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Mostrando postagens de março, 2014

OS MIOLOS DA ALMA

Uma grande dor daquelas apocalípticas elípticas críticas míticas sifilíticas císticas A carne saiu pra fora com os miolos  da alma frouxos de carne e meleira doideira nojeira tranqueira perto nenhuma enfermeira  rameira bombeira Os ossos furando os tecidos monstruosa visão aterrorizante estranho choque supernatural apocalipse zumbi foda Então, a alma saiu, melada de sub-canções com fragmentos de ossos de sonhos curtindo na cara dos outros demoníaca simpática infame sorrindo estúpida insípida indelicada delicada chorosa  bonitinha sensual Saiu e voltou, tímida

GRANDE CARA

Prometeu foi um grande cara. Filho de Japeto, irmão de Epimeteu, o que se metia em tudo, falador. Um dia foi de encontro à vida. Hesíodo e Ésquilo me esperando para tomar um suco de uvas. Garantia às viúvas isso. Uvas vi. Sem ele, eu não me enxergara. Também roubei a merda dos deuses. Adubei com ela minha alma, por isso vomito até agora estes versos na cara de alguém. Bebidas fortes amor e ódio. Não pegaria em teus orvalhos. Quando ele deu a luz aos homens,  não hesitou.  Prometeu? De vez em quando, eu levo uns cigarros pra ele. O abutre dá um tempo e vai molhar o bico, tirar a água do joelho. A madrugada tosse feio. Prometeu, cumpriu, Embora a ilusão.

OUTR(OFF)

O nome é Vida. E é superior a qualquer infâmia. A humanidade segue. A política segue e persegue. Neste momento, este poema Sofre retaliações de mim. São meus olhos que o perseguem. Tento não pensar na realidade. Mas meus pensamentos não são reais. Na vida, uma estrofe Não tem nada a ver com a  outr (em off).

NO TEATRO ELA E A MÃE

Distraída, uma criança  olha as luzes do teatro. Anda sobre o tapete,  tropeça, quente fato. Sua mãe, deslumbrada,  olha as luzes do teatro. Parada na poltrona,  sua. No palco, a vida e a morte. Na vida, o palco da morte. Na morte, o último ato da ilusão da vida. No tapete, o registro da semente,  enquanto o início e o fim se alastram em torno, aos tropeços.

AO INGLÊS LEONARDO SÓ

Faz tempo não há poemas daqueles que tu criavas. A situação não mais a mesma. Eu sei, eu sei. Não mandas mais poemas para responder à altura. A situação... Eu sei. É duro sentir que a tela falta. Há problemas na transmissão. Quarta dimensão, eu sei. Me lembro de seu desejo por mais livros. E das mulheres presas em sua memória botando sorrisos no varal pra tu roubar de novo. Tu, um inglês da mulesta que detestava chá. Tomaremos café em sua memória. Sacanagem? Ah, estamos treinando alguns poemas - piadas para soltar ao vento. Com salgante, veja. Adoçante jamé, né?

CERNE E CARNE DO TEMPO

Quero sim beber-te o yin. Matar a sede de beber na fonte o desejo enfim. Em teu ser se amplia e se abre a ter-me a ávida alegria de carne e cerne. Paremos o tempo. De um findo antes, você: caça e loba, a franquear as formas às mãos bobas.

FRUTO APRISIONADO (feito para o RECANTO DAS LETRAS em 18 abril 2009)

Fruto na garganta Lua em meio ao céu Gesto em corte no ar Pássaro de brasas Lagarto de mar Língua de linguado Fogo de aguar Meio oceano em lava Assim o som do sal Da ilusão de se ter Soco no meio do espaço Anjo e seu livro na testa Pedra no meio do rio Pena parada no ar Rocha no céu flutuante Flor perfume de vida Finita em seu jeito suspenso Paradoxo perdido Batendo sem ondas no cais

SÓ OUVI O SOM DE SEUS OLHOS de 26.07.2009 (fiz para o RECANTO DAS LETRAS)

Eu me doei. Ela foi. Eu me dei. Nela dói O eu ter me doado Com ação gratuita? Eu doendo, doído, um tempo. Ela doida, endoidecendo meus relógios. Ensandeci-me o ser. Para agradá-la. Em pedaços, ela Não completou o brinde. E a porta fechada do ser Não responde a pergunta: como entrou? Só ouvi o som dos seus olhos e ela entrou por meus ouvidos.

