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Mostrando postagens de 2016

VITAL POEMA TAL

Fazer um poema vital é pegar a vida, tocar, cortar, doer e ser no papel o que seus sonhos nunca sonharam que você fosse. E quando acabar, surpreender-se com uma face ao espelho toda enluarada de sol, transgredindo,  ao pichar nos olhos afiados a enviesada carne. Acabar?

A CRIANÇA APONTA OU AUSENTES

Sem que o tempo importe, Há poemas-portas: Sonhos-música. As chaves são Recurvadas Memórias. Tudo é volta. Vês nas mãos Da Vida um simulacro de Lâminas bem finas? Frágeis aportes De irreal atrito. A criança aponta Retratos de névoa. E ao que é de ontem Dás riso e sonho Sem fronteiras. Ter às costas Asas em palitos, Passado insone, Varetas quebradiças, Dificulta espaços... Fogos molham, Riscos entortam Piões, gol caixotes, E inocências ausentes.

ESPARRAMADOS

Penetrei surdamente neste reino denso, mas escorreguei em xixis-sintaxe, depois me levantei e vi palavras a dormirem todas na sala, drogadas de romances de contos e crônicas, esparramados pelos cantos, veio se aproximando Signo, o gato que descrio quando crio, o rabo abanando como ideia balouçante

IMPOSIÇÃO

Os que nos impõem Como verdades suas cascas Invocam através das telas Horizontes de não-ser. O ser em fragmentos É o que impõem-nos Anencéfalas frases feitas Nascidas de fora.

ESTAR NA FÁBULA

Há muito estamos nas fábulas. Elas nos contêm. Me torno o lobo das águas de dentro. E devoro a narração. E me torno o narrador. Da fábula que me envolve. Como uma selva mística. Onde o tempo devora. Mas não a fábula dele. Um bicho estende a mão. O frio a congela.

AMAR É NÃO SABER NADA

Dois pontos, não muitos: Amar te revela. Amar te esconde.  Amar passa perto. Quando não passa longe. Amar é se abaixar pra acariciar uma formiga.  É se levantar pra pentear o sol. Amar é castigar a si mesmo.  Talvez o próximo também.  Amar é atirar a esmo. Talvez mirar e acertar. É andar de bicicleta num fio de água. Voar no fogo. Amar é pedir pra te atirarem das nuvens. Ou praticar a obsessão de não pensar. Amar é fazer palhaçadas até quebrar o espelho. Ou mergulhar na ponta de uma mágoa. Amar é vingar o desamor. É lamber o corpo das coisas. Amar é enfiar a cara num bolo e os dedos na tomada da insônia. Amar é nascer pra isso: amar sem exigir retorno. Quase. É respirar santidade escorregando num pecado sem perdão. Amar é não saber nada de amar. É se arrepender de definir o amor. É ser vilão querendo ser mocinho. É ser mocinho ante a vilania. Amar é libertar pássaros e sorrir feito bobo encantado. Amar é ser farol, solitário, mas dando direção ao que se perde.

TROPEÇO VÁRIAS VEZES

Não tenho uma tez límpida. Tropeço várias vezes. Entorpecido de ego. E do espelho estouro os tímpanos. Entorpecido de ego. Não tenho que fingir ofertar. O que ainda nem tenho. O que ainda vou mentir? Mas tenho esta alma pura. Com pétalas eróticas? Acredito em nuvens do céu. Quando ninguém está perto. É como lembrar da infância. Mortos a facadas nas valas. Era assim nas ruas perto daqui. Me arrependerei bastante. Quanto falta? O ego pensa ser eterno.   (Não posso mostrar este poema às crianças?)

CORPOSDECORPOS

Em movimentos tridimensionais surgem nossos caracteres na tela dos dentes do Tempo e tudo começa mordido numa sinfonia de envolvimento. Posso dizer: não sei. Ou sei. O Tempo  O Tempo. Os caracteres de nossas vidas nossas mortes pequenas e várias nossos controles remotos nossos fios antenas e mentes em MDF. O Espaço O Espaço sempre mínimo para o afeto para a pele com a pele o baú do dia-a-dia a amada no poste no sol do rosto na lua do corpo com suas sabedorias na mesa do outro corpo com farofa carne e apetites sem trabalho não se ganha a arte apesar de tudo com fome não se faz arte com sede não se faz arte mas a arte apesar sua leveza sobre nós corpos de corpos de outros corpos. Amém.

