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Mostrando postagens de abril, 2014

A BOMBA ORGÍACA

Um dia a bomba sorriu bem longe, estelar, e só os pássaros sentiram a morte que assobiava no ventre da bomba em bis, e na mesa X sorria uma bunda em carne viva às glórias do Capital e na mesa Z brandiam as virtudes, coisa e tal, e ao longe a bomba vinha de bico que afunilava como punhal na farinha, enquanto na mesa X se planejava o lucro com desemprego e na Y vomitavam dialões, analões e mensalões, no dia em que a bomba alada em seu mergulho caia para o instante de seu gozo na fenda da mesa falha, e nesta se misturaram bêbados da mesa Y cantando o hino da Z, embalando o deixa disso, e a bomba já nas telhas ainda não sabia que logo reuniria X, Y E Z, numa só orgia ativa

BELOS COMO UM PAPEL

Desenhei-tezinho. Faz um tempinho. Foi num barzinho. Esperava a porção de calabresas. Ou uma pizza, a mesma. Lembro que eu te desenhava no lenço. Agora, te vendo  Do outro lado de alguns anos, Não entendo por que o corpo cansa Se a alma avança, Mas há tanta luz  Em volta de ti, Em esperança e beleza,  Que recrio-te no papel, Ajeitando a hora incerta.

DE MIM E DOS QUE AMO

Tento escutar o que dizes de mim e dos que amo, para assim poder avaliar o meu egoísmo atroz de considerá-los mais que aos outros e poder te agradecer e dizer que puxaram a mim. Ou escutar o que talvez tu nunca venhas a dizer, para assim passar desdém no chão, para assim poder lavar a ira secular, para assim esfregar os cantos ansiosos, para assim fazer o café com duas broncas mascavas, para assim poder mudar o guarda-roupa de lugar, o sofá do teto para o subterrâneo, o criado-mudo na parede sul, a montanha defronte do sonho esquecido em meu sacrifício para o sol por trás da biblioteca que um dia terei, para assim poder escrever o roteiro adaptando o berço, para assim poder representar a vida do rinoceronte, para poder ir ao vaso por um seio da loura do banheiro, contratada para contra-regra do fantasma da ópera que é a vida daquele vulto que se veste de mim e tenta gritar a cada acordar pra ti. Tento escutar o que talvez já tenhas dito de mim e dos que amo e

VISGO NA PAREDE TORTA

Um mendigo sonha... Que sonho ele rala? Como poeta anda... Que andar ele fala? Um passo de Deus? Lembra aquele rastro Onde se perdeu, Feito um caramujo Na gosma do breu. Um mendigo enverga Sob peso e alisa O que ele carrega De poesia e abrigo: O cão, a coberta Sobre o chão cuspido Com fedor de merda, E curtido a urina Um poema velho. Há pus na virilha De amarga memória Que ele coça e estica Sua vida é corte Que ele curte a visgo Na parede torta Que sustenta o dia E se chama Morte A égua que encilha.

SOU OTIMISTA

Sou otimista. Em mim, uma tragédia tem sóis. Sou ótimo de se ter como jogador de palavras. Sou como o despedaçar da porta pela qual entrei. Posso ser um ótimo pinóquio sem mentiras . Posso ser bom pra quem não seja. Um bom filho da puta, sem putarias, bem entendido. Sou para a Beleza o que ela quiser de mim. Sou como a porta pela qual entrei. Empurrei-a com tanta força, que me quebrei. Mas posso reconstruir-me como um bom cara de pau.

