossos troncos Com as formiguinhas nas dermes, Acenderemos com suas folhas O caminho por entre átomos Ao som do estalar palavras, O coração aos berros veremos.

O SONHO É GRAVE. GRAVE ISSO.

Espero pastéis chuvosos de lua. Blocos sextavados para o asfalto. A chuva ofusca em néon na noite. E espero tubaína para a engorda. Estou gordo e me pergunto: Se estou pesado, à alma é bom? Ser transformado em bolo-construção. Que a gente pega quando está sem mãos. Na casa o aluguel é caro. Sei que os rostos estão tristes E o sonho é grave. Espero....

MADEMOISELLE

Se você olhar sua dobra mínima  dentro e acima das pálpebras de Deus... Ali se esconde aquela sombra  de pesadelo que era o mundo adulto de seus pais. Quem sabe se você olhar verá o que é impossível  esconder:  homens que em seus buracos puseram objetos sagrados e agulhas de humilhação. Os dedos dos juízos da esquina e adjacências: naqueles sinais do pescoço: nossos julgamentos. Quase escondido um ponto de depressão você verá. Só juntar um com o outro para o ruir da tua consciência. Há marcas ali sugerindo novelas de horror.  Outras aqui sugerindo suspenses inelutáveis e cinemas com cheiro de urina. Chamam-na de  Putaselle. Sequer ela conhece a França embora tenha um edredom com desenho da torre. Um edredom todo azedo de inúmeros vômitos. De quem é a imagem no espelho que ela mata toda manhã? O espelho não reflete o seu nome todo. Só o Puta.

PITANGUEIRAS-GALÁXIA

Sempre há um som concentrado, um também pra desconcentro; se há um tal que faz um dado, há outro que faz um cento. Sempre um trovão de momento, lembrando a chuva passada, quando o suspiro do vento lembra doces madrugadas. Era mais preciso o gesto de escalar galhos, audácias que geravam astronautas nas pitangueiras-galáxia.

QUANDO CHEGARAM OS DEUSES QUE NÃO SE ENTREGAM

Quando chegaram ao campo da alma eu já estava de mente aberta e o corpo embrulhava os olhos e o senso alinhavava a hybris e males tavam lá fora e frios ao que se passava os cães ladravam ao sol e as fendas todas fecharam Quando chegaram ao campo da alma já estava o poema armado e o não-visto usava os olhos e o senso alinhavava a cova e males voavam lá fora os cães ladravam ao sol e as fendas todas abriram sobre o poema apontado Quando chegaram ao campo eu - xadrez abandonado por dois princípios opostos andava meio de lado e enxergava deuses tortos em sapos verdes montados de verdade a estibordo de onde fui defenestrado

ESPERANÇA DE HIERÓGLIFO

Hieróglifo em ternura: O homem lavando as gretas O rosto desfigurado E dando ao filho a sarjeta Coração envenenado De vida cismada em farsa De que alguma coisa mude Quando um tal vereador Surgir por ali, bem perto, Com sua face corada E com pança de doutor

AO AMIGO DE DONS INFINDOS

Se você fizer palestra, Não lhe perco a amizade. Desde que seja humilde E tenha sinceridade. Se sua finalidade For atrair novas feras Pra amada Literatura Ou a leitores que enxergam Nela um novo prazer, Não lhe perco a amizade. Agora, vá se foder, Se a si fizer caridade. ..Mas volte logo depois Pra uma cervejinha esperta, Tenda esse tempo ao calor Ou tenda a ser de coberta.

CUSPE PRA EXCITAR A LITERATURA

Você acha que eu fui sincero Ao cuspir na cara da amiga? A Literatura é minha chapa Desde aqueles tempos das cantigas. E se eu cuspo nela ela me cospe, Tecnicamente, de mentira, É apenas louca fantasia, Dando novo brilho à relação, Evitando a monotonia. Pois eu amo a letra há muito tempo E você nem era acontecida.

CUSTA CUSTA CUSTA

Custa muito a lucidez tanto quanto a honestidade custa pagar todo mês custa o peso da idade custa amar desamar custa o engano da inverdade custa os olhos que não amam os corpos que não se invadem por diferença de anos ou por medo de arriscarem custa andar sem vontade voar sem asas sem ares custa acordar no catre custa dormir na cidade custa se entregar ao roubo custa o preço da verdade custa a amizade justa que com amor faz colagem o amor à primeira vista o amor só de passagem custa viver para a morte sem preparar a viagem custa seguir sempre em frente quando tudo se faz tarde e aceitar a falsidade grande nas coisas pequenas custa findar o poema como custa custa custa

ESCREVER CHEIO

"Não temamos enfrentar novos públicos, antes porém enfrentemos poltronas vazias" Foi Dioniso que jogou essa uva na minha lagoa de letras fermentadas. Jogou com toda a força que fez tremer Téspis em Delfos. Para representar cheio, começar escrevendo no tanque onde o vinho da palavra nasce.