FINITO DO ODOR

Hoje só andar mole hoje só chutar pedras com o olhar  dilemas a aplacar medos de multidões aplicar cantos que expressem centrais lençóis hoje só somente hoje consigo hoje é meu objetivo remar no placar de pautas de amor a explicar inexplicáveis fontes bocas olhos como barcos emplacar o transitivo no que ressona e fere hoje e é hoje metástase do que nos sobra resta focar o que replica sem metafísica plaqueta do que nos sangra e zera sem meandros aplacar os ais no azul de ausente crânio hoje enfim me quereria calmo sem ventos sem pensares seguindo infinitamente no absoluto palco mínimo do acordar com dentes por escovar e disfarçar o finito do odor

A FLOR DA VOZ

Perde o seu feeling no dia a noite é vento à fronte folhas em luta na alma em rede a vida ao rés na estação um que não parou enfrentou a estrada e a própria crônica viveu como sonhou outra retórica

AGRADEÇO A QUEM

Agradeço a quem este penhasco Que ameaça esta alma sem sabor Causando um pequeníssimo fiasco De medo no corpo sem calor? Agradeço a quem esta molhada Sorte que vomita a meus pés? Àquele ser velho e de nada Que sacode o espelho através? Agradeço a quem esta alma ilhada Em vãs filosofias de cafés, Que entorta deduções destrambelhadas? Agradeço a quem se no viés Deste jogo de cartas inflamadas, A Morte diz: bati, um ás com dez!

A REALIDADE É UM CHORÃO

Libertei o quê das correntes. Libertei o proibido pensar das mordaças. Abri as gaiolas das gaiolas. E dei asas ao acumulado na consciência. E não ocorreu nada até que ajeitasse as câmeras. Até que ajustasse o foco. A luz. A sombra. O palco. Se trata de criar irrealidades dessa liberdade. A realidade é um chorão na beira do rio.

NO PAPEL SANGRANDO

Assim, o ataque. Os dedos na carne do papel. O papel sangrando. O tempo redondo. Mas há o velho modo. Carinhoso. Há a diferença. Como saber? Há muita subjetividade no papel com alma. Pele de alma há que se engrossa no papel. Pele há que se afina no papel. O papel geme mas só quem o acarinha ou esgana ouve. O poeta esse. Que põe as mãos e enxerga em outra linha Inversa e sonsa a veia do papel. E a destina tanto o carinho como o chicote.  Sair de um estado de escuros. Não é fácil compreender a luta do poeta e seu papel. O que virá no ouro da pós-orelha do livro Que está no leitor?

SORDIDEZ

Sordidez  no encontro das esquinas. O cheiro humano  na cartilagem  da violência. Fratura envergonhada  no crânio de papelão. Cortou-lhe tanto o pé do frio que uivou tremendo as crateras da lua.

DANÇANDO O ESPAÇO

Com um furor  Nas lascas do dedo, Com anseio morto, Borrei-me no verso. Urgia a ressurreição dos Versos para os cabelos do lápis, Após assumir o cheiro De mudanças constantes. Mas por estar sempre mudando, Por vezes, deixo o tempo, E danço o aço no espaço. A sós.

TORTO EM TEMPO

Por instintos de instantes, Tecemos facas amoladas em fogo Sobre o amor de medo e paina A cada vez que declaramos Dores de instante a instante, E assim variadamente Aprofundamos sem pele O relógio torto da consciência De se entortar de mentiras

MITO VOYEUR

Dálias de ouro,  em sol líquido, chupando árvores  no corpo do vento. O mito, a se desprender  das ramas, voyeur despetalando o olhar  em  mirra, incenso  e corpo em memória.

FOGO E SAL DOCE

Gerânios,  cabeleiras rubras, escancarada beleza,  celeiro de chips-dragões na aurora  do amor. Mulheres que moldam mosaicos nas vitrinas de notebooks soldam céus com sons de fogo e sal doce.