QUER MELHOR QUE ESSA

Estou chegando ao fundo deste poço. Cavei bilhões de quilômetros. Só com estas mãos de letras incisivas. Minhas unhas cresceram tanto. Por elas subirei de volta o monte esquivo. O cheiro aqui é peculiar. Olho pra cima e vejo um poema caindo. Quando chegar a mim,  Me esmagará. Fiz os cálculos. Não há chance de escapar. Quer morte melhor que essa?

CUPIDO E PSIQUE

O amor estabelece algumas leis: Amar: Não ferir; Não ferir; Não ferir; Não ferir; Não ferir; Não ferir; Não ferir; Não ferir. Não ferir: Amar. Válidas a partir da data desta leitura. Mas como amar sem ferir de amor o amor se desde Cupido a flecha sangra Psique?

O FIM O AFÃ O FINDO

O fim do mundo, O afã do mando, O findo mundo, O fã da mente, A mente ao "fly" Do Aerosmith: 'Fly Away From Here'... Findo e rendo, Fundo e ofendo, Minto o muito, E monto infame O embuste pleno Em vida ufana, Odiando os fundos E afins..só finjo. Tu me afirmas, Ó Leonardo Só, Que sou rei  De metáforas De mim (sou?) Porém não do mundo  (show). Disseram pra mim, Desde pequenino, De um ser profundo, Homem e menino, No fundo do poço Chamado à noite Com vasta oração. Citaram castigos Aos nossos pecados Diante de hambúrgueres. Ainda hoje há o fogo eterno Às mãos com cabelo (E eu, meu caro, a t(r)emer Na entrada, Com o Tártaro nos Dentes). Só anteontem me achei No Poço-Sou-Eu.

QUERO UM PAÍS

Quero um país-tiro, sem o povo de alvo, sem descuido à lousa da educação, sem torturas postas, sem tortas encostas, em que a vista aberta não veja em berlinda, nem ouse brecar as fotos infindas. Uma nação mais linda com adequadas ramagens, sem horizontes roubados, um país em que as gentes não sejam mais condenadas por politic'aparentes.

REEDITAM FINS E OS FIAM

O passo desajusta no espaço das avalanches. O passo no ex-passo não dá passo à frente . E logo nem palavras terão pegadas De memória entre tanto sangue nas ruas. No limite dos passos há escuros. Nas memórias deles rochas topadas. Por dentro do urbano a avaria das perdas. Por fora a fúria das pedras no ermo. Como salvar o ser de parco hausto? Talvez haja tempo para outra ilusão. Olhando a noite em holocausto. Recuperar vidas se é tarde? Reeditam raivas cáusticas As parcas. Só ao fim fiam.

ENTRE OS VÃOS

A distância entre os vãos É curvo revólver. O gatilho: Nós. O combate entre nós Veio de fora do fogão. Do abismo das ausências. Só à cama obedecemos. Há mais no microcosmo E há tanto sexo Dor e flor em rios Longe da foz de dentro. Há mais. A proximidade ilude. Apesar do sexo há O ataúde do hábito Escondendo-nos a alma.

ONDE HUMANO É SER PEDRA

Outra aguarda o momento de ser enterrada até o pescoço e apedrejada. Condenada pelo artigo tal de um Código Penal xis, que prescreve a lapidação por adultério, confessou, em sangue, sob chicotadas convincentes - sempre - ter mantido relações ilícitas. Das cem chicotadas, 99 por "senso de um bom juiz". Há um local edênico todo construído  sobre ossos de mulheres! O anjo que o protege porta uma espada de cálcio. Homens enterrados têm as mãos livres. Mulheres têm terra até o pescoço. Dizem que merecem mais da Mãe-Terra. Lá a humanidade pertence a uma pedra. Que se negou às ordens de uma mão.

ILUDIDO DIAMANTE

Dizem que o poeta se transforma quando ilude interior quimera. Dizem essa verdade como se ilusão houvera . É preciso tê-lo à vista: O poeta é alquimista. Às vezes, d a alma d'antes Faz dentes de dia(amante) .

LIMITES COMO DO QUADRO

É difícil usar as cortadas palavras em gengivas famintas e entrelaçar ossos à alma das tintas secas e lembrar dos limites da bondade como daquele quadro onde um menino etíope olhava fixo em seu desejo de não estar lá, um urubu comendo no buraco de seu ventre um inferno engolido às pressas (novo Prometeu?)

AO REAL DEVASSA

Quando o nariz do anseio em feromônios Sangrando o palco vem, sacro e pagão... Chega em asas que ao real devassa, ele, Disposto a sangrar de amor a ação... A canção se ouvindo assim qual ave, Por baixo de desejos inconfessáveis... Que não haja espelho, pouco se lhe dá, É forte e couraçado em sua imagem. O que ele entreabre - sua flor - nas pétalas acirra Enleios que eternizam a posse do corpo da angústia. O amor, assim, bate no espelho, selvagem; Depois, à mesa, educado, adoça voragens.

