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Mostrando postagens de dezembro, 2013

COMO SE NÃO

Ele vivia como se não sofresse. Chutava os montes de cinzas quentes. Como se nunca tivesse atravessado O Vulcão da Mágoa. Mordidas em seu coração  Não eram só cócegas. Aquele fluxo anímico  Que viste jorrando em seus pulsos,  Por exemplo, foi por ter amado a culpa Que já está de poucos meses.

LAVEI O ROSTO

Fiquei sempre à beira Do amor respirando. Como óleo na água da Estireno. Tentei ser indelével E de olhar o nunca estar Sair ileso, Qual lousa sem traço, e Aprendi, pois sempre agira Com determinação, Criando mentiras Desde a verdade, Aprendi que o rio Só respira porque o digo, Qual o verso.

FELIZ ANO

Feliz ano novo, medo. Feliz ano novo, cedo Meu verso seco e novo, Fácil não me comovo.

TRAVESSIA ATRAVESS(EU)

Estou indo pra algum lugar. Perceba. Isso é um fato. Estamos indo pra algum lugar. E tudo passa, mas não deve passar. Pego meu cavalo, madeira-armadura, E gravo algumas canções desarmadas. Desde que veio a noite e seus confins. Desde que tudo ficou baço, enfim. Desde que matei o delfim a braço. Os pelos da alma caem, como da cuca. Estou batendo esta rua. Não molda o que quero. Não saem caminhos precisos. O martelo é duro. Enfim, atravessar .

VILANCETE PARA O TAQUARAL

Quer um tal de taquaral dar-me receita de poeta. Não conheço bem o tal. Mas tem razão o esteta, Fosse poeta, regraria minha escrita de pateta pelos versos de outros guias, que tem estilo final. Merece o crânio na pia, por me dar conversa tal, mas lhe dou sentença pia. O taquaral a si veta, tivesse eu avental seu verso esquartejaria.

GUERRA SEM BATALHAS

Talvez eu parta ao céu em noite clara. Apesar de muita noite escura, Tem que ter no luar clareza rara. Antes da partida certa, Musa, Mitos me despertarão a cólera E refugiarão em Siracusa. Haverá canções, luva nas garras, Ilusões no sul da Extrema Terra, Mortais e silentes cimitarras. Tem que ter no luar clareza rara Para que eu me evada desta guerra Onde versos morrem sem batalhas.

MENTIRA

Estou no canto, indiviso. Um canto sujo: cozinha De um ser mal redivivo Que à constância tem azia.... - Mas, que mentira peluda! Não vivo senão pra enferma  Beleza que traz tesudas Palavras a este Se(r)ma !

AH SIM VOCÊ DIZIA

Ah, sim, você dizia gostar De musculação, de kung fu, De karatê, de krav ma(n)gá, De pescar sem meias, De resolver drones, De sangrar o som De inusuais palavras De  versos medievos, De argamassar as brechas, Das velhinhas lá do fundo, Com pombas sem defecar, Mas já vi tudo. Vi sim. Você gosta é de café com pão. E de Bandeira.

ESTAMPANDO SINAL EM VEIAS

É mais simples que parece usar essa máquina, acontece que deve ligar normalmente, deixar aquecer o reler, com pano seco passar  no ser, sujo de ilusão, que gruda feito uma craca e só sai com desrazão. Cuidado para não queimar com desejo amor vazio. Isso dá explosivo e imortal excesso de quentura, viu? Beijo desregulado, pressão demais no abraço, podem sujar não só a placa, mas seu tempo e o meu espaço. Tomando as precauções, estampamar corpo na alma, então, ou vice-versa, e transbordar os sons. Essa máquina ainda vai dar o que falar. Creia. Se o coração for a razão de assinaladas veias.

MOREI NO BAIRRO COM NOME DE ESGOTO ESCURO

Morei no bairro  General Costa e Tal Que deveria ter outro nome Como disse Ariel Lá há jogadores de futebol de salão Há teatro comunitário E nenhuma peça lá Com tesão ou sem noção Foi ainda proibida Talvez devesse ser nome de beco O do Presidente Costa e Tal Tem becos escuros que carecem marca Canais de esgoto também é boa pedida Pra seu nome Tem canais que emprestam nome de rua E nunca mais devolvem

BEIJADOR DE ÂNUS DE FLOR

O colibri, cuitelo, chupa-flor,  guinumbi, chupa-mel,  binga, pica-flor, desperta ciúme  naquele sátiro  preso ao caule por beijar os ânus  das flores.

