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Mostrando postagens de dezembro 19, 2013

ÚNICO QUE TENHO

O unicórnio que tenho no espelho fosco está gordo  não come mais as frases doces nem bebe o que o corpo espreme. Vive olhando a alma do chão com medo da morte um olhar cego como apaixonado por escorpiões. O unicórnio que tenho chamado de Solidão ou de Molibdênio. Tem a mim só. Mas vive de cenho no chão mandando uma ordem: me ame me mate. imagem acima : ANDERS ZORN -  Nosso pão de cada dia

CONCHA ENCONTRADA

Fo i uma concha encontrada. Séculos de história atada. Suspensa foi para a foto Dos dedos do arqueólogo Com cheiro de século em papel. Mas a concha nem aí. Só lhe importava os céus Na voz de um útero antigo.

AMOR SEM GARANTIAS

O amor sem garantias O eterno jeito de ceia O amor e sua azia Uma reta fugidia Uma mole geometria Um bem e um pouco de mal O amor e sua teia Vitamina e som viral Sorriso e bolo de aveia Veia sangrando macia O medo em funda bacia Controlado vinho e sal Descontrolado de frente Arrebatado ou mendaz Livre ou forçosamente Gerando crime serial De dar sentido às sementes Do trigal da alma sem Gogh imagem acima: de   ANDERS ZORN -  A feira em Mora

A QUE ASSIM

A que assim, sem mais, Jamais esqueçamos As coisas do sol, E, amando, selemos Nossos termos Na pele do luar Sós, vozes de montanha, Com amor de cheia Floresta, fímbrias de mares Nos possuam

A PODER DE PALAVRAS

O que somos a poder de palavras? Penhascos além do tapete, Vaidades convexas/cavas. Mesa descomposta por brigas. Isto é Cabral, aquilo é Haroldo. Este é poeta, aquele é bicha. O café sorvido pela glosa Das igrejas fixas. E no entanto se renova O fato úmido na alma tímida De amar o pó das asas Dos anjos caídos

RIO RISONHO DE MINHA MÃE

Eu vivo a poesia inevitável, dou nome às letrinhas que passam e quando escorrego inevitavelmente a te pensar, minha mãe, com teu queixinho existencial, uma poesia se insinua e curva um rio risonho a rezar

CONTANDO NINGUÉM ACREDITA

(VOU LHES CONTAR UMA HISTÓRIA DE ESCRITOR E PERSONAGEM E COMEÇOU ASSIM:) -Bem falarias sobre mim Se mesmo longe eu te parisse? -Em ti, a porta que me nega ri-se. -Mas, veja: tu nasces, a poesia é flor. Logo logo o leitor-golem (ou pólen?) (E CHOROU O PERSONAGEM AS CORRENTES ARRASTANDO)

REI SEM REINO, DIVIDIDO

Veio a peste sobre mim. Recebi-a pele adentro. Embora a dor, acedi, Cedi ao poema destor(i)a. Esperava a dor, prazer Na peste surpreendeu-me. Não é coisa que se espere, Prazer de peste render-me. Cedi. Escorri. Em feridas, quê de amor?  Sei? Só sei: sobrei. De poemas Meu ser próprio.

A PORTAS TANTAS

Tu ainda não estás de prontidão. O céu está cinzento. O seu corpo se dirige à alma Um passo de cada vez. Quando bates a porta,  quererias ser o toque não a mão do toque. Eu sei. O trinco geme. Contudo, veja:  ainda pode-se entrar. E dar à luz outras portas.

LUA LINDA DE ENRUGADAS COSTAS

É bom andar  até quando chegar a hora de tocar o coração do tempo. É bom sair quando a vida for suficiente e o chopp não estiver quente e você estiver meio tonto de desafiar Caronte . Lua, estás linda. A noite está nua. E eu não sou indiferente Às tuas costas velhas De crateras antigas.