SOBRE AS ONDAS

Num inexato instante Desfiando Mágoa flutuante Mas sem tento Naquela sua nudez De ilha  A adormecer Pulou o amor de vez Sobre  As ondas E em nascente ferida Tatuada  Na virilha-coração Fez-se prisma Distante Ainda a quilha De Caronte

SOMOS SI

Lá fora mais uma morte. E sinto-lhe as asas rente Enquanto os pecadores Posam para a foto Do Grande Peixe. Dentro do ônibus o medo. O piloto quer parar. Ninguém sai de si. Somos cidadãos. Somos Si. A morte também está dentro. Quer chegar logo.

SOPINHA DE AMOR

Não há quem seja silente Após sopinha de amor. As bocas meladas de eros Divinas pela metade. Nas sopinhas os amantes Chafurdam sem ver metades. São sopinhas adoráveis Feitas no céu dos desejos. Mas amor nunca foi sopa De sabores racionais.

O MAR ENTRE

Lembras: o mar se abria Por entre as pernas-mães. Lembro, o sol cosia, Enquanto fervilhava. Lembras, o vento do eu Já relampeava. Mil formas no mar Escalavravam. Nasceste morrendo, Mas já contavas. Tanta confiança  Pra quê, se não sou?

TEMPO MORTO

O tempo acumulado na ruga tornou-se o vale o sulco do homem em seu 3 X 4 submisso a desarticulações Onde mais tempo para brincar de seriedades? Sim: o suor do ponteiro no féretro da parede

DESVIANTE

Se sei o que o poema é, da vida real sei nunca, não sei da poesia os pés, sou hábil em gavetas Se beijo o que o poema fala, pretensão de sapo em fábula, se digo que isto é isto, isto é cisto quisto isto Se quero definir totalitário, meu total caos se organiza, se quero ordem, viro vário, ovário, mioma, corda E com desatenta rima sambo onde não quero, sei juntar vigílias dormentes com orações ardentes

ATRAVESSADOS

A vara sobre a montanha, na alma empedra a peçonha, a montanha estremecendo, o ter saco intumescendo o que se quer que se ponha entre os dedos do vento A cara sobe a vergonha, no corpo há liquidez para a oferta na cachoeira da carne que se desfez no desejo dos dolosos deuses atravessados por dentro

DESVONTADE

Vontade de não ter vontade desdesejo de não sair daqui para onde não me encontre num lugar despovoado de olhos e lábios bíblias de não-ler e de ter pontos de desvista sobre o que não quer que seja Vontade de não ter de ser não a sins de não sair daqui de estar onde me inadequem ao certo de possuir-me em nonadas a comida no prato nenhum as cascas no pires inexistente com apetite nuclear do século passado Vontade de sair de onde nem entrei para um naco de afirmação ao contrário sobre desliteratura ou desvida de pé de escada quero ver a vida desmorrer, acabar de soprar e voar e voar e voar desvirando o ódio do ar mudando o destino de seus ninhos depois eu posso colar meus neurônios

NEGASOLANDO

Sou brasileiro e dizem que somos macacos Isso é uma injustiça Meu rabo enrolo sempre no varal Qualquer um pode gostar de bananada Ainda mais, tenho uma poesia americana Trago em meu bolso poemas beat Goethe está em casa deitado numa mesa Livros que não leio acenam da biblioteca Então, não digam: eu sou INF. Existe brasileiro infeliz... E não-brasileiros inferiores O dia está frio E eu me sinto numa folha de pagamento Cercado de "ex-mares" em todas as ilhas... Mas Espantando o frio, a feiúra, o tédio, O sol brinca no umbigo de Deus, Seu mindinho aparece nas cortinas de cima E um gato pula nos joelhos do muro, E eu me mantenho à distância Dos jardins que vejo na idéia, Por medo do sonho disparar E começar a florear demais E eu perder a visão do sol negaceando

Vendedor de Si Mesmo

...Olhando virtualidades, ele/ela se enche de selfies enquanto se esvazia. Cede a manobras. A tentações públicas. Ao retrato no jornal. Que orgulha seu olho de peixe. Ao fim, ela/ele esconde-se na múltipla máscara. A face, ele/ela vende a eles/elas com dedicatória.