UM HOMEM ENTROU

Um homem entrou  na casa de outro. Não pegou dinheiro. Não pegou móveis. Nem letras do Banco. Nem jóias originais. Nem os cães de raça. Nem a filha do outro. Nem a mulher do outro. Simplesmente entrou. Subiu  aos quartos de hóspedes. Não os queria. Desceu à sala de jogos. Não teve interesse. Não, não tinha arma. Ali ninguém tinha. Todos seres de paz. Só o homem era grande, Talvez grande  até demais. Quando um homem entra. Digo: na casa de outro. Quando isso acontece, No fundo todos sentem Não merecer o que tem. Pois no começo era de todos A terra ampla e pura Até que fortes e chefes Pegaram como sua. Há muito sangue por trás Das coisas privadas, rapaz. Eis que o homem  chegou à cozinha. Ali certamente tinha. Pegou e levou pra casa. Estava quase na hora Da filhinha se alimentar. Tirou do saco que roubara Leite dos bons, tipo A. A morte chegou logo Com oficiais de justiça E um atirador de tocaia. Isso aconteceu em uma data incerta. Talvez em. Talvez em. O fato é que o homem  era gra

FOZ FINAL

Correm,  fugindo ao predador. Uma loba  e seu filhote. Correm do predador. A determinada altura, ela finge  uma dor atroz, e avança  o predador feroz. O predador - um homem, talvez um de nós. Fico pensando no final, foz.

PAREDE DE DANÇA

A tempo de limpar  as hélices, de polir os vértices  dos quês e de varrer nossas cabeças pra debaixo do tapete Cheguei a tempo, pronto para acender as velas e vestir sombras várias para danças redondas  na parede

BRIGUE DE OZ

Éramos ventos ausentes de poesia e ali na mesa carecíamos de vela que nos dirigisse....até que...o brigue de OZ surge dos lados do ser  numa vela docemente melancólica no momento exato e esperado para consertar nossos ares e nos tornamos crianças no pensar embora escondêssemos nossos cavalinhos de gude ou tentássemos engolir nossos verdes sensos...

LADY GODIVA

Lady Godiva,  flor de Conventry, cego fiquei, mas um tanto guardei do ventre que olhara. Senhora, a lua desce sobre os telhados e a sinto mais agora na pele das cegas retinas. Um raio guardei de tua justiça. Outro raio de tua astúcia, minha estultície. E ainda outro de mirar teus cabelos, cachoeira a cobrir cerviz e meu arreio: anseio de perecer ao sol de ti.

HÁ GENTE QUE SOFRE II

Há gente que sofre por falta de ego/algo em si-mesmo-no-outro. Há gente que sofre excesso de dor de poesia. Há gente que sofre de fome e de sede de briga com a palavra. Há gente que sofre por morrer o carro sem estrada no ar. Há gente que sofre por ter prestações todas pagas com a pele. Há gente que sofre por ser imprestável o bolo que fez pela internet. Há gente que sofre por ser magro e alto como a peste. Há gente que sofre por ser gordo e baixo como um sub. Há gente que sofre por envelhecer jovem, sem púbis. Há gente que sofre por não aumentar a folha de pagamento trabalhando. Há gente que sofre por morar no gelo do freezer. Há gente que sofre por rachar os pés com o chão afiado. Há gente que sofre por achar que sabe a data do começo. Há gente que sofre por saber que é tarde cedo. Há gente que sofre por saber-se morto ainda vivo-ontem. Tem gente que sofre por querer justiça para sua cerca. Tem gente que sofre por querer desviar porões para sótãos. Tem gente que

CARNE DE MINHA ALMA, OUVI-ME

Carne da Minha Alma, ouvi-me!  Vós que suais todos os meus cansaços! Vós que sentis todos os meus tremores! Ouvi-me! Vós que estais fadada a sentir e a ressentir e a dessentir as peles do mundo! Vós que passais largo tempo cheirando todo o pó das incertezas! Vós que roçais paredes, muros de linguagens, ocultas e claras! Vós que sois o amparo de meu logos/ossos! Carne da Minha Alma, ouvi-me! Vós, que encho de cuidados contra acnes de mágoas, feridas de anseios,  vitiligos de ódio, manchas, gorduras de sadismos cruéis, beliscões extremos de invejas, fedores humanos! Vós que me encheis de esperanças tolas de que um dia sejais eternamente limpa e sem fedores!  Carne da Minha Alma, ouvi-me! Vós que gemeis de anseios, de dores, de sede, de fome, oriundas da dúvida nem sempre livre, nem sempre pura, nem sempre impura, de que existo! Vós que vos encheis de infinitos ante o toque da Poesia do Universo! Vós que tendes vontade de Viver depois do roçar de La Ca