COLHEITA DO SER

O medo sem garantias, O fim do mundo em malogro, O eterno jeito de ceia, O amor, seu peito em fogo, Uma reta fugidia, Uma mole geometria, Um bem e um pouco de mal, O amor e sua teia, Vitamina e sonrisal, Receio e bolo de aveia, Veia sangrando macia, O medo em funda bacia Controlado vinho e sal, Descontrolada de frente A paixão sem paz sem chão, Livre e forçosamente, O medo vindo por trás, Em sua fome falaz De dar formas à semente De inverdades colossais Onde o ser colhe e recolhe Sem entender-se jamais

ADERNANDO PELOS OLHOS

Esquecer que fui oco mesmo denso o espaço Esquecer tudo ficando na beira da margem Esquecer que ser ontem é hoje estar sentado a ver Esquecer o impossível da fruta não mordida de sabor possível Esquecer na capa o título do abraço desejado Esquecer as palmas após o palco chovendo Esquecer o desejo não retornado do prefácio inusual Repaginar o caminho do rei destronado Esquecer que não redigi indesculpáveis parágrafos Esquecer que não conclui o traço da idéia inicial disto Os pés recolhidos sob as rodas do dia Os degraus do irrefreável ritual Pedir desculpas do abstrato esquecer o que não vi Refazer renascer no intervalo entre lá e aqui Pular a janela escancarada dentro Salto ornamental no evanescente Pular respondendo ao vazio Do amor ido sem densidade Esquecer que amei uma estátua num conto Com o casco-coração adernando pelos olhos Esquecer que fui oco mesmo tenso o esboço

ACORDAR, ACORDAR

Tenho de acordar segundas, terças, quartas, quintas, sextas. Tenho um sábado e domingo para atuar com o coração desfiado. Em cima de alguma cadeira ou sofá lendo a parede. Seja parede-parede ou parede-rosto. Lerei somente paredes de alma que tragam riso nas dores da carne. O eu pensa em sua cidade sem e com ambições. O eu não tem uma revista onde possa degustar o ego e envaidecer-se de ter uma bela opinião inquietante. Nem leitores enxergando-o como um belo exemplar. Mas o eu sabe que sua cidade precisa para todos os cidadãos de segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados, domingos, com consciência suficiente para despertar o olhar pro barro e pedra do corpo.

SOU UM DE HAIR

Sou eu um dos que sonharam E subiu no banquete sobre a mesa Sou eu um caco de Diabo com Deus Sou eu quem envelhece os próprios átomos Sou eu quem se refaz de mortos cascalhos Sou eu quem faz sóis compactos no lápis Sou a órbita do papel escorrendo sangue Sou quem permanece e subjuga a sombra Sou quem se veste de noites em frases Sou quem assalta signos Quem se elabora as asas do fim Quem cospe na dor atávica Sou um eu fugindo dum mim

TODANJO CÃODENTRO TEM

Um cão é mais útil que um anjo? Dei contas a um que me impuseram. Deslizei no canto fácil do verso. Caí aqui. Contratei um cão. De longe. Claro que ele quer minha alma. Mas não a dou.  Lhe manjo. A daria a Goethe que o criou. Velho mar(m)anjo cãotante, Todanjo  Cãodentro tem? Goethe era Fausto  Quando Werther? Não, era um cão sábio O homem. Criou canis de verbo infernais. Um cão é tão útil quanto outro cão? Um anjo de vez em quando late. O menino de onze anos Só queria amor.

GEOLOGIA CARNÍVORA

Aquela rocha desde sempre Fascinada pelo filho Do vento e da chuva Um dia lhe falou, Enquanto ele a desgastava: - Dos teus olhos/intempéries Em minha geologia de carne Cresceu alma de musgos. Da tua libido/belezura Em meu degredo Cresceram Escorregadias estrelas s em mar. Se a lâmina de teu ser Me tremeu o precipício Em terre(amor)oto, A erosão que me fazes É causada pelo quê?

SOB T.M.

Éramos assim. Não tão. Um talento para inimigos. Um talento incomum. A Poesia Quando aparecia Era nossa faca E nos sangrávamos, Uivando, Sob o tesão das musas.