COMO AQUELA FOTO

Claro que posso falar simples eu te amo tu me amas o dia tá lindo na mesma onda deste dia infindo, ontem, na geladeira, o sorvete e a cerva. Tinhas seios à mostra Com insetos brilhantes Peles de mamilo. Então, fui num mergulho pra poesia em curvas do teu corpo, Lúcia, procurando entrar em rubro coito de alma, como águas límpida em um porto calmo. E isso leva tempo, por ora Deixa eu lamber-te os olhos.

ALMA POBRE COM FRALDA

Não fique com raiva. Tudo é apenas um filme. Ou fique. Tudo é apenas um fio. Daqui há pouco só haverá o terremoto Derrubando sua gramática sobre tudo. Um grande escuro surgirá Aplastando as telas E nada restará sobre a face dos televisionários. E nada restará sobre a face dos virtuais sacrários. Não fique com raiva. Sou um falso profeta. O filme terminará. Eu irei um dia. Tarde? - Agradecido! Eu não decido! Sumirei como este último verso Lá em baixo Que você lerá com fúria Por ele nada significar De furioso. A vida é dura e bonita Como um dreadlock De Deus que passou aqui na alma Pra tomar um cafezinho. Eu já tive alma pobre. É quando eu era mais rico E usava fraldas.

TINDER INSTAGRANDO WEBSAMBAS

Um comenta o status outro sonha em likes instagrans emplasta outro goza em tinder nova amizade snap outro o som descurte o orkut foi-se ou o link rui-se tamblado tamblando em um sambaweb com o próprio twiter dedo em febre whats e eis senão quando percebo que em mim morre um modo antigo

Oferta Farta

Farto Do severo rosto meu Oferto Nas rugas do vento Farto Do amassar do tempo Oferto De comer a fruta Oferta De sonhar o mito Farto Nas costas do espelho Oferto De me olhar sem cenho Farto Àquele Àquilo Disto Oferto Do infarto o susto Farto Ao além-juízo Oferto a vós A voz o vórtice o vértice O hábito 

TRAIÇOEIRO

...Uma cambada de abutres Retalha o país com tudo, Destruindo os direitos Do ativo e aposentado, Soando em votos rangentes Vozes de loucos agentes Com seus pecados rotundos. Corta projetos sociais, Constrói novas morais, Deixando o pobre sem prumo. Com sonhos na alvorada, Que revelam pés, virilhas, Incestos, taras, manias, E a nudez mal castigada De uma Justiça esquisita, É esta cambada cheia De recônditos desejos, Quer a nação despossuída. Vende, mesmo a baixo preço, Seus caros, sagrados, veios. Chovem conselhos de putos, Revoltados dissolutos, Viciado incestuoso, Deputado que quer pobre No seu lugar, sem estudo, Palhaço desmilinguido, Deputado em pleno gozo, Em seu circo financeiro, Senadores de banheira, Motoristas delatores, Politiqueiras beatas, Cafetões e desviados Cheiradores infelizes. A passear pela rampa, Té ator pornô e trouxas, Jogador arrependido E traídas namoradas, Umas moçoilas lesadas, Espiãs, amantes cheias, Ajudantes de cadeia,

NO CERNE

No cerne da ilusão de nossas verdades moles, esquecemos de nos ver em totalidade, e, duramente, nos amamos. Com Máscara de Ferro, nossa hipocrisia sentimental. - Sentimos muito, você sabe que falhou. - Assim, a voz do amigo e da política de circunstância. Nos esvaímos pelas veias carcomidas do sistema eficiente do Deus Hipos (Abaixo para os íntimos). E tudo vai regendo o Mar do Mesmo. Os Precisos continuando a se servir de sua solidariedade momentosa. Os Imprecisos a se espantar com a Poesia Espantosa de cada mínimo. Com a incerteza de cada sentença. Com a ruína de cada tribunal. Oramos ao Girassol com beleza desorelhada e gozamos a Beleza que só nós compreendemos. Nós, os Pretensiosos do Texto Vazio.

