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Mostrando postagens de janeiro, 2015

PEDRO, PEDRINHA EM DOÇURA

Pedro, pedrinho, criança, Cujo riso estelar Ilumina Juliana, Siderando todo olhar. Cada dia Ju aprende Coisas pequenas que aliam O saber que é vida e acende Ao descobrir-se em magia. Todos na casa esquecem O rugir cotidiano No engatinhar de Pedro Que em Vida vai se esmerando. Uma criança que encanta Sua mãe com esperanças, Uma criança que invoca Mansidões em aliança. Pedro, pedrinho, criança, Cuja lua lume olhar, Cujo alma é feito mel, Noite em doçura e luar.

SOBRE SEMÂNTICA

Um dia, Cervantes, Falando, perdeu a semântica. Nesse dia, ficou em casa, Mexendo na infância de Beatriz. Pensou no inferno do seu limbo. Sua comunidade era no Paraíso. E inventou um R A P lendo o álbum de família .

SURGIMENTO

Um bêbado surgiu arrependido No toque de uma lembrança. Uma cicatriz em cada molécula sua. Cheirava o pó que vem no vento. Pó das narinas de um sol fervente. Uma gárgula fechava os olhos Pra não ver tanta dor num rosto. Só uma estátua apaixonada Vibrava. Destino dela: ouvir. Um bar. Um blues ao clarinete. Perto da praça onde estava. Ritmos da rua com becos na ilharga. Um poeta declama Funeral Blues. Insiste em se perder na memória. Aos ossos suculentos de poemas de W. H. Um bêbado poeta se ouve.

ARTE COMIGO DENTRO

Minha Arte é um ponto Que gera inumeráveis linhas E inesquecíveis rotas. Minha Arte é uma linha Que gera inumeráveis formas E irresgatáveis vindimas. Minha Arte é uma forma Que gera conteúdos infinitos E é. Comigo dentro. Moído. E sou.

MATAR O ESPELHO

Se eu soubesse curvar A foice da morte No pescoço do seu vazio, Se eu soubesse matar o espelho De seu quarto sombrio, De seu lacre ignoto, Se eu soubesse o ritmo do escuro Vale de sua morada, e o alagasse Com mansas águas, Mas não sei nada da morte, Nada de seu vale de escura flora, nem quando queima, nem quando afoga...

RONDA O POEMA

O poema ronda, Mesmo quando em sono, Vem como uma sonda, Fundo, verrumando O poema é fundo, Mesmo à superfície, Fácil na difícil Arte em que persiste Nossa alma abre Como fosse pele, Aderem no espaço Dez dedos à verve O poema solta Fogo e água, dura, Mole massa molda, Rija, quando apura Fala o poema e é mudo, Desnuda e é retalho, Brande arma e escudo Pra internas batalhas

ALMA CUJA SEDE

Alma, cuja sede é fome. Alma, cuja fome é dança. Cuja dança é fogo. Cujo fogo é manso. Alma, cujo desespero Tem muita esperança. E cuja tristeza Geme e falseia risos Por cima das mesas.

FRACASSO

Uma lisura, aos pedaços o real na gravura em farsa Eis a figura de um fracasso, e eu invento histórias: O gigante aproveita trovões pra dormir O anão escreve tratados sobre um pequeno ser com água benta no sangue A a noite trevosa cai de bêbada, a lua briga e cobra luz

SE APAGO

Se apago os olhos, calo a voz da cor dos seus olhos Se afogo os modos, dou atroz alô aos seus olhos A lgo como vinho e massa romana penso em razão dos seus olhos no retrato perdido

HOJE NÃO MAS ONTEM

Hoje, eu não consigo ver as coxas da poesia... Hoje, eu não consigo olhar seu sempre virgem sexo... Hoje, seus olhos tão lindos me fogem, sua pele mádida, seus cabelo luzidios.... Seus seios hoje estão sem auréola, mas ontem, mas ontem, me dava vontade de viver com seus frutos à boca

DEVANEIO SUICIDA

Quando eu morrer... todo suicida fala isso: quando eu morrer... Um poema pode nascer dessa tristeza de antecipar o afogamento das flores na enxurrada do não-pensar Porque se uma flor vai, o jardim continua... e isso não alivia nada

PRISIONEIRO

Falam de um prisioneiro no corredor da morte porque a vida em seu todo é um corredor da morte Falam de um prisioneiro das garras do tempo, guarda inconteste  de sua prisão em si mesmo Falam de um prisioneiro que sonha com uma velha  e enferrujada guilhotina feita de culpa e medo Falam dele que carrega  um fosco segredo de folhas secas, antigas asas de um mito invisível torto em algum céu solitário

OLHOS DE PINTURA

Entre seu tempo e o meu, trovões de ponteiro em ritmos de graal, era medieval Jogas tua urina da noite pela janela do quarto e me acertas, por mal, tez  medieval Há uma magia tal, efêmera como nós, com olhos de pintura, som medieval Fecho o livro... mas como fechar a mente?

DIZEM DE UM POETA

Dizem uns que poeta é quem namora a lua, outros dizem que poeta é quem sofre em dunas gráficas, outros que poeta é quem cozinha palavras com a alma das coisas, ainda outros que poeta é quem fala às mulheres coisas que um não-poeta falaria sem convicção, ou que poetas são vagabundos escuros de luz, ou que são pauta indecente de cantos proibidos aos religiosos que guardam a lei ante portões de conforto e sagração de invernos, ou que eles matam os fatos com desfaçatez, mas se os matassem não seriam fatos, são eles que cegam os homens nos livros sagrados, ao falarem do céu, do inferno, de onde ninguém volta, queimado que seja, só os corpos despejam na gaveta seus líquidos concretos, pegajosos e efêmeros, alheios às poesias ocultas nas profecias, no fim a poesia é um engodo, criados por seres em tecido, moléculas, átomos, como este aqui, que quanto mais menos dizem que..

PARA LÁ

Eu estou aqui. Por trás destas lágrimas. A água pesa e salga. Com meus olhos salgados Talvez se enxergassem mares ignotos. No entanto, arde o vento tanto Que a retina explode as hélices. Por trás destes moinhos espero Que passe a febre desatada. Por trás dos telhados Que como uma cortina de vidro Balança ao sofrer do granizo, Eu, espírito caminhante, teço uma elegia Ao festival de versos que me elege. Na cachoeira de ritmos  pesadelos colocaram sonhos. O que esperavam nos mil lados? Livros se acumulam, molhados, do outro lado das lágrimas. Luzes da cidade se intensificam, lágrimas sobre os faróis. Uma mão envolve uma caneta  embora para lá da criação.