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Mostrando postagens de março, 2017

água dos olhos

De poemas faço a água dos olhos Com que a alma vigia de dentro, Enquanto há domínio do não Latindo lá fora, Teclo meu ser com água em fios De espanto nestes escaninhos do estar, Onde há febre nos raios E pneumonia nas tempestades, Enquanto preta late lá fora E eu tecendo palavras De estar quadrado num buraco redondo Com meu apagar de realidade Enquanto lá fora preta late Pela escrava hora do passeio E um poste espera ansioso Que ela o cheire sofregamente Até que ele entorte de cócegas Esquecendo a lei do silêncio Das coisas sem sopro

NA LUA SONHO ESPELHADO

Quando era menino, queria ser astronauta. Hoje, só quero viver no bar da letra azul. O que fazes a esta hora no bar? - Escrevo com tinta de tempo a mulheres com promessas nos olhos de Renascença. Quando era menino, queria fotos de atrizes. Nas revistas de minha mãe. Para brincar nos escurinhos. - O que fazes aí dentro, menino? - Esfrego a mim mesmo pra ver se enxergo um pouco mais.

LUZ E PÁSSAROS NA BAILARINA

Há luz em teus movimentos. As tuas mãos e pés voam, Passaradas Pintando úteros no espaço. Cores colorem olores florem Quando num pé só voejas. E se flutuas nas puas do ar, Dás encanto às moléculas que se juntam Num impulso de recriar o universo. Vejo árvores e cortes de seivas No mito vegetal que instauras. Bailarina, bailarina, Olha ! Quantos deuses tu revives Com o corpo em que rimas !!!

CHAVE DE CADEIA 2

Vê se baixa essa beretta, por favor não se intrometa, porque minha alma é livre como a cauda de um cometa, coisa inteira, coisa meia, que é vazante e maré-cheia, seja sangue ou seja a veia, só se aproxime disposta a ser chave de cadeia. Vê se baixa essa beretta, por favor vem, se intrometa, porque minha alma é frágil como bala de espoleta, se eu morrer no fim do morro pode crer que é coisa feita, que é vingança de mulher por excesso de "bu !!!..ce tá  me ouvindo?",  ou traição  por despeito ou por falseta. Vê se escreve na prancheta, por favor me livre a treta, porque tenho muita fé no amor por ti - "beretta" -, e se te beijo te como com pimenta malagueta, mas antes eu te mastigo no bar de Dona Capeta. Só se aproxime disposta a desordenar retretas.

ERVAS SEM LIRISMO

Vou falar-te então, metaforizando: A letra é um mamão que como babando. Minha alma obstou o ardor que tinha. Por outra, dependo de sumos de vinha. Meu sonho abriu-se todo em ceticismo. Florescem no escuro ervas sem lirismo. Fui no poemiatra que assim me falou : Sou um caso raro de ser sendo em soul. Quando à noite encolho, feito sombra em claro, todos os instintos  no papel disparam. E me surgem bolhas na derme do estar, e as ponho no poema pra desinflamar.

NÉCTAR AO MAR

Lambi com a íris  o sol acima das espumas. O néctar ao mar com peixes e anêmonas de sonho. Joguei a íris na cama.  Depois, acordei, no rosto o suor do mistério.  Aí, nadei no papel.

RASGA-MORTALHA inspirado em poema de Edgard Allan Poe - The Raven (O CORVO)

Meia-noite? Pouco mais. Tava zonzo, sem noção. Folheava um pornô raro... Carlos Zéfiro! Não leu? Meu olhar em gozo armado debulhava sobre a mesa. “Ouço o som do interfone!” A dor na espinha excedeu. “Quem toca meu interfone? ...Não é nada, penso eu. ...Impressão de quem bebeu.” Foi no final de setembro. Meu aniversário, eu lembro. Não paguei a luz. E angústia ao meu peito arrefeceu. Ansiava logo o dia. Essa noite me soprava Na verve desmiolada poema que me fendeu, Lembrei dela, bati uma. Se chegasse alguém fudeu. ....O gozo me entorpeceu! A cortina na vidraça balançava, piorando Minha instável arritmia, que o medo reviveu. Ouço de novo o interfone e a preguiça se vai... “É uma cliente atrasada que o horário esqueceu??? Mas massagem a esta hora???Meu coiso já amoleceu. Puxo a braguilha. Doeeeeuuuuu!” Corro e ponho a chave e falo antes de abrir a porta: “ Moça, perdoe a demora, quase a chave se perdeu. Estava morto de sono, e o interfone está tão fraco. Exte

ORAÇÃO A POESIA

Eu andarei vestido e armado com tuas armas, para que meus detratores, tendo embora fôlego, não me alcancem, tendo dedos, não me ceguem, tendo distância, não me cuspam, e nem em igrejinhas literárias excludentes eles possam me fazer mal. Críticas ego/cêntricas ao meu espírito alcançarão, para que eu melhore, e que as mãos dos inimigos se quebrem sem o meu corpo tocar, poemas frouxos se arrebentem sem a minha obra simular. Louca Poesia, me proteja e me defenda com o poder de seu atroz delírio, me cubra com o seu manto desesperado, dando circulação e primor estético a todas as minhas dores e aflições, e felizes gestos, e alegres feitos; e que Dionísio a braços com Apolo, em divina misericórdia e grande corda de irrisório poder, sejam minha defesa contra as maldades e perseguições dos meus inimigos, dentro. Poesia Infam/inta, estenda-me teu escudo e as tuas poderosas armas, defendendo-me com a grandeza dos grafemas, e que debaixo das patas de sua fiel quimera meus medos sejam esmagados a