POESIA COM COLESTEROL

Confesso que não cheguei  A dizer tudo, Quando disse  Um pouco do que me veio.... Confesso que cansei... Mas, vejam, sou das selvas verbais. Não caía bem o nada linguístico. E quando falo pouco, o verbo é longo. A vítima tava ali à mesa. Ostentava um lindo ventre/mar. Nunca vi coisa mais linda.  Minha quilha acelerei.  Afundei. No ventr'amar de Melpômene. E gerou-se a Poesia Com Colesterol.

SELVAS GRÁVIDAS

Não há barris de carvalho. Nem sequer de tábua velha. Nesta festa de enxovalho. Não há os de dentes falhos. Só há os egos azedos De torturados pensares. Suas noivas de buquês Banham-se na idade branca. Entram cheiros no nariz. Com tez barroca fala um sujeito. E eu só acredito no bem-mal. Amanhã, crerei no mal do bem. Por que me convidaram pra essa mesa? Fazem mil poses, e eu também faço. E me invejo da companhia. Pode? Acabo declamando Pound em fôrma, Depois de ser servido com levedo E com leveza de sábio natureba. Por serem partidários...do que? Ouvem coisas bárbaras, simples. Falam putarias, amistosos. Fazem filhos nas selvas. Dá uma certa paz ver selvas grávidas.

O BRILHO E O SANGUE

Buda falou sobre o zen dos olhos. O brilho bem mais vale que a pele. Também Marley falou e o Tudo é isso: O brilho vale mais e a tudo excele. A raça humana vale muito e é ouro. A cor da pele com o tempo é sal. O brilho vai durando e apura estrelas. Todos os povos brilham olho igual. Resisto a ver   o que reluz metade. Só cresço vendo a luz universal. A guerra tem a pele esquisita Por ser todo o seu sangue Opaco Mal .

PARA CAPITÃO KIRK

Há um espaço. Preencho-o. Há um tempo. Escalo-o. Um poema é como uma nave. Uma ave numa fruta. Um beija-flor com desejo. Uma flor despetalando, amando. Não há nada como estar no poema amaciando calosidades espaciais.

A VIDA HAVIDA FODIDA

A vida é o nada que é nadado no mar do tudo, já disse Pessoa de sua vinícola, a nadar com todos os sonhos do mundo, rei nada útil para quem quer a vida pequena, vou enferrujando a espada das horas, esbanjados cetro e ilha, onde Wilson engordou feito uma bola, inflando sem Telêmaco que afogara Ulisses na garganta do poema, e Erik Satie em fantasia épica mata cavaleiros do Norte por uma clave de fá, embebedando a Morte em Montmartre, minimalizando rupturas nos seios do Gés de Jacinta-liga, depois da chacota no charco de Paris, que se foda Valadon Vale-Nada, quero morrer etílico em itálica biografia sem coleção de guarda-chuvas que Caronte só quer óbolos e bolinhas de ecstasy uma droga moderna sintetizada cujo efeito na fisiologia humana é a diminuição da reabsorção da serotonina dopamina e noradrenalina no cérebro causando euforia e grande perda de líquidos um amigo morre com muito líquido no ventre preto e bonachão a mulher passa hidratante a irmã passa hidratante e a pe

TEM NEM SEMPRE COMO O DIABO

Tem uma parcela de mim  que é pequena e vive de espelho  pendurado no poema ...nem sempre. E essa parcela  mínima quer o bem estar  geral ...nem sempre. Tem esse caquinho de mim que tem fome não só fome mas sede não só sede mas vontade de criar fogos de papel e tinta ...nem sempre. Tem esse fragmentinho desejo de ser rochedo de erosão gradual indo aos poucos até o final ...nem sempre. Uma parcela de mim gosta de café com leite e bolim  confeitado ...nem sempre. Uma parte admira pessoas que alcançam sucesso filmes que terminam bem e amigos que cospem ...nem sempre. Tem essa região minúscula coragem pra qualquer disputa embora lhe faltem músculos e não lhe faltem desculpas ...nem sempre. Tem esse caco de mim esperança de escrever  in abstratu   a palavra ipê, jacatirão, de tal modo  que todos entendam  in concretu ...nem sempre. Nem sempre  me faço inteiro juntando sons  sem dinheiro ...meu estoque de..........acabou.

