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Mostrando postagens de dezembro, 2015

O AMOR DOS MAUS

Hitler teve uma mulher que o amou. Mao teve uma meiga namorada. O ditador Franco fazia poemas incomparáveis e ridículos de amor. Idi Amin, antes de comer crianças, fazia declarações e amava sua mulher. Antes de morderem, As amadas lhes diziam ternuras com incêndio orbitando nas flores do sexo. Como entender o que é difícil?

MORDENDO O MAXIXE

Mexe o corpo, minha gente, Que isso lembra o maxixe. Lundu, polca, habanera, São avós deste sambuíche. Canta lá, trovão, Vê se fala manso! Cê tá sem noção, Grande manipanço? Em todo samba e lambada, O maxixe é relembrado, Calorosos nos meneios, No jogo do rebolado. Mas te amo, veja. Se te faço inveja, Faça assim também, E me ame ou nem! Cupido foi bem criado, Por entre abelhas cresceu, Mas tropeçou no maxixe, Sua alma enlouqueceu. Por isso, essa dança Arrocha no eu, Parafuso e rosca, No claro e no breu.

PARA LÚ OLIVER

Lúcia Luz Que ilumina estes cômodos De alma com umidade, Onde o espaço grassa E mete as unhas. Luz Lúcia Luz Que segura meus telhados Antigos que se desfazem Sobre caibros milenares E verdes e tortos. Lúcia Luz luzindo, Estou de novo em França Onde era  Um tronco rugoso e barbudo E te atravessava com  Espinhos enciumados melados na seiva Da paixão doentia. Lúcia Que ilumina este quintal, Onde uma arca se abre E recebe minhas feras Que herdaram da Idade Média Patas que te marcam com misoginias Religiosas.  Estou encarnado aqui Neste lodo de grafite, Com a alma apalavrada Em sintaxes preguiçosas. Te digo: A arca navega Sobre o sangue do tempo E o poeta apenas vai sendo levado Pelo papel onde cola espelhos.

DAS BEIRADAS DA INQUISIÇÃO

Das beiras dos bosques onde receitaram rezas para o fígado e o coração, ervas para a febre, a erisipela, e outras dores (in)conexas, das beiras das piras onde queimaram, por terem cabelos vermelhos, ou uma mancha sacra nos joelhos, das bordas dos homens que lhes odiaram, e lhes romperam, dessas bordas ficaram sem vingança nos tanques, servindo religiões  de seus homens, que falam de um Grande Homem que as julgará, com Seu Filho, que lhes olhará, sem culpa, com as órbitas de olhos amorosos prendendo-as em conceitos de Heroínas do Lar, sacrificadas ao eterno amor

NA ORELHA DOS FATOS

Lá longe no escuro na avenida a meio amigos de infância se roem e cheiram nos banheiros fétidos Uma jovem vem cambaleando de seus quinze anos se imaginando a super-modelo, enganando a todos no celular brincando com as consequências do faz o que tu queres Seu anjo-mau foi no lixo da esquina e já refocilou seus neurônios no mesclado As luas de seus sonhos são sentimentos maternos com leite vazando dos seios pinos de coca em fratura exposta A noite avança escura e clara como um ovo sideral estalado na face da galáxia Ela vem em minha direção e a cadela no fim da corrente me avisa antecipadamente da sombra que almeja devorá-la Em seus olhos os pássaros da náusea dão nódoas com papelotes e ervas e a dor canta qual contralto nas orelhas dos fatos

PARA AKHMÁTOVA

Seu primeiro marido fuzilado. O segundo com tísica. Seu terceiro marido concentrado num campo. Para eles a volta ao pó? Tenho o direito ao superficial fervor? Seus passos nos espinhos do Gulag. Sua poesia a se vender por amor. Para ela a volta ao pó? Seu primeiro poema em Leningrado. Os seus muitos xales do agrado de quem por si se apaixonou. Sua poesia-sentimento. Para eles a volta ao pó? Hoje tem poeta que só gado. E tudo que eu sei é superfície. Mas quem sabe mesmo do mar profundo? Mas há quem diga conhecê-lo. Palmas pra eles que o teorizam. Todos eles querem saber e o amor sempre exigente do leitor com o seu espanto. Para eles a volta ao pó? São os versos de Ana banhados de dor qual Florbela dando assim mais força à Dor Maior. Desde o nascimento, ou pouco adiante, sofreu a beleza até o fim, desatando distâncias por dentro. Para mim, o pó se aproxima. O cachorro está alimentado. Com correntes, perdido para Libertas. Vira-Latas. E eu escuto a pretensão no vídeo cansativo do crítico

O FEICE FELIZ

Olha só como estou feliz. Tudo dando certo. Diz o feice azul. Olha só como infeliz Contador mostra o seu nariz. Olha só o selfie. Meu louco sorriso. Leve e deformado.. Tudo é muito fora. Dentro é muito pouco. Esta é minha mãe. Meu pai, meus avós. Esta é minha casa. Estas - minhas asas. Cães na casa ao lado. Mostro tudo a vós. Tudo é muito fora. Facebook o morto Ao qual maquiamos. Luz só na caverna.

FLUTUANTES

O sol sentido pelas frestas da janela. O prazer de dar bom-dia a torto e a direito. O prazer de sair sob o vento. De sentir as ondas de vida no espírito. De sentir as ondas de mar nos pés. De comer comida quente Junto ao velho livro sem capas. Passear com o cão. O tempo suando em lugar nenhum, Ficar sentado perseguindo o nada Com preguiças acumuladas, Como asinhas soltas de moscas anciãs Flutuantes. Trabalhar dobrado, estressar, No olhar amado permanecer Ou se reconstruir em seu sexo. Prazer até no desprazer De se prezar finito e continuar.

LÁ UMA CÁ OUTRO

Lá uma Cá outro Um trisca o Outro bisca Por fora Por dentro Paradoxos Concêntricos Lá uma Cá ó Embora Um só Sós, sem periscópios, Petiscam na esquina Os ossos dos copos A horas mortas E nascem e vivem e dormem Na página zero do livro urbano Chamado Inconsciência

ALMA ENDIVIDADA

Sempre há diferentes reinos. E um homem por vezes é um trono em que algum deus senta. Um cão fareja a toda a hora o que o homem é. O focinho de um cão é a sua mente humana. Por farejarmos com a mente, lati-pensamos muito. O tempo vai escoando enquanto isso. E alma endividada desespera : perdeu, perdeu! Acaba sendo assassinada pela Estrada.

VÍCIO

Eis os traços negros Espelhando a morte. No urbano manto A nódoa e o corte. Eis a rua e o roubo E o rumo e o susto, O escrito avança No espaço a custo. E assim escrevo Esta noite, e a deixo. O humano esguia Do interno eixo. E um poeta gira No eterno vício De escrever a vida Sobre um precipício.