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Mostrando postagens de novembro 28, 2012

SE EU TIVESSE O VIOLÃO DE MANOELITO

Recordo-me, primeira namorada, a tua negra face de angolana, os teus olhos de luar enevoado, onde imagens de luz se acantonavam. Recordo-me aquele amarfanho Nos lençóis das moitas, pinicáveis. Recordo-me do andar equilibrado, o modo de agachar-te: roupa justa, custodiando o ardente céu do sexo, molemente, ´pondo sátiros no arbusto. Se eu tivesse o violão de Manoelito Estarias em apuros, Deusa Núbia.

PERDIDO GOL

Quando cheguei aqui,  pediram-me um poema dócil. Disseram-me: se és poeta,  um poema dócil é fácil. Apesar dos pedidos,  não larguei o grácil fóssil dos poetas muito mais antigos  que o Eufrates. E chutei então  de meu dom-com-tosse a possibilidade do fácil. Fizeram um tumulto  de barroco impacto. Simples é a pele  que tem tato de físsil. Foi o que eu disse e ficou longe o que era simples.

ME DÓI O QUE VEM

Me dói o que vem e não verei Me dói o que já veio e não vivi Me dói e sofro rindo a dor que sinto E minto onde há palco por sentir Essa dor que pinto embora a tinta Esteja embora ali vem de mais longe Ao alcance não da mão extinta Mas do verbo em mim de não sei onde

ACENDER A CHUVA APAGANDO

Tudo que marquei e amei de letras e auroras procurou impossíveis. No delírio, a ponta do abraço desejado envolvido pelo vulcão de explodir o eu. O que não tateei senão uma vez constrói peles fingidas. O que não conclui na vida finjo na estrada de papel. Desço a irrefreável via. Renascer no intervalo. pular a janela escancarada. Salto ornamental no mim-mesmo. Pintar, respondendo ao vazio do cheio que não se cumpriu. Esquecer que sou  a fuga permanente dos passos de impossíveis que se afogaram. Esquecer que fui mas já não me lembro. Apagar, fechar os olhos e acender a chuva apagando.

CHEIRO PÓ DE PALAVROÍNA

Bate o vento na letra/dádiva, sacudindo o pó. Assim, me refestelar: cheirar pó de palavroína. Às vezes, sou pouco profundo e de extremos: Ovo frito e aminoácido junto à poeira. Ouço ao som da tempestade/dentro palavras fervendo. Meu barco desenvolve rastros de Sylvia Plath sob a língua. Seu suicídio teve cortinas. Mas seus poemas eram barcos livres. A coragem pisoteei sobre o cavalo morto de Nietzche. "On the r'ovo" foi uma viagem que fiz à cozinha. Por vezes, minhalma é extrema poeira. Aumento assim o tríceps do poema e como musas. Palavroína...Alguém tem mais pó, aí!

TRIGO ANTIGO

Eu fiz este poema antigo como suave missão. Jorrou, como fosse trigo de medieva plantação. Senhora, sentido e fruto, o tempo não joga dados, esta tua barriguinha ainda provoca fados. Senhora, que ri pra vida, num passado de varandas, tens no não-querer poesia a que meu querer ciranda. Esse ar de Deusa Antiga, ao vento, rouco veludo, inspira, Senhora minha, a Vida por quase tudo. Quando ris, Senhora e Arcanjo, pulando seio e risada, me faz querer novos banjos pra tocar-te sem parada. E como não passo de um poeta (in)consequente, piso e furo o pé do verso, gritando feito um demente.