BEIJOS PRA 06 DE JUNHO DE 1992

Um beijo, mulher, e eu saio pela avenida 9 como um campeão do espaço profundo. Dois beijos e eu posso refazer o Rio Cubatão a que nomeies todos os peixes. Três beijos e eu posso pular num pé só por tantas horas quanto queiras o Rio Mogi. Quatro beijos e eu posso trazer-te a música que da terra ao céu cantavam os pés dos 5 Manoéis. Cinco beijos e eu posso subir a Ponte do Arco-Ìris ou até mesmo as Cotas junte ao Cotia-Pará pra teu deleite. Seis beijos e eu viro Peri mostrando prazeres pra ti redondo mas insano e quente sustentando-te o sentimento. Sete e eu sonho aqui. Setenta vezes sete beijos e de final viro começo mesmo em Juízo condenado a perder o logos,  log(r)ado.

"TAO" E QUAL URBANO

Na esquina, o TAO de Três Reis Mag(r)os E bandipoliciais não convidados. Balas como presente. E foto sem cabeça Nos jornais. Nos olhos A ausência de perspectivas. Crowley. Guerra dos Tronos. Eleições manipuladas.

SAPATO DE LADO

Eu também sou triste, Oitenta por cento das vezes,  Como um sombrio sapato de lado. Sou um chapéu escuro e pequeno Que não serve nem pra mancebo. Pensam que sou bravo Como um travesseiro Recheado de pedras do rim. Encontrei uma vaga na galeria E a preenchi com minha alegria. Galeria alegria, entendeu? Lá encontrei o  Amigo  Atemporal . Um amigo mais da alma que do espaço. Ele me disse que minha alma fedia a chapéu. Escuro e triste e com corcovas.... Perdi os cabelos. Quem os achar devolva. O endereço é o aeroporto de minha cabeça. Estou disfarçado de chapéu escuro. Corcundas crescem na minha aba. Vai ser fácil me localizar pelo fedor  de  úmido feltro. Não sei mais escrever senão denso. A chuva cai de viés na minha opacidade. O  N unca me dá sua filha Nada pra dançar.

RISO PELA METADE

Que haja a Arte, tá bem? Que tudo aconteça Como para a estréia. Que a queda seja a jato Com final aos saltos Em cada lado Da instalação. Desculpe o jeito Com que me perco Em desculpas Depois que inventaram A desculpa. Ficou fácil Olhar de lupa Pra trás de Cuba- Tao? Desculpe os olhos As pálpebras Sombras- Velhas córneas Cristalinas Olheiras Perdidas Na moldura. Desculpe o sonho Desculpe o gesto Desculpe o riso Pela metade Desculpe eu ser Não-ser-par(t)ido Bem apartado. Desculpe o turno Desculpe o andar Desculpe voar D'asas vencidas. Que minhas mãos Sempre desgarram, Metade em roubos, Outra catando Sobras de arroubos. Desculpe a morte Da letra infecta Que me persegue Em falsa letra Como zumbi. Desculpe eu terminar Aqui. Desculpe a sede de ser eterno. Desculpe o meu verão de inverno. Desculpe eu não terminar Como eu te disse ao começar. Desculpe eu não parar de falar. As ondas batem nas rochas. Mas quem circula em meu lugar No Walking Dead? Desculpe o amigo Que bebe e fede. Desculp

DANÇANTE O ASFALTO

Atravessa a avenida. Susto. Tropeça. Pressa. Tremem os óculos escuros. Risos no som de seus gestos clarificam o asfalto e suas flores. Seu vento doce não atrapalha os átomos do sangue à volta. Ontem ela se distraiu e bronzeou de beleza as faces do asfalto. Guardei na memória, por isso atropelo agora os olhos e digo "ação!" para o recomeço: A lua reluz o sol de novo na alquimia do ouro interno, de novo o asfalto em flor  dançante ao flautim nas nuvens.