DENTRO PEGUE O ADULTO E O DANCE

Como achar a chave  se quem sabe esconde o segredo e o guarda longe? Como ser feliz  se quem sabe é esperto e não tem a guarda aberta? Como ser feliz se ninguém o diz ? Se o de dentro é farsa pegue o adulto e o dance.

POEMA PARA A VIDA

Isso quer dizer a vida: Espantar as roxas frutas nas bocas das árvores. Isso quer dizer a vida. Une-te a teus ancestrais nas raízes à mostra nas fotos. Isso quer dizer a vida. Monologar verdes arrotos. Do nosso berço. Verdade. Por isso qu'inda choramos sujos de papinha bebendo chopp.

MAR DE VELHAS FOMES

Levantei-me com o grito do  relâmpago morrendo, barcos parados, dormitório de sereias, redes encostadas nos lábios dos barrancos, urubus e canoas coloridas como reggae em verde amarelo vermelho e preto, porções de arco-íris nas ondas onde houve tridentes antes, uma paisagem a encher velhos cântaros pra nós: diletantes cidades a bater nos corais das esquinas, mar de velhas fomes.

ÚNICO QUE TENHO

O unicórnio que tenho no espelho fosco está gordo  não come mais as frases doces nem bebe o que o corpo espreme. Vive olhando a alma do chão com medo da morte um olhar cego como apaixonado por escorpiões. O unicórnio que tenho chamado de Solidão ou de Molibdênio. Tem a mim só. Mas vive de cenho no chão mandando uma ordem: me ame me mate. imagem acima : ANDERS ZORN -  Nosso pão de cada dia

CONCHA ENCONTRADA

Fo i uma concha encontrada. Séculos de história atada. Suspensa foi para a foto Dos dedos do arqueólogo Com cheiro de século em papel. Mas a concha nem aí. Só lhe importava os céus Na voz de um útero antigo.

AMOR SEM GARANTIAS

O amor sem garantias O eterno jeito de ceia O amor e sua azia Uma reta fugidia Uma mole geometria Um bem e um pouco de mal O amor e sua teia Vitamina e som viral Sorriso e bolo de aveia Veia sangrando macia O medo em funda bacia Controlado vinho e sal Descontrolado de frente Arrebatado ou mendaz Livre ou forçosamente Gerando crime serial De dar sentido às sementes Do trigal da alma sem Gogh imagem acima: de   ANDERS ZORN -  A feira em Mora

A QUE ASSIM

A que assim, sem mais, Jamais esqueçamos As coisas do sol, E, amando, selemos Nossos termos Na pele do luar Sós, vozes de montanha, Com amor de cheia Floresta, fímbrias de mares Nos possuam

A PODER DE PALAVRAS

O que somos a poder de palavras? Penhascos além do tapete, Vaidades convexas/cavas. Mesa descomposta por brigas. Isto é Cabral, aquilo é Haroldo. Este é poeta, aquele é bicha. O café sorvido pela glosa Das igrejas fixas. E no entanto se renova O fato úmido na alma tímida De amar o pó das asas Dos anjos caídos

RIO RISONHO DE MINHA MÃE

Eu vivo a poesia inevitável, dou nome às letrinhas que passam e quando escorrego inevitavelmente a te pensar, minha mãe, com teu queixinho existencial, uma poesia se insinua e curva um rio risonho a rezar

CONTANDO NINGUÉM ACREDITA

(VOU LHES CONTAR UMA HISTÓRIA DE ESCRITOR E PERSONAGEM E COMEÇOU ASSIM:) -Bem falarias sobre mim Se mesmo longe eu te parisse? -Em ti, a porta que me nega ri-se. -Mas, veja: tu nasces, a poesia é flor. Logo logo o leitor-golem (ou pólen?) (E CHOROU O PERSONAGEM AS CORRENTES ARRASTANDO)

REI SEM REINO, DIVIDIDO

Veio a peste sobre mim. Recebi-a pele adentro. Embora a dor, acedi, Cedi ao poema destor(i)a. Esperava a dor, prazer Na peste surpreendeu-me. Não é coisa que se espere, Prazer de peste render-me. Cedi. Escorri. Em feridas, quê de amor?  Sei? Só sei: sobrei. De poemas Meu ser próprio.

