Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2014

SEM MISTÉRIO MINTO

Meu poema não é um mistério. A não ser pra mim que o rezo. Não tem poucas linhas. Nem muitas. Minto. Não segue Cabral Nem mesmo faz Estranhas descobertas. Minto.  Descubro-me sempre. Vem como vem. Vai como vai. Em verso antigo. Às vezes dentro do espaço. Metafísicas tenta Mas se arrebenta Porque a vida é uma piscina Cheia quando a gente pula, Seca quando a gente chega Ao fundo.

ALONGAMENTO DE DENTRO

Bate como nunca a porta de seu coração. O álbum está à frente.    As cidades tremem no sentir. As cores dos carros piscam dentro das avenidas de si. As esquinas formam um coro e becos fazem serenatas para os subterrâneos da alma. Os postes se esticam alongando as colunas  do não-pensar. Os sovacos dos túneis  dentro dão poesia. Os sinais dançam o amor antigo e ele tem coragem de abrir o álbum  de fotografias.

MANTENHA A ESPINHA

Sempre tem alguém mais baixo que tu e sempre acima há um brucutu portanto se chorares não esqueça da gargalhada do cara ao norte ao ver um filme sobre o que não é o Brasil feito pelo Robin Willians montado pelo Stallone cagando na panela e comendo a bosta da vaca inglesa, para que mantenha a espinha poética e o coração tranquilo ao ritmo da fonética

HOMEM-FICÇÃO

Queria poder falar, Mas o escrever calou A garganta  Que fechou. Na garganta agora dormem Palavras noturnas E que brincam de constelar Noites por dentro. Aumento os passos Dos olhos Para a razão e caio Num cu irresoluto De pensar fedido Que o mundo é bomba-relógio Ainda E os homens Só têm a importância Que se dão  Em ficção. O autor nem os liga.

A QUE OS LEITORES EMBARQUEM BEBADOS

Na carcaça bêbada Da presunção, Discutem, perfeitos, A desentender Baud- Rim, Que sempre foi Contra os recifes literários E religiosos Rim, se os visse, Viraria um nefelim, Sob nefando impulso, Esburacando o céu De suas mesas Como um bom capeta que n'especialistas vomita e lhes caga, acocorado, oceanos fumegantes, queimando o pensar catalogado em nome do ab(sinto)-emoção, de leitores dispostos à bebida que cura

NUNCA APRENDI A PAZ

É como se nunca sempre te visse a não ser aqui e nunca, neste passo trôpego, no chão o cão, o pastor, o padre, o ladrão do Congresso Nacional, o conto que desvira o ver o mau político, sempre corrupto e por te olhar antes  do teu nascimento, Justiça, nunca aprendi a paz de ficar só

A GUERRA AGARRA

O chão está gelado, homens perdem o calor e mostram as garras, a guerra ainda agarra outras falas, reflexos, apesar do jeito terno das folhas nos homens e dos débeis sonhos, a guerra os comanda. O chão está gelado, corpos aos milhares na superfície, com isso não digo que a vida é ruim, apenas que o chão está diferente, os crânios que pisamos são os nossos e outros homens nos substituem, mesmo esgotando o sangue das coisas

TARDE ARDE ESQUECE AQUECE

Estendemos as mãos quando as sangramos nos fatos. Destampamos  os vãos da sinceridade quando o engodo  estampou a anti-norma. Nos feriu o cão quando todos  estávamos fora da culpa. A gente esquece  a pele  e a alma aquece depois  a sós .

CONHECI ANNE FRANK

Conheci Anne Frank  quando usei  pela primeira vez  minha armadura  e li suas cartas no canto. Quando li sobre os nazi  de sovacos suásticos. Anne me contou  do livro que não percebeu. Não percebeu  as pulgas mancomunadas  com piolhos que vivem da morte,  nem aquelas estranhas  cruzes quebradas. Ah, construí um oceano  para ela viajar  em barcos de papel. Vou lhe fazer um barco  com Fernando Pessoa nos cascos. Eu estou buscando tábuas  Na tabacaria da tua aldeia.

ÍCARO EM FAUSTO

A sociedade serviu-me um bolo, numa festa, com cultura patriarcal nas bordas cheias. Como-o, abusando de minhas prerrogativas vampíricas, quando as madres submetidas firmam os olhares. Um relógio usava, com o qual dominei as mulheres de  Nosso Pai, lhes mostrando as marcas em nossas costelas delas, às 11, 55 h dos dias 30 de fevereiro, horário do Éden. Hoje, uso as igrejas para reforçar as asas de Ícaro em Fausto.