RECEITA DE ESCRITOR PROFISSA

Escritor que faz palestra  dá receita de poesia de romance  de conto só não dá receita de blasfêmia,  matéria-prima do que se pretende fundamental para cuspir na cara da literatura convencional de vez em quando ou em sempre. Escritor profissional que precisa ganhar dinheiro dando parcelas de seu saber que não é nada contra o saber da vida e da morte e do bar diz que literatura se faz com medidas que a poesia tem trinta centímetros que o conto tem quarenta e que o romance tem trezentos depois ao final com remorsos diz que o que vale é tomar um porre de respiração. Escritor profissional que precisa mostrar caminhos pois já passou da idade sabia o sentido e o cheiro da blasfêmia só que já esqueceu. Eles detestam Clarice.

ABSORÇÃO

Irrefutável e irreversível, Globalizada, terceirizada, Reestruturação de máscaras, Furtando espaços autênticos E vínculos orgânicos. Absorção de mercado, Morte consolidada, risos trevosos, E o sangue forma um coágulo Em meu espírito armado De vazios pontiagudos. Há cadáveres nas ruas e lojas, Escorrerão sempre no escuro Clareando a culpa.

DAQUI NÃO ME LEVANTO

Daqui não me levanto Estou cansado, fico, Deitado me edifico,  Mas basta uma palavra Uma palavra sua Para me erguer como um deus Ou como um gigante filisteu Ou como um Senhor dos Anéis Embora tenha meu anel no prego Ou melhor Não diga nada Não quero nenhum esforço Vai provar o amor de outro... Além do mais acordei agora Meu pau tá duro, a cueca apertada, E eu estou com vergonha. Fora.

POUCO SEI DOS ANOS QUE TALVEZ

Pouco sei ou devo nem saber do pouco que. Sei do atrito no começo da montanha, por exemplo. Não, não te assustes de eu o saber. O primeiro – um anão que assassinaste lá onde o atrito é mais cruel - na tua alma. Perfuraste suas falsas ideias de inusitadas altitudes com tua usual habilidade baixa. Vestiste as roupas do anão que assassinaste. E por anos que. Talvez se. Pouco sei ou. Sei que querias chegar além dos cimos com silêncio completo. Mas por gritar alto pouco sei dos anos que pulaste, talvez.

DESDENHANDO O AÇOITE

Arranhei-te o rosto, Toquei-te as luzernas, Beleza de glúteo Este em tuas pernas. Não sei por que fiz, Sei que fiz sem susto O meu traço na graça Do teu largo glúteo, O retrato e o vinho Do teu glúteo-altar, Onde rezo missas De úmido olhar, Penso o curvo cálice Que bem guardas lá, Com suaves pálios... Pudesse eu beijar... Dos teus orifícios De febre e prazer, Si chamando lás Dó re mi fá ser No poema em si (Teu relevo em carne) Pudesse eu sumir Sem muito ausentar-me, Pois me esqueço ao ver Teu ser de oferendas Como é bom pensar-te As pudendas fendas

INCLINADO

Meu voo foi inelutável pro corpo da poesia e meu alvo foi exatamente o infindo sentido, que latejava sob a nuca.  E como fazer outra coisa que não fosse colocar o tato do espírito armado sobre a poesia vítima trimegistal? Só admiti - a vomitar - desintimidades sobre o papel mas meu ser não sonha ir além das difíceis digestões. Minto assim às vezes. Só tu sabes da minha escrita. Por isso, é que me enxergam como um poeta -estar inclinado ao nada, ocultando o espaço-ser de si.

A DONA MINHA PARENTA (NOSSA VIDA COMO É)

A Dona, Minha Parenta, Vende uma casa com tudo Da vida, como ela é nossa, Em carne, rubor e prosa, Soando em tábuas rangentes Vozes de loucos parentes Com seus pecados rotundos. Vende esta casa imunda, De conteúdo bem sacana E parentela sem prumo. Com gozos ao pé da escada, Revelando pés, virilhas, Incestos, taras, manias, E a nudez mal castigada De um anjo retraído, É esta casa formada De recônditos desejos. A Dona, Minha Parenta, Vende, mesmo a baixo preço, Seus caros, profanos, veios. Vende jogador e puto, Vende velho dissoluto, Vende pai incestuoso, Vende moça virgem-puta, Vende amante em pleno gozo, Vende moço na banheira, Vende cozinheira boa, Vende aeromoça, beata, Vende marido com saia E mulherão com biquini A passear pela sala, Té puta de Mancha Roxa, Vende moço arrependido E traída namorada, Vende moçoila lesada, Vende mulher costureira Com carne na geladeira, Vende dançador de tango Noivinha pronta, mãezona Com fogo no pé-da-cona. Mas pra não dizer que engana Eventuais compr

O VENTO E A CHAVE

O vento magoado porque um ônibus morreu e ninguém ligou ao sexo  de sua morte porque quando morreu a rua estava sem esperanças A chave que abre sopra o coração no jornal agora que crianças morreram dentro do ônibus

ABENÇOADOS OS DONOS DO INGRESSO

Mais de um H de princípios adversos entrou na campanha da montanha russa, um de cada vez com estátuas de santinhos, imagens etc. etc. enquanto do outro lado esperavam a vez alguns cães com fome e amor de coceira, aguardando que a montanha russa parasse, a que eles tivessem vez  e fugissem  da sopa rala de farinha e ossos quebrados que aos cães servem os donos do ingresso.