NÃO PERCA TUA ALDEIA DE VISTA (PARA LEONARDO SÓ)

Estás voltando para tua aldeia, depois de tanta luz e tanta sombra. Mais sombra e luz ainda virá. Para isso fomos feitos: para os defeitos das virtudes e para as virtudes dos defeitos. Como Ulisses retornou à Ítaca, depois de enfrentar os monstros em si e fora, de arrostar o deus invejoso, os feitiços do amor. Estás voltando à aldeia. Lá o espera o quê? Mais esperança? O primeiro amor? Últimos amores? Não pecaste contra o céu. Não és indigno tanto assim. És humano como a glória de o ser. Os porcos são grandes professores. Um aperto no coração? Gastaste sem temperança. Beijaste os lábios das egípcias que se davam nos becos, comeste o manjar das hetairas modernas de São Paulo, empurraste a vida nas paredes, na ânsia de perpetuar-lhe o prazer. Vestiste o melhor da Fenícia. Calçaste sandálias de legítimo couro. Mas tudo é tão efêmero. Mas tudo é tão efêmero. Sobreveio uma grande fome. Teu coração teve fome de amor e estás voltando para tua aldeia.

MEU OUTONO

Tenho a alma exangue Sob bombas lerdas. O poeta joga A face sobre. O anjo quase-morto. Sob a valeta violenta. Sempre quase-deitado. À terra rente, de-lado. Sempre no inusitado Signo/lápide/barro. O anjo enrola triângulos. Sob eles pedaços de deus. Limpa o barro do entorno. Sob a lama em tédio. O anjo para almas bêbadas, Só, de voo em voo. Ávido. Violentando noites de asas em fogo. Minha existência :   chãos de meu outono. Sinos/lascas/carro abarrotam sentidos.

TIRAS DE ESPELHO

Espelhos esparramam Tempo sem reprise: Um corpo tão falho Vendo outro em crise. Botox esboçam Em tiras de espelho Vaidade e suas poças De face em vermelho. Dar vidas às mãos, Dar-se ao vivo mar, Gerar mais demãos De espelho a fartar. Dispor a vida toda No poema, vão reflexo, Apesar dos vasos Quebrados, convexos.

POR VEZES CHEGAM A ÍTACA ou QUEIMAMOS RÁPIDO

Homens geram alergias míticas quando não sabem a pele do tempo. Seletos porcos bípedes abrem os olhos ao Ser-Net. Híbridos remoinhos jogam sorrindo a inocência de barcos no fundo da tarde. Cilas discursa às ondas, diz que é bom pra voz : - Homens são prisões para mulheres, às vezes a vida toda. Elas abrem-se neles com fé nos cabelos. Espalham o útero delas sobre a mesa, algumas os comem quando morrem. Eles sem a chave de si Às vezes cedem a sereias. Ás vezes, chegam a Ítaca. Muito diferem do espelho. Necessário o desespero para chegar à aldeia interna com pureza. Meus amigos queimam rápido. Ítaca sempre está em fúria. Oculta verdades insólitas. Na verdade, Penélope não aguentou esperar. Está na Estação, comendo cocô de luar. Todos queimamos rápido a pele do tempo. Dez anos passam céleres.

SE CARONTE É HUMORISTA

O sonho não vê a morte. Ou o sonho a desconhece? Pensar nisso me dá norte. Mas não pensar é mais messe. Morte é o final de nascer. Sei que isso até despista. Mas o que posso fazer se Caronte é humorista? Porém, se a morte se afirma e o que sai de mim claudica, suavizo este jardim e o verso salva a cantiga. Você me diz, ó moderno, que sou velho e a voz sandice? Mas nem falo,  só escrevo tudo em fluir de apocalipses.

CONVERSA FIADA

Sou branco. Meu ser não recebeu Batismo de tambores. Mas tive bisavó negra, Avô da Andaluzia, Cigano tom nas veias, Ascendente holandês (Com dente), Português, tupi, Mas sou branco, Pálido, sem encanto. Sou branco, envelhecido, Mas nasci com Carmen Que me enfeitiçou Dançando ao atabaque Que Maria Benzedeira Me tocava ao fim da tarde Na Fernando Costa Perto do Seu Aires Que me deu a cota De amor ao futebol Que me basta. Sou branco, ator, poeta, E não sou a não ser Quando estou no sentir-me.