NA PEDRA DO ESPELHO

Tudo o que escrevi na pedra Reflui da água à margem, Tudo o que refiz a traço, Que reli, vivi no espaço Em branco, p or um triz Não passo a régua . Se chorei, ferido, em farras, Com a filha duma égua Da palavra avara, Mais eu choraria, prego Que sou neste ser de barro, De verdes riscos, pacto De um deus triforme Com um espelhado, Que nesta alma riscam Formas inexatas .

FLORANDUZUNDA

Nas nossas margens plácidas, Brazil - Bruzunda rende, Com sua pobreza exposta De viridumpiranga, E com passarelas maquiadas De manchete de ossadas Expostas por almas vis, Desumanidades E recheios de s(h)eca/late. E duras ondas paradas Rendem orfandades políticas que Diluem-se em linhas ti-ti-tis: Eles não ligam ao escuro Que larga inocentes Nos redemoinhos De cuecas de alargamento Universal marca Florão D'América. Assim Veja  Caras.

ONDE AS MULHERES COM AS QUAIS QUEIMAR-ME?

Eu poderia simplesmente me conformar com a beleza de submetê-las com minhas presas que o sistema religioso me deu e o não-religioso confirmou. E submeto com a cozinha sempre ali. As crenças dominantes nasceram no meu mundo. Num mundo onde o Pai reluz, contrário à lucidez. As mulheres que amo querem ser iguais à Virgem. Amam o Filho Sagrado. Passam pasta de dente para falar com seu falo. E depois aos seus cabelos com óleo lavam. E às suas roupas dão polimento com humilde flanela. Não pensam no porquê da ausência da Filha ao lado do Filho. Mas parem filhos-da-puta. Onde as mulheres com as quais possa queimar-me? Esta água me consome desde o século das trevas e se chama Vontade-de-Ser-Justo-Até-Demais. Sei que há um orgulho nisso. Ser-Justo-Até-Demais. Sei que há um engulho nisso.

CHEIRO DE COSTELA

Meus pais me entregaram  crenças prontas,  quando eu engatinhava arrastando as raízes.  Foi primeiro um brinquedinho  que me deram na Igreja. Massinha misógina. Nasceu comigo apenas  o receptáculo de medo e espanto. Meu: o único dever  de cultivar o medo e a culpa  como a um tiranossauro rex  de estimação. Mas meus pais e amigos  e inimigos  veneravam o Vaso do Jordão de Idéias Líquidas e Confortáveis. Da mulher o cheiro ainda é de costela na cozinha dos valores.

QUEM HÁ DE DOURAR-ME

Quem há de dourar-me o espírito com o ouro do Alquimista? Quem há de doar-me átomos para que mais vida eu vista? Nasci, em cidade antiga, com fios de marionete, e o cheio verso vazio, a cantiga em canivetes. E a pergunta inusitada: -Quem há de ao infinito, chegar sem tecer a Escada? E não possuo, interdito, resposta certificada, ardendo de sangue e grito.

É....CALOR

O que eles fizeram, você me pergunta. E o que você fez, deixando a alma morrer com a tarja preta de ir em vez de escrever errar acertar rasgar a capa e ser? Deixaste, por cansaço, uma frase cair da intenção, papel evadir nos dormentes, palavra derreter entre dentes... é...calor.

NERUDA E OUTROS NO GUISADO

Lava a louça, arruma a casa, Traz sempre a palavra pronta. Desventurada responsa. Ordeno: e nche a pa nela! Afinal, mando em mim mesmo. E uma panela deve sempre  Estar cheia, bem tampada, de frases sempre guisadas, a Neruda, a Mia Couto, a Dylan Thomas, a Pessoa, a Sylvia Plath, a Hilda Hilst, na cozinha de minh'alma.

AUTOR COM PEDIGREE

Querem que tenha  uma haste Estilo talvez, pedigree Uma palavrinha em si Sintetizando  o quê Mas quem eu sou foi por ali Deixando a um eu que está Muito farto de se ouvir Outro eu em baralho Todo espelhado de si

O MITO DA CORUJA

Falam de uma corujinha que quando pia faz medo. Dizem gostar de dormir Em espinhoso arvoredo. Espalham notícias más de que ela provoca o frio nas axilas de Deus e no saco do Sombrio. Falam que ela assombrou mil casais de namorados, e matou a sangue frio anjos endemoniados. Falam que caga em destinos, e que a ninguém dá valia. Que contra santos e santas arquiteta bruxarias. Ninguém decifra o seu nome, dizem que mora em jazigos; eu vi que é simples coruja, mas não ligam ao que digo. José diz que ela é safada, faz macumba em várias bandas. Que ela já está marcada para morrer em cirandas. Maria diz sem recato qu'ela polui o que é bento, que de neurônios queimados não possui pensamentos. Mas é só uma coruja que se arrepia com frio. Tá noutro lado do espelho bicando rostos vazios.

