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Mostrando postagens de dezembro, 2014

A CORRIDA COM OUTRAS VOZES

Foi-se a voz de infância que eu tinha. Perdi ali no rio. Caiu quando me abaixei. Foi. Quando me abaixei pra pegar a bola. A bola ficou  adolescente. Fugiu ali pra ilha do futuro. Quando corri sem ligar ao que vinha. Quando corri para ganhar a láurea. A corrida com  as outras vozes,  Na areia movediça do sovaco de Deus.

O MENINO DIZ DAS POMBAS

O menino diz que as pombas  é que são superiores. Sempre aqui na praça. Seus olhos são sempre piedosos. Quando os homens pararem, as pombas. Elas construirão um novo mundo de pães. Os homens tomarão seus lugares nas praças. E terão muitas migalhas.

QUANDO ELA DEU ÁGUA

Quando ela deu água para ele beber, naquele poço que ficaria marcado  como conto infantil, imaginou que os olhos dele eram dois pássaros desinteressados, mas quando os viu abrirem as asas em cicatriz se apiedou e se despiu

MAS REVIVENDO

Brincadeiras estalando. E a pequena criança brinca de polícia e ladrão, levando e dando tiros, mas ressuscitando... À volta muitos aviões sátira ao real drogas patrões escolas gente boa gente ruim com céus limpos ou borrascosos.... Tiros voam como pássaros definitivos.

CORPO E SUA NOITE

A pretensão do corpo sempre foi assim, inobstante a raça, o poço das rugas, inobstante o tamanho, a riqueza, o mesmo de sempre, o corpo, inobstante a presença delas, as filhas de Nix, a Noite, a fiar, a puxar e enrolar o fio tecido, e a cortar o fio da vida de pobres, pretensiosas, moléculas de orgulho

TEU VIDRO

Na verdade, foi só uma criança de cruzamento Que foi presenteado com um sorriso de vitrine. Nasce Egeu virado no útero. Três são as tentativas do médico tirá-lo sem afetar a mãe. Na terceira, nasce. Três passarinhos numa gaiola próxima morrem e ressuscitam nesse dia. A partir do trânsito parado. O garoto Egeu bate no vidro. Você não abre. Passam anos.  Já adolescente, Egeu bate em seu vidro de novo. Você não abre. Mais anos. Eros e Tânatos na umidade do dia chuvoso um dia se apresentam. Dizem de nós: - São um gênero seco. Hoje mais um dia vai morrendo. Uma ilha. Um rio. Moléculas de ar. Uma mulher tece um tapete de verbos. Egeu sempre quis um boneco do Hércules. Faz piruetas frente aos carros. Depois vai à lojinha tentar comprar um com moedinhas que juntou. Volta noutro tempo. Ainda não dá. Um ciclope o observa. Um traficante que lhe propõe doze trabalhos. Primeiro costuraria em sua barriga três quilos. Depois, atiraria em três adultos. Não tem emprego pra todo mundo. Não tem consu

FLUTUANDO

O afogado vai flutuando, flores e folhas e algas se juntam aos peixes mortos que cria sob o braço direito, um dia ele viveu na superfície, amou, comeu, defecou, amou (ou pensou) e agora como um barco vai ao sabor da paz do rio  com odor de deuses mortos

TENTANDO A PALAVRA

A chuva das mãos tenta furar  a pedra-frase mas cega  pelo excesso de nuvem em seus dedos vai de lá pra cá de cá pra lá e tudo é lógico sobre a mesa como dois mais dois e a chuva tenta furar o bloqueio dos gestos de pedra com nuvem de sonho sempre que pode

A CAIXA DA ÁRVORE

Tirei a caixa de cima do guarda-roupa. Ícaro. No mar icário da cama a lancei. Lençol azul manchado de borra e porra. Montada a árvore, as mãos silenciaram. Os sofás azuis encapelaram um instante. Nossos navios quase foram ao fundo. Os galhos da árvore já com neve, sinos, bolas, estrelas artificiais, pisca-piscas, presentes minúsculos para as fadas dos pivôs dentários, tudo para acender a alma do natal, cheia de cupins trocando asas...