DEUS, SOFTWARE (APOCALIPSE)

O que mais procuro Se apresenta dentro Do que necessito: Verbo coentro corpo Corpo inscrito na alma, Sem inermes nexos Bom sítio de amarmos,  Apesar dos vermes E do Fim que os Maias Ternos nos trouxeram? Mas o poema é velho: Fala e talha o que era Poema ou parabellum? Inexato ou falho? O Eu em revertério Com largado logos (Deus sem software Em modo esperado?) Quebre o Mundo em Festa-  Lipse e em clarins

FEITO DE CORTES

Quando escrevo, Exercendo minha força, Abro rochosos papéis Com lâminas de letras. As minhas lâminas sem fio Fazem cortes semânticos E internas rochas Adrede esfarelo. Por isso, sou forte de cicatrizes.

PONTUAÇÕES ACHOCOLATADAS

Quando a lua era o mais puro brinco da noite antiga, e mistérios se apresentavam alucinantes, aparecias, Etíope Princesa Escrava, carregando nos olhos mil impérios, não de ouro, faiança, ametista, lápis-lazúli, cornalina, turquesa, feldspato, mas de esperança de amor, tornando-te galáxia de palco no peito da Ópera de Verdi. Uivavam signos em ponto final, esvaziando os cantos das pirâmides, e, sob a guilhotina de teus olhos, pintei para ti um pescoço-texto com pontuações achocolatadas.

O ...É

O ....é Barco sempre adernando E vindo à tona: poeta. O.... é oceano sólido De peixes líquidos. O .... é eis: Passo reto e Torto: ser esse: Poe(mar)ando O ......

CERTO, SOU INCONSTANTE

Certo, sou inconstante. Mas veja bem: se me gostas Isso é importante? Haverá a certeza sobre ti em mim? Neste mundo estranho a mesma pergunta se repete: O que sou? Quando sou? Como sou? E o que faço Quanto ao gume de alheios canivetes Sobre os pobres de quebradiças almas? Um dia terei uma casa feita Em tijolos das poças da infância: Quando deitar sob a terra, um teto Fechado, sem reentrâncias. Mas agora, o bom é sonhar No Bistrô da Brasil, sentado, A canção do Vinícius na mesa Com cãezinhos engarrafados Afogados em chopp, Que não me ensinam nada.

TRAVESSIA ATÉ O SER DE PAPEL

Lembras dos cães em nossas almas? Quando encarnaste em meu verso com sífilis, Quando nasceste em rocha filipina, Quando reencarnaste puta gangrenada, Quando salvei-te de um suicídio Num daqueles esgotos franceses? Quando nasceste como um bicha inglês, E me chupaste o membro com cancro? Minha corcunda de então tremeu E fiz eu mesmo teu assassinato Empalando-a nas grutas de Lascaux. Venho dos tempos antigos, de Quando as conchas marinhas tinham xotas! Em nossos castelos vampíricos Deusas do mar vomitavam! Nossos mordidas nas moças da aldeia Eram certeiras e fartas! Quando nasceste mendiga africana, O urubu bicando teu filho morto No primeiro dia do ano 1970 Era minha mais torpe encarnação... Sem dor devorava teu fruto! Foi quando me mataste a dentadas, Arma de mãe; depois reencarnaste Como cigana presidenta vendedora Doceira prefeita deputada e me esqueci, Virando um ser de papel. Venho dos tempos sem céus, e Hoje, neste teste pra TV, Me encarno em um livro de terror Que entreabres inoc

DINOSSAURO DE ESCOMBROS

Um indiferente penedo Ignora seu ser-chuva. Ausente de escudo, o sísifo Suporta a erosão do ser. Espera quem sabe o meteorito Que o redesenhe Antes de ir e enterre O cagado de seus escombros. Talvez quando chegue à velhice Ou de tanta gula de paisagens Recrie as órbitas do fervor perdido Por crenças de fim.

LIVRO DE OLHOS VAZANDO

A pele num canivete de nuvem,  e então dobrar a morte antiga, couro caindo, sentindo a vida nova em flor,  orvalho e centelhas nos pés de algum livro de olhos vazando como o corvo de pelúcia piviano escorrendo vísceras poéticas pela faca nas costas

EGO PALRA(DOR)

Se foram felizes? Não sei. Eu louco Ainda corre, guerreando, De um cerro pra outro, Aperreando o perro  Do Estige. No fim da novela, Veloso, o veloz Autor de  EU LOUCO Morre Num pau-de-arara, Atropelado Pela ditadura Palradora do Ego.