DEI MINHAS PALAVRAS A FULANOS

Fulano pediu que fizesse um poema a que ele entregasse a uma tal de Alguém, uma com um reino em cada lado do sorriso, e com o dom de paralisar com o perfume aos machos mal saídos para a puberdade; fulano queria que ela o louvasse como a um bom amante e eu escrevi como se eu o fosse. O poema que fiz deu resultado. Estão casados desde ontem. Ele bebe como um porco embora belo. Ela gosta de palavras bonitas, que não são dele. E eu estou só fazendo flexões de chopp E mal riscando as mesas maltratadas. E ele com o poema que fiz obteve um teto, Grana e vinte reedições e deixou a tal de Alguém Para Ninguém afogar no mar de Camões. E com meu poema ele multiplicou seus herdeiros Em cada país do Ocidente. E eu que não aprendi a multiplicar me espalho riscando mesas maltratadas.

EMBORA DE NADA

Tudo estava escuro. As águas paradas  no oceano. Os ventos dormiam  entre as montanhas. A luz ainda  estava amarrada  à grande rocha. Os carros esperavam  o abrir do sinal. As mães aguardavam  o momento de chorar partidas. Executivos manipulavam  as estatísticas e julgavam. Baleias ainda descansavam  encostadas às ilhas, Mas com os dias contados. Até que a alma clareou,  embora de nada adiantasse ao livro que encalhava na banca do Ivo e por isso ia criando uma síndrome do pânico..

DESISTI

Da primeira vez que a vi, estava atrás de crisântemos. Escondido, não percebi  que ela queria me engolir. Da segunda vez, ela andava pelo jardim do velório. Os raios seus, sombrios, me miraram. Mas...escudou-me um branco círio. Até a terceira vez eu não dormi. Sonhei, sonhei, e sonhando, mal percebi a foice me riscando, e não sei como não sequei... Veio a terceira. A pedi. Eu na tumba e ela fedendo. Fugimos para o Hades... Minto. Desisti. Mas a Morte.. não desiste nunca...

RECONSTRUIU-SE

Armou o jeito febril De ser desejo e vento. Em pedaços,  A cidade de si Reconstruiu. Quando a olhou  No trânsito Entre a cozinha E o quarto, Embora um pouco lento, Recuperou o dom  Selvagem do afeto.

CAZZO KONG

Olha só que projeção faço pra ti, sem cinema. Olha só que poema, sim? Ele nasceu porque o vento trouxe de ti o perfume ao meu ser, um macaquinho, que o cheirou, ficou gigante, assim, foi se transformando, me tornando King-Kong pronto a proteger Ann Darrow, uma atriz de vaudeville.. Não, eu sei que não és ela. Sei que você é você. Posso te falar do filme? Ouça-me! Vai entender! Cinegrafista em fracasso... Você já assistiu então? Por que não me disse? Cazzo! Eu vi com Jessica Lange... E você? Viu com Naomi? Ou você viu King Kong do ano de 33, com a atriz de nome Fay? Não, não é nome feio. Você não vai responder? Você está me entendendo? Até aqui, pelo menos? Sou muito pretensioso, de ilusão não pequena. Você quer mais me entender? Eu também quero, sou sígnico. Quando me entender um pouco, deixo de bater pinico...

EFÊMERO CHOVENDO

Um escuro barqueiro Usa chuvas alheias Pra causar a morte. Torneiro das águas No esmeril da lira, Construo-me chuvas Para desviá-lo. Dizem ser eterno O que existe efêmero Em poemas Chovendo.

