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Mostrando postagens de junho, 2015

FIZ CAFÉ E FOI BOM

Fiz café e vi que foi bom. Fiz meu mundo e gostei. Cortei a fatia do pensar com que acordei. Sentei na cadeira de um rei que morr(eu). Compreendi que não há restos desaproveitáveis. Vasculhei a memória naquele canto empoeirado. Encontrei um cavalinho preto de plástico. Alimentava-o com comidas de besteiras jogadas. Dessendentava-o com água abestalhada. Blasfemava plasticamente. Plastificava-o mas ele não morria. Meu pai me fez um brinquedo de madeira. Um triciclista. Durou muito aquele menino ao triciclo. Não tinha nome. Eu só gostava daquele brinquedo Como de um grande amigo. Um grande melhor amigo. Tomei o café e cutuquei Um caroço desamigável de mosquito.

ENTENDO-ME?

Entendo-me como um desentendedor. O que está à frente dos olhos cria limo, por querer entrar na visão que tenho das coisas. Desnaufraguei da ilha de Acharkistoucerto. Sei que há mistérios na pele que ignoro. Ignoro mistérios ou a pele? Esqueço de banhar os poemas. Fedem ao eu de máscaras feito. Tirei uma foto do pensamento justo. Estava baça, não enxerguei a essência. Talvez deva fazer outra coisa com as palavras. Talvez deva deixá-las no teto pra secar. Onde há grama para deitar o fluxo das coisas? Desentendo.

ENGATADO NO VAZIO

Nunca disse que faria bom ou ruim. Só admiti que talvez na noite eu plante gatos em cada verso magro. A noite é boa para os absurdos. Para minha casa não voar amarro-a no pensamento de um pássaro. Quando sonho, vivo de verdade todos os anseios desmazelados. Tenho uma orquestra de mosquitos, pago-os com o sangue das dez horas. Com meu ronco, alimento a mudez do criado-mudo. Meus olhos são pequenos para as órbitas não fugirem. Meus sonhos existirão, a preceder essências? Daqui há pouco, durmo engatado no vazio.

BALANÇO NAS NEBULOSAS

A música balança as nebulosas, brilhantes cabeleiras na noite, viajo na pele de varíola da lua. Não há bafos que não sejam de sonhos. Uma mariposa ronda a luz de casa. Há olhos em seu voo. A morte me espera, finjo que não a noto, ela fica nua para mim. Finjo que não a desejo. Um beijo. Moiras dividem um. Luas na nuca. Foto.

NAS ÁRVORES DE ONTEM

Quando cheguei em ti com um hino roubado a Dionísio, um raio roubado a Zeus, um perfume roubado a Vênus, estavas no enredo Com a ajuda das Musas criei para ti um tapete de poemas a que deitasses mansamente e sonhasses o que quisesses, esperei.... Conhecemo-nos de novo, Tu disseste, eu já fui tua, Tu disseste isso e eu teci com palavras nossa Igreja, pois, tinha fé no que me disseste por teu corpo e alma e além Olhei em teus olhos e me achei, eu estava lá, Lúcia, eu estava lá e o brilho de tuas retinas formaram lagos nos quais me atirei Cúmplices, em audácia, voamos nas aves de fogo da aurora, ao sabor dos ventos misteriosos do superior afeto, Sentamos nas árvores do amor até que de dentro brotassem nossas esperanças-flor para o Jardim do Tempo

STRESS DE PASSARINHO

Já lá vão meses do ano novo, Mais que os dez anos de Ulisses, Os fogos foram disparados Como um pensamento de amor  Das flechas de um mito Seis meses completos, Fogos de artifício, Olhávamos da praia Os céus que teciam nossos olhares Cores magníficas, Cogumelos de estrelas trançadas, Sete ondinhas todos pulavam Não perceberam o stress Dos pássaros que caíram Como aqueles rebeldes anjos Por entre o barulho dos fogos Pássaros tem stress Como todo mundo, E tem passarinhos com chupetas E choram diante de artifícios 4.000 pássaros morreram misteriosamente, Como a vontade de ficar de pé neste momento, Como este hambúrguer morre na minha boca, Depois de ser torturado na frigideira

COM TUDO QUE LEIO E SINTO

Tinha um caminhão chevrolet, um livro sobre o socialismo e vários folhetos de cordel, entre eles de João Acaba-Mundo, que lia até que acabasse o Mundo Claro do Dia. E minha mãe o amava. Todos o amávamos. Conhecíamos seu cheiro. Carregava cascalho e enxofre. Seu caminhão tossia. Um dia ele disse:  vou ser meu, já! Foi quando comprou o carro com tosse. Foi ficando oleoso, com graxa. Sempre embaixo do carro. Me pedia a chave de boca. Eu entregava, boca fechada. Me pedia o virabrequim. Era mui pesado. Ele sorria. - Vá ler um cordel! Eu ia. Li muitos cordéis. Que se enlaçaram no meu ser. Sobre Lampião, Corisco, etc. e tal. Embaralharam lá dentro Na armadura de Dom Quixote Feita de pensamento e sonho. Hoje, ele está dentro de mim Com tudo que li e leio e sinto. Vez em quando escuto uma tosse Bem fraquinha no beco da memória.

