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Mostrando postagens de agosto, 2015

ESTAQUEAMENTO DO AMOR

Minha cadela honesta, cumpridora de seus deveres caninos, se pós graduou em cheiros diversos; especialista em perfumes acantonados, cheira becos, frestas, papéis, esquinas, vértices, esferas, paralelogramos urbanos, buracos, narizes, cotovelos, dedos, mãos, cocôs, xixis, pés de mesa, de cadeira, cabelos, e cada vez que caminha, traça junções, lambendo pedras meladas restos estradas atenta a todas as direções estendendo narinas aguardando o momento de chegar e de avistar ao longe a porta as colunas ao lado a essência dos donos que estabelece lembranças o sustentáculo em cima do aconchego o estaqueamento do amor em ração carinho e água e passeios até que ela durma em casa num simulacro de marquise como a do mendigo que anoitece e me pediu cigarros que não dei por não fumar eu costumo negar cigarros com prazer

RAULZITO

Senhora Dona Persona, E toda gente, me escutem: Nasceu em solo baiano Como Raul Seixas Santos Nosso maluco beleza. Fez-se lobo “kavernista” Em sessão das dez, uivando, Derrubando sopa em mosca, No luar de si pairando. Tentou o ouro de tolo, Mas não quis esse caminho, Embora cheio de sorte, Pois seu sonho sob os astros, E sob a luz foi mais forte. Ao luar ele fez vôo Raso, largo e bem profundo. Fez o seu cantar famoso Nos pegues-pagues do mundo. Criou um rock gostoso, Melado em baião, xaxado, Tango e bolero sestroso, Saindo um som dos diachos, Sem mal, mas malicioso. Sempre tentando outra vez, Mordeu maçãs com verdade, Rezando à Ave-Maria Por mais criatividade. Não desapontou o povo Compondo belas canções, Dando aos pedros brasílios Uma obra de valor, Com lucidez na loucura Sem conselho ruim, careta, De há dez mil anos atrás, Buscando cedo as respostas, Pois saber nunca é demais. Alertando contra abusos, Tinha audácia em suas vistas, Sempre na frente da vida, Sob o olhar dos fascistas.

BENG BANG

O Universo em nós, vulcões nos sóis-átomos, explosões inaudíveis aos ouvidos falhos A alma, apenas pretexto ao ínfimo que à frente move, por si, em si, infame, vil Um átomo comanda, cânceres espreitam o corpo e seu descuido, doenças  avançam, lutas, naves se chocam na psiquê,  glóbulos em fúria-fluxo nos planetas  órgãos

F LUA AB AETERNO

Disse H: - Por mais que se chore,  ao final sempre assoamos o nariz. Ao seu lado, no bar, estava K, escondido do pai, enchendo  o nariz de pó de mata - baratas, droga espalhada pelos trouxas. Aff, cara! O dia.... O dia prosseguia  sem ligar para aquilo tudo, esperando pra fumar a lua espetada no lençol da noite. O dia, que espetou a lua, não podia aparecer, mas, ao crepúsculo, no finalzinho, aproveitava e botava pra  f a lua ab aeterno por trás do escuro da pontinha da estação da Via Láctea Por isso que os dias estão rubros de tanto brisarem de noitinha

ÓBITOS BARATOS

Os óbitos  das baratas  na  mesa. Fui presto. Fui rápido. Mosquitos também insistem em morrer aqui em casa. Como o inseticida acabou, conto outra vez as baratas e no corpo a corpo tenho de arrancar as asas da palavra barata uma a uma. Não tenho método pra isso.

ELA - A MENDIGA ASTRONAUTA (POEMA I)

De qual paraíso ou planeta ela veio, eu não sei ao fim e ao cabo. Um lugar onde ninguém ousou ir? Não de Atlântida ou de Xanadu. Mas, sei que passeia entre meteoritos de nojo e indiferença. E sei que não tem emprego, afeto, skate. Conhece toda a cidade quando acorda para esquecer quando se deita. Alimenta-se com as pombas. Banha-se ela com os sapos. E aposta cuspe à distância com ratos e colibris. Já a vi comer das mãos inseguras de uma senhora com bengala de sóis. Sim, seria uma boa empacotadora. Cata sacos como ninguém. Veste-se de modo independente. Se quer mijar, faz no canto da Igreja, Bem na madrugada, escondidinha. Embora com a permissão dos santos, a família Santos, dona do terreno, não deu permissão, porém. Jogou suas roupas no fogo... Deu graças que não jogaram os plásticos. Ela é uma astronauta urbana, Tem saudade das calças plásticas. E sacos plásticos dão som ao recheio de suas roupas. Eis que vejo-a num l