POR ARTES DO ÓDIO:BUM

Explodiu num corpo magro, um corpo olhando outro corpo, um homem crestando sépalas, foi assim um vaso inflando, chorando indícios: pétalas. Explodiu, pr'isso nasceu, sem profecia, esperança, com versos rotos, sandeus, foi assim de uma só vez num vulcão corolas quentes. Explodiu sobre a cidade esse coração de Vênus nu e be(s)atificado, desarmando o ser comum por artes do Ódio: BUM!

FERNANDO PESSO-HETEROFERA

As escaras que minha alma curou??? Eram escadas pra meu ser galgar. Em mim é bem calada a alma; sou??? Quando comecei a me ultrapassar. Por elas fui, no que restou-me. As escaras davam pesares. Mas o peso soube os patamares. Eram sem fim e tinham sons e sal. Eu - sem verso - subia sem dar prosa. Tantas vezes quedei nesses degraus. Eram muitas escadas e doíam Mas faziam nascer o bem do mal. Fernando as subira, heterofera. Nada então falara da intenção. Simplesmente foi pr'outras esferas Subindo escadas com vítreas mãos; Só com perguntas reinava n'alma (Sabe disso quem é rei de sua ação.)

PALAVRAS PRA HORA DE ACORDAR

Às vezes falo com palavras usadas. Elas dançam na cabeça dos fatos. Sabe uma mentira que é verdade?  Então é Arte. Às vezes falo por palavras/formiga. Há uma cócega individual de cada pezinho delas. Jamais virarão questões num vestibular. Vejo filosofias grandes em pequenas bactérias. Aprendi no barro, com Maneco Barros. Você me diz o quê? É sim. Uma verdade de mentira. Quando sonho, é que me aproximo mais do real. E ganho perguntas pra hora de acordar.

NUNCA E SEMPRE RESPIRAR

Eu já naveguei por mares mais oníricos. Avistei praias que me ensinaram areia. Mas aquela sereia que ali morre Numa esquina com jornais-morango, Neste não-onírico mundo na sarjeta, Mostra guelras dormentes de violência Aos meus olhos feitos de letras com pontas. Outra vez me encontro a regurgitar nos papéis. Fico fragilizado diante daquela sereia que ali morre. Meu coração é frágil como um filhotinho. Em meu ser todas as fontes têm poder. Ela quer me impedir de olhá-la com minha solidão. Logo eu que só sei viver assim. Com solidão consigo me mover por fora. Consigo dizer olá com ódio. Consigo matar baratas. E me sentar para preencher processos de horas Cheios de pedidos e revisões de relógios/cérberos. Sem ódios consigo segurar a caneta. Caneta que o ser sempre enche de tinta neutra. Sem me esforçar consigo mentir que sigo sem dor. Eu já naveguei remando com palavras escuras. Tropecei em ondas odiosas que me ensinaram. Corais de dívida-dúvida à Vida Me ensinara

PROVOCAÇÃO LÚCIDA DO ARTIGO O

Provocar-te a lucidez É acordar -me em ti. Teu curvar Curva o espaço E torna de flor o finito. As Mulheres que trazes dentro, De memórias em fluxo perpétuo,  Foram feitas para que febres? Poderíamos deitar, Tocar no desamor outra vez. A que percebesses meu estame Onde roçaste teus óvulos. Mas agora quero o café. Eu posso fazer um poema Enquanto te anavalhas. Sei que não notaste  O Deus que te impus Acompanhado  Pelo artigo definido  Masculino O. Como provocar-te a lucidez?

QUÊ DA TRAMELA QUEDA

Estou farto e imploro. Sou Fausto em poros? Onde está a alma? Mistério a sós do corvo Da Morte? Na porta falha Quê da tramela Queda. Há primavera-vida No inverno-eu? No branco coração do verbo, Queimam-me águas vivas. Afogo as artimanhas da frase Logrando os log(r)os delas. E assim, sigo a saga, Cego aos limites dos críticos? Estou cicatriz de razão? Mefisto ou Me-Afasto É jogo de palavras?