A PORTAS TANTAS

Tu ainda não estás de prontidão. O céu está cinzento. O seu corpo se dirige à alma Um passo de cada vez. Quando bates a porta,  quererias ser o toque não a mão do toque. Eu sei. O trinco geme. Contudo, veja:  ainda pode-se entrar. E dar à luz outras portas.

LUA LINDA DE ENRUGADAS COSTAS

É bom andar  até quando chegar a hora de tocar o coração do tempo. É bom sair quando a vida for suficiente e o chopp não estiver quente e você estiver meio tonto de desafiar Caronte . Lua, estás linda. A noite está nua. E eu não sou indiferente Às tuas costas velhas De crateras antigas.

HÁ RIO E PONTE

Há um rio  para ultrapassar há a ponte frágil e a vontade de de repente parar e colher na margem silente um aveludado cansaço e deitar

SEREIA DAS ILHAS AMALDIÇOADAS

Por anos, andas  envidraçada nos oceanos da mente  e percorres labirintos estranhos. Eles não sabem nem devem saber  das ilhas amaldiçoadas  onde mergulhas. Quando me viste na praia,  eu era rede de pescador desfeita. Percebi teus pés de espuma. E vi tuas coxas de peixe. E enxerguei meu pó no mar de ti, Enquanto a lua encantava a noite.

TEMPO ENVERGADO E VESGO

No tempo, um hoje De mitos adenda claros Ao que me ressente Das rochas que empurro O tempo enverga, Envesga a ilusão Que me arrasta Morro acima como a pedra

LIBÉLULAS INFANTIS

O que há-de Deitar mais tranquilidade Ao ser que arde magoado Do que os olhos daquela criança? Obrigado, criança que apenas olhou, Com duas libélulas no rosto, E que uma lente registrou e me veio Como imagem que voa. Sei  que nunca lerá este poema, Galho perdido onde me quebro.

ENQUANTO SORRIMOS

Enquanto comemos e bebemos e vomitamos certezas, um raio de sol em algum lugar ilumina uma pequena tragédia, onde poderia pousar um lume, que uma criança poderia olhar, antes de dormir com as bombas, que poderiam estar bêbadas e cair no mar

POESIA COM FOME DE ESTREMECER

Por mim, eu acenderia vulcões com pontas de gelo. Por mim, bordaria penumbras nas galáxias. Por mim, inverteria o magnetismo dos mitos. Por mim, navegaria o infinito com fome de fins. Por mim, falaria chinês com dentes de pólvora. Por mim, aprenderia o agudo que estremece os cães dos mortos deuses e deusas. Seria, por mim, até terra para o adubo dos amores de ontem. Mas por ti, meu Deus, por ti, por tua pessoinha de pele de pêssego e kiwi..... Por ti, só por ti, nasceria a partir da morte de tudo o que ainda vai existir a partir do orgasmo dos faunos abandonados.

ENCONTREI MÁRIO DE ANDRADE

Encontrei Mário de Andrade. Estava num livro meu. Saímos para um bom trago De lua e um pouco de breu. Pagou com gramatiquinha E oxossi de camafeu.

QUANDO EU QUIS

Quando eu quis me colocar dentro de ti Tu escarneceste Mesmo sem saber es(carne)cer Pois sempre foste vegetariana. É o que dizias  Do alto dos seus cabelos loiros oxigenados. Quando eu quis que exercesses tua liberdade Tu te en(fada)ste Dizendo não acreditar em fadas. É o que dizias do alto dos seus cabelos oxigenados. Fiquei sem oxigênio por me colocar à sua altura.

