Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de novembro 10, 2013

FERA BELA

Agora, percebi que meu corpo criou a expansão, e que ao criá-la se regozijou, colocou flores e serviu banquetes, fez planos de colorir os fogos e de colorir as retinas da alma. Posei para as televisões. Meu corpo endireitou as telas. Tinham olhos de rio claro, que eu escureci, deveras. Só agora percebi que fingi e fui verdade, belo em ferocidade longe dos sins.

MISTÉRIOS NA INCOMPLETUDE

A volúpia do intangível. A mãe está longe. Aqui o espelho do dia. A pensar no que faria com a morte no tempo. Fora o fato de o espaço estar levando os minutos nos trilhos. Sabem que o poema é só o poema, que o corpo é só o corpo e que ao levantar a caneta e guardar a xícara pingando esse fato não significa que o gesto se complete ou se refaça. Há mistérios na incompletude do poema ao criar-se do inexistente. Mas será um?

TUDO VAI DAR EM ALGO

A margem das palafitas adornada com saquinhos de "mamis", móveis quebrados e restos de humanidade. Plásticos. Latas. Pequenos defuntos nos "iogurtes". Chora a baleia no Pacífico com toneladas de plásticos na barriga em guerra. Um dia foi feliz.  No outro,  matou um sonho de pernas claudicantes . Já morou na lua, disse aos netos. Fumou Andrômeda. Ursa Maior. Nas esquinas da avenida Cruzeiro do Sul.  Um dia foi feliz.

DE PENSAR

Sua face alegrava a tristeza, teria seus sessenta e sete anos ou dezessete. Estava ali, solta, como um travesseiro, ou uma boneca frouxa. Missão: alegrar corpos. Seu movimento seguia um rumo que ninguém previa. Ela levantou-se, olhou a cama, e mijou nela com seu pensar de décadas. Como um homem, tentou mirar, mas faltava o tubo e o saco. Porém, a cama ficou pensada, mesmo assim. Um pensar que não cutucou o mundo.

A ATRIZ

Com anseio, ela olha o palco, tão feliz com seu bafio, que dá pra enxergar-lhe a graça que o tempo rasgou  como fosse um lençol velho. Ela entra no palco  e a vemos nova, como um fruto a brilhar, sob o mito arcaico, escrito no teatro há muito, das velhinhas surdas. Parece feliz, a atriz. Parece ensolarado o palco. Parece suficiente o tempo.

GRACIOSA EM MEIO ÀS PALAFITAS

Na paisagem seca do rio uma pintura se molha no anseio das coisas com volúpia. Ela se abaixa graciosa esfregando a roupa nas pedras como minha avó fazia, creio. Ali, em meio à comunidade de palafitas não há ser mais bonito  sorrindo enquanto esfrega. Ali, com suas colegas, sabe que é tão bonita quanto  as primitivas águas.