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Mostrando postagens de julho, 2016

SORDIDEZ

Sordidez  no encontro das esquinas. O cheiro humano  na cartilagem  da violência. Fratura envergonhada  no crânio de papelão. Cortou-lhe tanto o pé do frio que uivou tremendo as crateras da lua.

DANÇANDO O ESPAÇO

Com um furor  Nas lascas do dedo, Com anseio morto, Borrei-me no verso. Urgia a ressurreição dos Versos para os cabelos do lápis, Após assumir o cheiro De mudanças constantes. Mas por estar sempre mudando, Por vezes, deixo o tempo, E danço o aço no espaço. A sós.

TORTO EM TEMPO

Por instintos de instantes, Tecemos facas amoladas em fogo Sobre o amor de medo e paina A cada vez que declaramos Dores de instante a instante, E assim variadamente Aprofundamos sem pele O relógio torto da consciência De se entortar de mentiras

MITO VOYEUR

Dálias de ouro,  em sol líquido, chupando árvores  no corpo do vento. O mito, a se desprender  das ramas, voyeur despetalando o olhar  em  mirra, incenso  e corpo em memória.

FOGO E SAL DOCE

Gerânios,  cabeleiras rubras, escancarada beleza,  celeiro de chips-dragões na aurora  do amor. Mulheres que moldam mosaicos nas vitrinas de notebooks soldam céus com sons de fogo e sal doce.

SOBRE AS ONDAS

Num inexato instante Desfiando Mágoa flutuante Mas sem tento Naquela sua nudez De ilha  A adormecer Pulou o amor de vez Sobre  As ondas E em nascente ferida Tatuada  Na virilha-coração Fez-se prisma Distante Ainda a quilha De Caronte

SOMOS SI

Lá fora mais uma morte. E sinto-lhe as asas rente Enquanto os pecadores Posam para a foto Do Grande Peixe. Dentro do ônibus o medo. O piloto quer parar. Ninguém sai de si. Somos cidadãos. Somos Si. A morte também está dentro. Quer chegar logo.

SOPINHA DE AMOR

Não há quem seja silente Após sopinha de amor. As bocas meladas de eros Divinas pela metade. Nas sopinhas os amantes Chafurdam sem ver metades. São sopinhas adoráveis Feitas no céu dos desejos. Mas amor nunca foi sopa De sabores racionais.

O MAR ENTRE

Lembras: o mar se abria Por entre as pernas-mães. Lembro, o sol cosia, Enquanto fervilhava. Lembras, o vento do eu Já relampeava. Mil formas no mar Escalavravam. Nasceste morrendo, Mas já contavas. Tanta confiança  Pra quê, se não sou?

TEMPO MORTO

O tempo acumulado na ruga tornou-se o vale o sulco do homem em seu 3 X 4 submisso a desarticulações Onde mais tempo para brincar de seriedades? Sim: o suor do ponteiro no féretro da parede

DESVIANTE

Se sei o que o poema é, da vida real sei nunca, não sei da poesia os pés, sou hábil em gavetas Se beijo o que o poema fala, pretensão de sapo em fábula, se digo que isto é isto, isto é cisto quisto isto Se quero definir totalitário, meu total caos se organiza, se quero ordem, viro vário, ovário, mioma, corda E com desatenta rima sambo onde não quero, sei juntar vigílias dormentes com orações ardentes

ATRAVESSADOS

A vara sobre a montanha, na alma empedra a peçonha, a montanha estremecendo, o ter saco intumescendo o que se quer que se ponha entre os dedos do vento A cara sobe a vergonha, no corpo há liquidez para a oferta na cachoeira da carne que se desfez no desejo dos dolosos deuses atravessados por dentro