A DEPENDER E A INDEPENDER

A depender de ti Resto aqui a pender A independer de ti Esta aflição-índex A depender de ti O nada é o Todo Que nadaria A independer de ti A onda esboroa A pedra voa dentro E rala fora À toa

BEM BEM

Seria legal além de tudo, bem, Ver o que bebemos nesta mesa Do que corre e foi, se o mesmo sal, Sei, que volta a nós feito saudade. Seria legal rever a foto então, bem, A pele em cio cear no atrito ido, A pose onde o tudo e o nada usamos. Seria bom, benzinho, o renovar banal De um corporal papear num bar antigo. Mas bebemos tudo de uma vez E evaporamos, bem, nossos círculos.

BARCOS DE PAPEL

Já possui barcos. Na verdade, toda uma frota. Era bonito vê-la À beira, sem rota. Duas poças faziam um mar. Havia um barco colorido Feito da Revista Realidade, Havia um barco fedorento Feito em jornal de embrulhar peixes. O seu mar sempre fedia. O segundo barco teve meio dia de vida. Jornal de carne. Acabaram todos logo. Não precisei vendê-los. Amoleceram nas águas ácidas.

NO LAGO

O amor que virou de verde virilha em flores de encontro pelas mãos do quente dia inunda a garganta de anseios pálidos e assim o silêncio coaxado na noite suaviza o dedilhado das estrelas no lago

CLIMAS

Há climas no leito do amor Relevos nas suas células Nessa macieza horizontal Pássaros gritam Atravessando grutas Líquidas placas Rompem oceanos E esmagam peixes

EM PROL DOS CANTOS

Os peixes estavam viscosos  das águas-vivas meladas de golfinhos e marinhas redes. Então, em prol de cantos, ofertei-me. Comecei a ler o jornal para Tritão. Como a indagar de modo líquido sem deixar que o nível estourasse para melhor molhar sonho e sereias. Sonante silêncio agudo fez-se nos corais. Tubarões acenaram com minha camisa de força de enguias. Desembarquei nu e como estava frio confundiram-me com o  iceberg que estava de encontro marcado com o Titanic. Deram-me letras de nichos marinhos. Disseram-me: nada por lá. Observei o "dread" das sereias  na Praia do Perequê. Mas quando mergulhei nos ouvidos, a inspiração pulou no mar.

UM POEMA

Um poema. Sua transparência e suor. Olhar com tempero. Há sempre o real no entorno.

AVALANCHE

Virá quando Adão cumprir a pena. Virá quando Eva for plena. Assim, do chão pro céu amplo.

QUANDO CRESCESSE

Meu primeiro emprego foi guarda-costas. Tinha cinco ou seis anos. Edson Páscoa falou: - Fica aí de olho, tá? E entrou Edson com Regina, Depois de mijar no canto Daquele prédio em construção, Onde pisei num prego enferrujado... Queria ser Edson quando crescesse. Enfiaria o meu prego.

A POESIA FACE FOSSE FOSSA

Sua face torce. Fosse séria E santa Seria a fossa.

SUICÍ(DEUS)

Sui. Se Deus Cedasse O Eu.

DEPOIS

Incrível ainda você estar de pé, Depois do caos na mesa. Incrível ainda você se pentear, Depois dos laços na rede de pesca. Incrível ainda pintar as unhas. Depois do chute no saco de deus.

NO SÉCULO

Ela nos olhava. O seu grande bico. Éramos os ovos para o escafandro. Ela não ria nem chorava. Sabia já do fim. Suas garras sempre afiadas. Eu nem ligava. Assoviava uma canção. Era tão bom. Isso foi no século passado. Ou foi agora?

FACA DE LUA

Uma vida não é suficiente para virar espuma do mar um grão de areia talvez como aquela vez que me acharam espião e tu me disseste tens uma cara de dedo-duro e notei que duro não era o dedo mas o muro do medo Me prenderam em suas cabeças mas sai livre da palestra em que mães menstruaram sedes de vingança no amor havia bancos vermelhos embora brancos e preparavas o chá que me darias com a noite fatiada à faca de lua

SALVAÇÃO

Pegar um copo com as mãos um corpo com outro corpo mas quando se pega uma alma com a outra acontece deus como se a praia fosse eterna como se o filho se chamasse salvação