Para Amigos

Para o amigo traidor, as flores desta fornalha, feita de verbos em fogo que noutras almas se espalha Já para o amigo que ampara, os ideais deixo, navalha que esculpiu as solidárias flores daquela fornalha

DESABAFO COM GREGÓRIO DE MATOS

No Brasil, a má política é que manda, Desde que Cabral sedento aqui chegou, Índio esperto saltou bem, pulou de banda, Mas a grande maioria se ferrou. Quando veio a família imperial, Veio fasto, roubo e corrupção, E, quando João voltou pra Portugal, Levou todo o ouro da Nação. Hoje temos no Congresso Nacional O espelho da vergonha se estendendo, Alguns juízes procedendo muito mal, Os Estados Unidos se metendo, Do além Gregório grita que é normal Uns de fora e uns de dentro nos fodendo.

VIDA-VIAGEM

Dorme o sol, dorme a lua, dorme o dia, Morre e nasce, acorda bem e bem mais dorme, O Infame bem progride e mais se fia Em ambição e arrogância bem disformes, Se o outro é juvenil, aquele o inveja, E por mal quer mais que a Morte o encove, Desejando, em quadrilha, o que bem seja Que pertença ao outro por ser jovem. Já o Homem que bem tem mais ombridade Guarda ao peito seu u'a melhor vantagem, A de bem amar velhice e mocidade. Vê que o Tempo não nos dá muita vantagem : Faz o jovem logo mais estar arcado, Nesta bela e tão curta vida-viagem.

COMENDO A ÁGUA DO VENTO

Os que me viram delirando não acreditaram no verbo se incendiando, um mito cheio de gasolina interna. Disseram : ele aguenta. Sempre foi assim, as marcas de fogo na pele do ser não têm fim. Desconstruo pra servir o pós-nascimento, castelo arruinado de presenciar textos cruentos. Quero estabelecer esta fala, mas vós sabeis que não falo coisa com coisa, procuro o indizível. E aí o incêndio vem comendo esta água de vento, me infinitando de finitos, agulhas sem verdade.

CHEIRAR O PÓ TEATRAL

Quero ser sempre teatro, Cheirar o pó que levanto. Beber a letra, no ato, Enquanto ator, me focando. Sempre me crio ao perder-me, Zonzo dos meus personagens, E misturando gestuais Desenho-me mil imagens. Mato na voz os silêncios, Nos gestos - carne em metáforas, No palco me reescrevendo Sempre, gozando a diáspora.

O PALCO É PARA QUEM

Sem medo de ficar a sofrer centelhas nadei cada centímetro à busca da Verdade Por ser feita de lavas com asas de pássaro e se vestir de mentiras não nasci rápido O palco é mágico, nem todos que dizem amá-lo sobrevivem, o que mais cala o vale Eu o perco sempre para abraçá-lo forte quando fecha e finge que morre

UM LUGAR QUE INTERESSA

Ainda há lugar para o afeto. Um lugar que sempre interessa. Um lugar incompleto. Mas que sempre constela. Se ontem caiu o teto o brilho, Se ontem anuviou-se a tela, Hoje o afeto tem novo fogo, Hoje o amor tem cascos belos. A ciranda põe-se em jogo. A letra pressiona o prelo, E novas ridentes cores São sonhos no setestrelo.

MINHA MITOLOGIA ETERNA

U ma lição inútil que não me lembro agora é de que a mitologia nunca acaba e que eu tenho a minha própria construída a cada passo e verso das minha inúmeras almas que nascem e renascem a cada afeto de que faço parte e que interpreto S ei que na memória existe um mapa indecifrável  em relação ao amor

QUANDO VIR

Como devo buscar sonhos? Como na beira do sempre? E me refazer? No indício com teima. Carícias em fogo. Na hora cheia. Quando vir o tempo... Me esperarás à mesa ontem amanhã? É duro o aprendizado mas sinto o que está perto na pele do ser. Na lápide,  a verdade do pássaro: gorjeio é mais.