COMO NA IDADE MÉDIA

Um mundo um tanto torto. Houve três mortos ontem. Nossa corte em sangue. Mas poderia ser ali o corte. Poderia até ser ali. Saí pra comprar pão sem sorte. Segurei firme as fortes correntes. Apertei firme as moedas lerdas. Encolhi firme o pescoço solto. Os buracos não davam receio. O cheiro do lixo no seio de Brasília Sempre chega aqui. Lata de mijo de permeio no Planalto. Como na Idade Média, feia. Vivemos idade cheia, violenta e sacra. Contratam sereias assassinas na rampa. Em resumo, comprei o pão caro. A padaria estava iluminada pela TV. O dono, uma máscara de capital e medo.

HUMAN DEATH, VILA SOCÓ, GUERNICA

Recordo o ar febril, o chão tremente... Uma alma só não dá para o recorte, Carece de outra alma se lembrando. Na Vila Socó, Tupiniquim Guernica Entubada de petróleo, Revejo o arrasto Do cheiro sobre as gentes, O perigo anunciado, A venda da gasosa Que vazava, sem cuidado, Gasosa Petros, a Grande Prosti Sangrava, himenóleo devastado. Uma só alma não basta pra rever, Carece de outra alma em fortaleza... Revejo a agudeza De sonhos-salamandras A avançar na vila sem casas, Amontoando leitos na madruga, Onde o poder deitou, Se ausentando, avaro, No início da queimada Em gozo. Minha alma, relembrando, Perde o brilho, Ouvindo tantos prantos E o demônio os remexendo, Moças, crianças, em roda enegrecida, Em cinza o céu doendo, em uivo eivado. Inábil sou demais para a lembrança Do que tornou a vila em matadouro, Intenso como em quadro de Picasso, Onde Guernica, flor dos bascos, É dor em tintas. Em seu sofrer de carne Incinerada, Em lagos-lab

INAPTO A THOMAS MANN

Escrever umas poucas palavras moucas dizem gerar um poema bom herdeiro rouco do Pai Oriental profundo com marcas de talco para pés e mistério de humor de surpresa assim no infinito e morder a sabedoria na própria nuca e o próprio rabo tratando o signo com dieta pós e depois olhar o poema raquítico sem pena e desejar que ele palmilhe a passarela como padrão aos críticos desculpem este poema com necessidade de ser, justificando sua falha erudição com vaselina Íxion ou glicerina Tântalo para seu delírio, Fausto com sífilis na hetaira otária margarida morta se esmerando na praia com clientes esperando sua navalha

RIO PARA O SÓLIDO

Meu sólido sobre o teu rio, Apenas a pica sobre a água, Depois o tempo passando... E o útero da água em gravidez, Olhos nascem, o sorriso, o choro. E a frustração sentida De não conseguir educar 0 filho, Líquido e rebelde delírio.

CARA A PASSADA

viver é pouco, e é cara a passada, paga com a carne amortalhada

COISINHA

O homem é um ser estando, Tal entre estares ficando, Na juba do tempo-espaço Um repasse apequenando. E vai matando, a morrer, Dando um sorrisinho a mais, Tentando ser algo além  Que algum sonho de cais.

DUVIDEM DAS PALAVRAS

Que me leiam isto lentamente. Duvidem, com o ser à frente. Como aquele tal filósofo me diria: - Vai. Lentamente duvide das palavras. Como o mundo do ser que sempre pergunta. Aquele mudava sempre a neve branca. Apanhou gripe em causa dessa fé. Morreu gelado na neve-verdade, Vendo a gorda Sofia no Café A se aquecer sabiamente Com palavras cruzadas Numa revistinha pornô Chamada Planalto Central

LIMITE

Neste infame lago raso, sou um sem lábios, e monto moléculas de verso escrevendo para o corpo poético sua alma a descer passado afora