FALA AO MAR

Há excessiva fragilidade. Excessiva credulidade. Meus dentes são fracos corais. Minhas rugas transitam em rasgos. O oceano tem saudades paradas. Barcos se aquietam para o sono. Vejo um em cor de reggae. Verde, vermelho e amarelo.  Um pescador me conta num galho Sobre os pratos de seu avô Cheios de  cozidos de peixe Com farinha de banana. Eu moraria aqui. Minha cabeça é lisa como uma negação. Tenho excessiva fé quando não quero E dura uma vida de cigarra terminal. O pescador tem um barco Que sempre está com ele, Eu tenho um abraço, Um abraço que meu pai me deu. Quando chorei de medo Da sereia no parque de diversões, Fiquei escuro. De vez em quando nas cercanias Há um trovão que espanta Maremotos. Mas sorri.

OLHAR MIRANDO

Fui mirando os peixes que cheirava No oceano em coxas tuas minhas Fui mirando os peixes que comia Nas curvas tuas retilíneas Fui mirando as espinhas esguias Que ao meu olhar engasgava Fui entretecendo guelras Que em teu corpo me afogavam Fui ficando um dique profundo Onde o que era som emudecia Mas forçando em meu rio seu fluxo Verti de meu veio chuvoso O vício de chover-te em pupilas

CLAMOR

O único sinal de vida é dado nos escombros pelas mãos que clamam pela eutanásia...

RUGAS

Há corvos à espreita. É preciso não irritá-los. Crer na mente como insuspeita. Desafiar os rios da carne.

A ILUSÃO DE TECER-TE

Na cidade que é você Escalo prédios concretos, Crânios oferto pras deusas Nos altares sem porquês Na cidade que é você Corroem a cal molduras, De espanto tecem figuras Oxidadas de ver De mistérios fazem torres Por sobre as bocas de lobo, Na cidade que é você Curvas alagam qual rios Sobem altos casarios, Esquinas dobram metais Que aos meus dons imantizam Na cidade que é você Embalam tremores morros, Pontes descambam de vez, Engenheiros suicidam Por balançarem você Pra cidade que é você, Sei, meus sonhos são pequenos, E o tempo é curto, cobrindo A ilusão de a tecer

A ALMA MÁXIMA MÍNIMA

Esta é a solidão. A máxima. A mínima. Não tenho citações a fazer. Não é por gostar de Ci. Que vou ficar ciorando. Citar o papo nefando De Freud com Jungando. Ou citar Wittgeinstein E mostrar erudição. Ou distorcer o gasto Do pesar de Rabelais. Não há conter Que eu queira reler. Assistir o Cérebro Sem Pink na cabeça. Pra você, leitor. O que eu sei é pra mim. Vai ficar trancado. Não quero dividir. No imo não-saber. No ego ficará, ereto. Lição de viver. Lição de estar imoral. Não tenho dialéticas Quando como ovo frito. Nem quando há ética. A alma dói como isto, Verbalmente.

MULHER QUE É ASSALTADA

O rosto à deriva O olhar rasgado Um homem assaltou uma mulher Roubou o tempo que ela possuía E ela fugiu de  si-mesma Numa caravela cheia de colares E presilhas cortando o mar E furando outros homens Por vingança

PARA TEU ROSTOL

  Um poema sol: Teu rosto em gol Às traves de meus olhos. Vê como fica rico o poema Se deita a te contemplar Sem pensar em ganhar o pão...

NADIFICASSE SE

Se meu tom tomasse tomos. Se meu som somasse sonhos. Se o meu rim me rimasse. Se verbos desaverbassem. Se meu mim mais me mimasse. Mas mas mas mas massificasse Mas não acontece o traço Nem pedra rola no paço. Nem ilhas que mais me ilhassem. Nada. No. Tão-ser-ser-tom.