AMO-TE LUZ

Amo os teus olhos de fazer risco nas imagens. Os teus braços a entrançarem no teclado. Os teus óculos porque te roçam. Amo a poesia rimada que te faz brega. Amo o som que escutas, embora vibrem demasiado. Amo tua piedade para com as coisas. Para com as filhas, os amigos. Amo o ar em que respiras ritmando. Amo-te a crença nos castelos medievos em que te matei. Matei? Porque eu era gordo, barbudo, com dentadura de madeira. Só que era bom espadachim, o que foi ruim para teu amante. Me disseste isso. Ainda me lembrarei. Hoje estamos regenerad….é melhor esperar mais um pouco? Amo observar tua crítica aos poetas que se elogiam na rede, Deitados na rede do sentido con/temp/errôneo da contemporaneidade Que balança para os escolhidos da época. Esta época lhes cabe. Os longamente amados dos editoriais. Dom Quixote se aproxima. O Moinho é antigo. Estou pendurado em suas hélices. Tu giras comigo.

ESCREVO E SAEM

Escrevo e saem as montanhas a voar. Escrevo e começo a andar no teto. Escrevo e começo a correr pelas paredes esbatendo os vértices. Não preciso que me digam que sou poesia sangrando. Escorro como escrevo. Escrevo sem pedir socorro. Uma palavra se pareceu com outra? Deixa correr. Rimo demais? Deixa. É construção espelhada. Não preciso que me falem das ruas. Sou as ruas. Não as que conheço. Mas as que desconheces. Estou no berço constantemente. E sou o vento de seu balançar-me.

SOB TUA PALAVR'ÁRVORE

Cada vez que penso, a poesia se enfeita. Penso com os olhos fechados, abertos para dentro. E cada vez que me fecho o mergulho é mais fundo. Pretendo mergulhar até o outro lado de tudo. Talvez assim eu me ache nada pleno de vazios cheios. E possa quiçá dançar um tango com a poesia. Um tango com os globos oculares ausentes. Que ao fim ela, a poesia, se canse de mim. E me empurre nos espinhos que plantei nos fatos. E me mande lavar louças no Aquer'Ontem. E cuspa em mim seu cuspe doce como algodão dócil. Depois, que me levantem as mãos do sonho. Drogado de realidade. Sem reputação. Assim, em desequilíbrio, o sonho macule. Me faça prender entre grades sistemáticas. Que me renegue delírios. Que me faça condenar aprisionado nos dias. E se os dias forem largos, que eu seja preso nas horas esquecidas, Ou nos minutos, ou nos segundos sem lembrança. Isso é porque estou pensando. Pensando. Pensando. Pensando. Pensando. Apenso para dentro. Que ao fim, me canse e descanse

FLOR ESTA QUE

...Fazer um poema claro todo mundo enxergaria menos o cego completo no verbo a fazer o corte. ...Mas se a vida é metro curto sem claro e escuro certo resulta que o tempo é pouco para a absoluta régua. ...Fazer um poema claro para fatos-redemoinho cujo fim tranquilo é raro qualquer um aceitaria ...Mas fazer escuro e claro Misturando mel com fel Dá mais brilho e distancia O escritor de Babel.

DA BONDADE

Somos bondosos? Há quem diga que a bondade é natural. Até os maldosos. Os maldosos exercem sua bondade com fúria. Olhamos o próximo. Se o olhar desvia, desviamos nossa bondade. Como os pardais e pombas. Sujam sem saber que estão sendo bondosos. A bondade dos pássaros aos auxiliares de limpeza. Graças aos pássaros eles limpam. A morte é bondosa. Não avisa. Chega simplesmente. A vida é bondosa. Não avisa. É-nos dada simplesmente. Não querem ser bons com o magoado, o medroso, o inseguro. Querem ser bons com os seus. A bondade atravessa o mar. A bondade trepa em caravelas. A bondade penteia as algas excitadas. A bondade nas rochas. Estilhaçada. Para se recompor mais adiante. O olhar imaturo dos que não sabem ser bons. Não sendo bons, não sabem ser maus. Mas há maldade no excesso de bondade. Como há bondade no excesso de maldade. A mulher e o homem crucificados no excesso de convicções. Precisam de algo para ser bons de modo verdadeiro. Precisam de equilíbrio. A bondade chega e senta à mes

OS DENTES DE DENTRO

estou presente e testemunho no agora a volta das rochas enegrecidas aos vazios castelos em ruínas estou presente e presencio o retorno do velho homem do martelo testemunho o pranto que está prestes a vir ao rosto da cansada mãe e o trigo a apodrecer testemunho na antiga tela do pintor insano o insano é lúcido vejo um coisa a protestar da liberdade de um homem em pintar o sagrado com suas próprias cores numa cruz e este coisa cujo nome é número tem seu sentir numa urna eleitoral vejam seus dentes na TV escovados com o creme hipocrisia vejam como ele defende seu loiro deus do deus que há no outro cuja voz sangra palavras proibidas e é negro branco amarelo e rubro vejam seu mavioso terno vejam seus maviosos amigos no navio da pretensão de virar o mar em céu testemunho o pranto das mães que em medo rezam diante da obrigatória cruz nos edifícios nos catres nos potes nos pratos nos copos nos fatos não há mais tempo só templos fora do temp(l)o interno mas... temam também os dentes de dentro