TRAVESSIA NOVE

( Urbana Paisagem) Corta a cidade, a atravessa, a grande avenida, como um pensamento atravessado por uma malícia, a avenida lembrando um fio de carícia no rosto da cidade, o sexo a penetrar a cidade, a grande avenida nove, serpente de asfalto e fome, fome de pneus, de calçados de corredores, calçados de madames, moças, pés descalços, pequenos ratos, cachorros, acidentes, paradas, desfiles, a grande avenida nove, com história de escravos atrás de si, corta a cidade a nove como o rio de João, o talhe de Maria na carne do tempo, como o sonho de Martins furando o real, como a moto no corredor, atalho à minha pequena casa-cidade, onde pérolas nascem e renascem no coração da concha-lar O sangue da cidade nessa grande avenida empoeirada e melada de ambições, ideais concretos, ou de concreto, asfalto, fezes de cachorro, uma grande cauda de um extremo a outro, uma grande cauda de vestido azul, quantos exploradores ali perpetraram assaltos legais e ilegais, jogos de avenida-cobra-tentadora-arr

HUMANIDADE

Começo das estações no palco: Comecei falando  Da merda com Prometeu. Hércules ainda não chegara. A Águia queria tirar-lhe a alma. Mas tinha um bico muito concreto. O hálito seco  do sopro da rocha. O esboroar do espaço denso  e o silêncio da platéia. O gume da luz  nos cegos de olhos de pré-fim(de quem?). Bagas de poeira nas máscaras dos gestos. O mendigo com apenas um caixote para dormir,  dois sapatos sem sola e miolos  espalhados de faz-de-conta. Subir no caixote indica coragem. A Coragem, uma mosca nua, facas nas asas. Romeu vê jacarés frente ao shopping  subindo pelos preços. O gume da sombra no fígado de Prometeu entupido de amor e luz e sujeira das drogas dos becos. Prometeu abanava a orelha direita e só eu percebia.  O único que amou o mundo. Só eu o via. O sarnento. Prometeu é lá nome de cachorro! Me dizia o outro eu, na lata. O nome do cão era Jesus antes. Mas volta e meia acendiam velas Em torno de sua casinha minha. Prometi a mim mesmo mudar-lhe o n

SOU A SOBRA QUE DÓI NAS SOBRANCELHAS

Eu sou o sol que som... Sou a lua que luz... Sou o tapete no qual mosquei.. E o escrito? Tudo acabou? O que começou? Eu sou o carro. O cão de orelhas murchas Na frente dos bois. Depois. O pássaro sem noção de vento. Sou o poema que se perdeu dos olhos. Tudo foi em vão? Do. Da. O que começou? Sou o cavalo gerado por mãe-formiga. Sou o assunto que não se inicia. Sou o tema que ninguém glosa. Sou o oceano que imita a si mesmo. Para que servi, Tempo? Para o som de corpo que se perdeu? Sou o abraço sem braços. O beijo sem bocas. O braço reto da curva. A sombra sem origem. Para que existo? Se vivo do que morre na memória? Não sirvo à merda de um texto único. E sirvo também. Antes que me peçam Que eu exista como régua, compasso E transferi- DOR.

JOGAREI EM TEU CAMINHO

Jogarei em teu caminho gotas de riffs de guitarra roubados de bandas que nunca foram avante por inveja dos pássaros emplumados Não escaparei da vida, criarei jardins onde flores nascerão com sua face de baterias estouradas Pararei o universo com baixos feitos do arvoredo que há em volta de cada pensamento de ódio e atearei fogo em toda a memória onde não estejas presente Batucarei nas estrelas, sangrarei anjos caindo pra começo de conversa, enquanto todos enlouquecerão com o som das entranhas do trovão, ao te contemplarem o indefinível olhar