A CURVATURA DO TEMPO FUTURO

Deixarei para o trigésimo segundo  do mês o escrever tudo. Deixarei para depois a mudança. Na terça, me reservarei o direito de pular. E ir para a quarta direto  abrindo bem veias impossíveis. Hoje, é qualquer dia pé de cotia. E por ora fazer cem flexões  nas frases pra viagem de ninguém. Meu nome nesta hora: NINGUÉM. Aqui posso suar e feder  perto do banho e da toalha. Aqui posso pensar no poder  que o poder poderia. Posso pensar em marte. Nos vislumbres de encarnações inseguras. Na Grécia, Roma, Babilônia,  Samaria, Judéia, costa de etc. Fingidas encarnações  onde vi mortes por decapitação. Tudo isso me faz bizarro, por não ter ânimo nem para o escarro. Onde bebo mares de amor e ódio? Hoje, estou aqui, fixo, reto, Com remorsos pelo incerto. E não posso sair sem magoar. Se ando, magôo. Se paro, magôo. Se falo, magôo. Magôo, se não falo. Se olho triste dizem que é raiva. Se fecho a concha, dizem que repilo. Não magôo quem admiro, senão com os olhos. O

APETITE DE TEMPO

Muitas coisas só dependem de esquecê-las a tempo, do tempo de um mosquito ou do de uma mosca ou da decisão de tempo de uma formiga temporã ou simplesmente de se ir a um casamento frugal por interesse no tempo de alguém muito querido que acostumou-se ao chicote de um amor bandido, ou comparecer a um velório onde chegam parentes de todos os estados e tempos, sorrindo com abraços apertados, enquanto o falecido desolha impassível, talvez um pouco inchado e mal vestido com um caroço de nascença acima do nariz pequeno e nas mãos nuas ainda se divisa uma pálida tonalidade de tempo findo. Muitas coisas só dependem da variação da temperatura das previsões meteorológicas da quantidade de obstáculos ou carga pluviométrica das calçadas com buracos no tempo sem cuidados da existência de placas de trânsito de pessoas dispostas a ajudar com informações corretas e disposição para ceder um pouquinho de seu tempo e olhar em seus olhos súplices parecidos com os de seu

BRAZILUNDA

Nas nossas margens plácidas Brazilunda rende Pobreza exposta Nas passarelas pungentes Em ossos de estatísticas, Modelos cavas curvas Geram falsas magrezas, Com lucro e presas, Diluem-se nas pistas, Ninguém liga à porta Onde arranham cães Com mordidas bélicas Em hambúrgueres, Servindo há tempos Ao som famélico Dos Mac-Tiros Do Deus-Mercado Nos estômagos flácidos

ABISMO DOS SEIOS

Os seios gelados das ondas nas bocas de barcos à deriva apenas antecipam o orgásmico abismo.

PULSANTE VIA

Vejo através da janela do quarto um carrinho com um cachorro e um carrinho com um bebê cruzando com um homem de bengala que pensa na conta de luz que se não for paga apagarão sua sala onde senta-se pra ver a própria solidão com quem conversa coisas banais.

ABRAÇO

Ver é fácil. Viver é crível. Escrever é físsil. De risível traço é a morte disso. Abraço.

SE ERRE

Ser. E errar-se. Se errar, serre. E seja. Ou berre.

O LIXO RESPLANDECE

Há muito, carregamos o peso  das verdades de fraque e livro-caixa. Jornais e revistas mostram suas jóias e risos sob cuecas. Há muito, o discurso está babando nos corredores. O Papa pede perdão. Eu peço perdão. O Bispo pede perdão. O Pastor, O Monge, Tudo com O. Houve época em que usávamos a razão. Só não sei quando. É o que me contam os pais dos pais dos meus pais. Calaram as mães das mães das minhas mães. Aqueles, julgando e arrotando, lhes puseram mordaça. Há muito, o lixo dos patriarcas resplandece. E um deus caído dá tapinhas nas bundas passantes. É a tradição. A tradição de seguir.  De escutar o pum de um pai lá atrás. E fingir de surdo.

CONFISSÃO DE MAR

Bela de qualquer maneira, de milico ou paisana, do tempo à noite sorrindo ela surge e o sol se engana E a praia ganha sentido, seus olhos revelam mudas, faz delirar brisa e vento e faz do sol fala surda Pensava eu nestas ondas, quando ouvi passos corridos, as conchas brilharam tanto que fiquei cego do ouvido Numa tenda, ela olhava os preços dos petisquinhos, seus olhos tão redondinhos estrelas irradiavam  E ela passa passa passa, quando a alcanço se vai levando em si toda graça, agitando as ondas mais Mas há promessa em seus olhos de a esta praia voltar, quanto mais a penso, creio que esquecerei de ser mar