BELISCANDO MOLDURAS

Este é imagem súbita  De meus recantos de nóia. Não diga nada ao espelho Que pensa diverso disto. Quer o tudo que não tenho. Quer o meu ser do avesso E minha idéia contrária. Vive a beliscar molduras. E quando ouviu o barulho De gente gritando : FORA Disse DENTRO e se escondeu. Peguei sete grãozinhos  E os pus no aquário. Todo mês eu o lavo Qual se lavasse meu medo.

HORA DO CHÁ ou ÉDEN ABORTADO

Quem somos? Somos os convidados da hora do chá. Os Sonhadores. A Ilusão nos convida. Qual foi nossa trajetória? A estrada para chegar à casa do chá. Quem seremos? Os que sairão da casa do chá de cabeça erguida. Somos.... Seguiremos a nossa bússola de dentro. Somos unos com nossos sóis e luas passados. Lutamos em meio a meteoros cotidianos. As galáxias - anéis à volta de nossos dedos urbanos. Vós, os do Engano, os Inconstantes, criastes um bebê que não sabe do sombrio por debaixo de vossas roupas. Não sabe dos abortos. Mas lembrarão de vós os jornais. As novas gerações se perdem em contratos de celofane rubro. Sabemos que tomarão nossas ações por traições. Vós fareis de nós os fáusticos vilões. Mas tudo é uma roda. Nossos descendentes devorarão os vossos urubus de açucar. Apesar do ego, nosso sol como toda estrela explodirá no

OLHO PRO NOME

Olho pro céu do dia que corre. Entre as gotas de chuva. Um nome proibido na boca do passarinho. Passarinho, que som é esse? Qual será a cor desse nome? - Apenas um som vermelho - tu me dizes. E a chuva cai, mas, não lá fora. Dentro de meus ouvidos Se alegra esse nome a carregar  Esperas minhas de milagres líquidos. Nome : Nonada.

DESAPONTO A PONTO

Você diz que me viu naquela ocasião e eu digo que não, usando de meu direito de dizer que naquela ocasião eu navegava em outros mundos de Boécio, e o valor do Tempo era o de sempre dentro de um infinito qualquer Você se desapontou quando pensa que me viu a ponto de acender os pavios de minha fraqueza e as velas de meus navios antigos e eu digo que se assim o fiz foi por ser um pirata incendiário no mar que sou de um tempo simultâneo onde morro e vivo curtos espaços como os nós das tábuas escuras

AO MEU PÓ

Conformado que eu estava com os pombos que todos os dias cutucavam-me os ombros, de frente para o mar bonançoso, mal notei o claro/escuro de minha luz revolta, desde o líquido amniótico, e quando vi, estava tragado pelo destino de nevasca, sabendo-me a biografia, a música, a violenta agitação da alma em procura, e o estrondo de ondas sobre o peito da Literatura, suas palavras de promessa esquiva ao meu pó.

O POEMA JÁ NÃO SABE

O poema já não sabe  se quer ser olhado, apenas vai abrigando  palavras n a mesma  alturinha em procissão, e não sabe do objetivo  que há nelas pois vai colhendo  a esmo  as folhas secas pelo chão, não porque ame as secas  mais que outras que povoam o baixo das árvores, nem porque fira os pés dos versos no espinho da vida e da morte, só vai colhendo as folhas pelo chão e formando  estranhas sintaxes para o escuro das gavetas

MESMÍSSIMA

Às atividades do ser aplicadas, Executadas no momento, Rejeito, para implantar no íntimo Do depois do momento O inimaginável traço De um poema metamórfico, E assim parar de voltar Com a rocha lascada de Sísifo Para uma ítaca de sangue Mesmíssima

CONDENADO

Catava conchas na areia dos olhos. Deixava-os flutuar como barcos Á deriva no canal das retinas. Era como nascer Nas águas de novo. Me fiz perguntas ao quadrado, lendo-me, Enquanto crescia no útero salgado dos dias. E acima das águas disso o Fechar Final do Poema. Me pus sem julgar-me no mar profundo do tempo, Sem verdades prontas. Sangrando-me veias agnósticas. Um punhado de poesia as condenara. Ao círculo do espelho.