PENSAR NO QUE SE ESTABELECE

Pensar no carcinoma da pele do mundo, pensar no sangue que faz chouriços brutais, pensar nas religiões que subjugam mulheres, nos homens que no México matam ... moças que sonham com o mês e seu salário, pensar que a guilhotina enferrujou pescoços, pensar que a cadeia codifica leis paralelas, não me deixa com a paz de quem fica ao fresco. ... Pensar que não se pode mais ir à praia e estender a esteira e as almas. Pensar que o hábito de ter juízo, que o hábito de estar tranquilo, que o hábito de vestir o avesso, estão policiados já de manhã. Pensar que a resposta para as coisas depende de soluções coisificadas não suaviza a estrada diante do derrapar do pneu dos fatos, dos tiros de certezas com palavras revestidas de chiclete e festim.

PRA QUE A FILHA NÃO DESANDE

Peixe aquático, fusiforme, ósseo  (vindo de entre nuvens ósseas),  nadadeiras ausentes nos basais ( bases donde? nos ais dos casais?),  escamas de origem dérmica  no tegumento (frise argumentos),  os animais do logos andam à caça do poema graal gutural. O velho poeta também se achaca  com a adolescência de sua filha  tendo em vista sua receita velha:  uma colher de sopa por dia de isolamento casto  para que a filha não desande.   T emos excrescências  na cabeça do poema, não sei por quê. E os pais são os mesmos Id de sempre.

WITT !!! GÁS TEM

Wittgenstein,  um dos mais influentes  filósofos da linguagem  só falava do que sabia. O ser sempre é como a neve é branca. E eu, um escriba fáustico, a boca cheia de marcas de beijos das letras Arial, pensando no  Letracan, perguntando  à linda Witt com quem casei no início do fim dos tempos: - Witt, gás tem! - Não, amor, tem de comprar!

TORTO POEMA A MONTAR-ME

Ah, tédio seria sempre ter um poema para críticos, amigos, e para isso. Então,  o drama me estipula. Torto poema a montar-me circula.

DEVANEIO VARIÁVEL

Num instante, o aloucado Ícaro, n'outro, o alocar de uma minhoca. O sol também terá um sono eterno. Toda estrela o tem, por certo. Mas sempre há uma suave chuva. Vamos ali prum café com uva? Um sorvete? Falar das curvas que comovem todo trem? Num instante, o mato do sátiro. Noutro, ele também. Seu desejo é fechar as ninfas com burca. Num instante, a deus temos, noutro, tememos deus, crença, descrença, mas quando passa o carro sobre nossas cabeças eterniza-se a estrada. Um amigo chora, escarlate, e isso o anoitece. Mesmo cético, creio, na noite que não é minha. Lembro a voz de Omar: "Nessa encruzilhada  do desejo e da necessidade, não deixes nada..." Falou alguma coisa mais.

ASMODEUS, IMPOSIÇÃO AO SOPÉ

Usava Aeshma Daeva camisinha de couro  de tubarão maquiado e masturbava-se com mão alisada em corais. Era um deus natural como um adolescente cheio de hormônios. Detestava salada de algas que serviam na cachoeira do acreditar. Quando os agentes da lei pegaram aquelas meninas no sopé da favela e elas lhes ofereceram aquela coisa preta no meio das almas, exatamente quando cheirávamos o pó das estrelas, como iríamos resolver sem ódio? Quando a gente entrou naquele bar, como escapar de odiar aquele Pai que condenava tudo o mais que não fosse seu falo ausente?Ainda mais quando ele nos olhou querendo converter-nos ao Natal, ao Dia de Reis, com seu cheiro de suor masculino. O remédio foi matá-lo em nós, não por inteiro, pois restos de veda-rosca exalavam no ser/alma enroscado. Aeshma estava conosco e, bêbado como um gambá, vomitou saladas primevas sobre os agentes legais, e, com hálito de águas tranquilas, escorou-se em nós quando saíamos da ilusão.

DOCE DOR DE SER ÁGUA

Dizem  que  um  poema  contemporâneo trinca brinca sem existir n os mamilos da nuvem literária e não trai como naquela vez em que prometi fidelidade e  finquei meus dedos românticos na boceta de uma titânide azul que era a forma tradicional de meus poemas enrolando as nove musas

NUNCA FEZ TANTO CALOR

Enquanto pseudos-fruidores com perfurantes olhos e bocas drenam do pescoço da cultura o sonho e reflexos, no instante em que vendedores no lotação  violentam mãos desnudas de meninas com balas, o calor torna mais "brabos" os covardes fatos cortantes.