UM CARA COMO FUI ACABARÁ COMO SOU

Um dia a mendiga que se enche de plásticos fez plástica no nariz aquele que ela assoa como um chafariz teve um tempo foi bonita e um cara como eu fui olhava-a sem coragem de tirá-la pra dançar Há anos a mendiga que se enche de plásticos andava tão elegante com sapatos tão finos que um cara como eu fui achava que era a lua sua face de ilusão e sonhava e sonhava ser a noite que a abraçava Um dia a mendiga que se enche de plásticos dará lugar a uma outra e um cara como eu fui acabará como eu sou louvando as coisas diluídas

POR UM UNIVERSO DANÇANTE

Aguardo que venha a luz  que tudo ressignifique e um troll dançante faça do fim do mundo um desfile com milhões de carros alegóricos aguardo que o peito fique manso e que fique bravo na mansuetude como um cavalo vivendo contra o vento quero ver os quatro cavaleiros com programas na televisão já que os comerciais tripudiam sobre a fome e ri da nossa peste contagiosa de consumo que se alegra com a manipulação dos fatos e gestos e mortes aguardo que Sísifo seja apenas um mito na porta da rocha e não uma visão que assusta a cada pesadelo aguardo que as portas se abram que as janelas sejam escancaradas que eu me estilhace nas faces da música do começo do universo e que o mundo seja uma pauta musical sendo iluminado por cada nota aguardo que me sorteiem e digam ganhaste o grande azar aguardo que o correio me traga uma excelente notícia cheia de notícias em negativo com desespero de não ser mais triste aguardo as fúrias transformadas em abobadas abóba

ILUSÓRIA CANÇÃO

A palavra é insuficiente para o ser diante de cada dia que se apresenta amarrado com fitas de sangue. Cada dia uma ilusão-menininha  com laços de hemoglobina, cujo pai-sonho trabalha por 24 horas, de laços no relógio de ponto pra ir no parque gastar na roda gigante comer pipoca e cair da montanha russa mas com palavras insuficientes  pra dizer o quanto se ama, pra  dizer o quanto se odeia, pra escrever outras humanidades de ilusão, presa em babéis que se alteiam nas notícias das guerras dos homens, de número insuficiente pra separar o joio do trigo, pra transformar água em vinho para a de ilusão laços de hemoglobina. As palavras gastas como dinheiro nos comícios nas esquinas  nos patíbulos bibliotecas  bares igrejas câmaras tribunais, insuficientes são até para a lápide da ilusória canção que aqui não nasce .

SENTIDO DE BRONZE

A estátua de Casablanca. O seu amor  empedrado. Seu tempo estanque. Sua alma ausente é e sente o nada. Posso ver mexer-se seu filme a bombordo. Quase perdeu o eu quando o filme estava a meio. Já eu ainda escrevo de alma avoada. Diz-me o sentido do que quer que seja ao partir. Nenhum?

DE UM TORTO MAS NÃO MORTO

( feito de uma idéia a mim dada por Leonardo Só ) ...Começo este meu relato, Pedindo de adjutório Que não fujam para o mato, Pois estou no meu velório. Sou um defunto com tato E detesto falatório. Daqui, ouço a voz do sogro Para a bunduda empregada, Prometendo apartamento, Uma jóia bem dourada, Ilusão do ano passado, Pru mode vê ela pelada. Ouço meu filho Aderaldo Planejando roubalheira. Desde que era pequeno, Só deu pra fazer besteira. Nunca dei-lhe uma lambada, Então, deu pra bandalheira. Mas que falta de respeito Do meu amigo Joel. Já paquera-me a viúva Com seu papinho de mel. Se inda tivesse na terra, Ele ia para o céu. E meu pai? Chega bebum Chorando que nem a chuva. Derruba minha coroa (Não falo de minha viúva), Grita que nem fosse bruto Picado por cem saúvas. Um mendigo entra e ora, Com reverência tamanha, Que só mesmo o meu cachorro Esse fato não estranha, Nunca esqueceu da ajuda Que dei-lhe numa campanha. Ouço um amigo de infância Meu poema declamando, Esse amigo memoriz