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Mostrando postagens de abril 10, 2013

ANTECIPAÇÃO

Os colegas estão morrendo. Não há mês em que eu não expresse condolências. Não há mês em que eu não tome cafezinho de velório. Num deles, trouxe um mosquito de defunto pra casa. Ficou se enchendo de meu sangue gordo. Ele sabe que não durará até minha morte. Está antecipando.

CHOVE DEMAIS AQUI

Chove demais aqui. Mas tenho de continuar. As meias encharcam. É o trabalho. Faltam oito anos. Pra quê? Meus colegas morrem. Bastou que parassem. Pararam. Morreram. Chove a cantos de cântaros. Cantarolando quebrantos. Cantam as nuvens nevando. Um cão late comigo. Tenho de chegar em que verdade? Vontade de tirar as meias molhadas.

FUI FONDO

Meu pai suicidou-se numa tarde. Minha mãe levava homens pra compensar a falta. Meu pai era manso como um revólver sem uso. Eu saia sempre pra comer as amigas de minha irmã. Havia sempre doses cavalares de alguma droga. Todas tinham cicatrizes no ânus. Não vão casar tão cedo. Não vão. Percebo a morte no entorno. Quando eu morri, simplesmente fui.

FEDE MUITO

Quando saio desta cela para o sol ando molemente com as calças caindo O ambiente fede a mijo Quando sento à frente do muro, alguém me joga um pacote cai uma carta no chão mais rápida que as calças O ambiente fede a mijo Quando volto pra cela pra penumbra tenho medo de não crer na minha própria inocência Esta cela é um quarto que fede a mijo pois minha filha não limpou a gaiola do hamster

PASSISTA NA LAVADORA

O corpo, sem seu contexto: A alma a sambar sem fala. A lagartixa a garrafa. A passista no limite sorri. O cabelo dela em marrafa. No barraco, Tempera a lavadora com azuis. Os olhos, diante dos Fatos/fotos mutantes. Hoje, quarta, amanhã, quinta, Depois do amanhã, só  Barquinhos de papel Nadando em sua sarjeta. Mas a memória na passista  Como roupa íntima  Grudou em seu destino  O carnaval eterno.