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Mostrando postagens de novembro 25, 2012

FINDO O DIA.

Sei que o poema é dos antigos. Não tem frase curta e hermética. É que o tempo está tão simples à volta da minha vida. Críticos novos me flecham a verve com poemas instáveis e loucos.... Badalam bronzes em meu cerne. Livre, um sonho uiva pra lua. A tristeza que colhia até há pouco estava aqui desde o nascimento. Saiba, coiso-leitor,  que o tempo está solar à volta de minha rua. Traz angelical aroma, qual sinto, soma harmonias, e dá mais cor à redoma que me faço, findo o dia.

CRUCIFICADA

Ela foi crucificada Na cruz em que ele pensa que morreu. No monte em que ela foi assassinada Só um verso pequenino enrubesceu. E assim a gente vê O quanto ele obscureceu-a Com suas crenças patriarcais.

NO PALCO A PROMESSA

Algo, de natureza sacra e profana. Assim, talvez se alterem as coisas. O ator de uma lágrima, o Prometido, O que havia de vir para redimir. E então não haverá mais desarmonia. O palco será o centro da festa. Brincaremos com os olhos dos antigos E os mascaremos, antropofagicamente.

PERTO E LONGE SEM TI

Estar longe de ti somente um dia É muito, mas começo para ter-me. Estar perto de mim a eternidade Desequilibra a alma, se esquecer-me. Estar? dificuldade que me afia. Ser já é em dúvidas quedar-me. Vigio na intenção de não perder-me. É te largar um modo de encontrar-me? Voltar? Não posso. Está passando o tempo. Só não sei onde, sei que é mais destarte. Se o tempo pára, sei que paro em ti, Amando ausente, mesmo a festejar-te. Sim, bem-amada, deixa o ser chorar-te. Cruze por terras muito, embora tarde. Estar perto de mim a eternidade, Sem ti, é como estar longe da Arte.

AMOR PELAS MARGENS

Quando meu corpo morrer no teu. Quando minha alma nascer no inverno. Quando meu corpo morrer incréu. Quando o ser meu morrer no breu. Quando tudo for de mar e aurora. Quando ouvirmos sinos sandeus. Quando os rios nos fluírem antes. Quando as águias cobrirem cimos. Quando o jacaré abrir a boca em flor. Quando as plantas conversarem. Quando o amor deitar no Todo. Quando as placas se amarem. Quando as pedras se enfrentarem. Quando os pombos panificarem. Quando o teu rosto for de osso. Mesmo assim o Poema Esperado Cumprirá a Profecia de florir As margens da aldeia  Dos anjos rebeldes.

TALVEZ QUANDO ME AMARES

Vens, talvez num trem, talvez no ar, no mar, e o aguardo é eterno, mesmo porque não é no real que te espero. Aguardo-te no incriado, no antes do real, antes da criação do abismo das águas, antes da nomeação de todas as coisas, antes da língua da existência se estender ao Todo. Vens, talvez, a te arrastares no tapete, ou a me mostrares a última canção das feras, ou quem sabe, ainda, pendurada no lustre, a declamar odes ao enredar do corpo e a citar as cores mais ardentes da aurora ...

PARA A ENCENAÇÃO DE SÃO VICENTE

Mar, tu mesmo, aí deitado, de olhar jovem-sempre,  entre o verde e o azul,  o que trazes em tuas águas  que não diviso com facilidade? Conchas, ventos, sal, tronos de pedra,  o que tens de superficial e profundo,  exibes para um céu azul e imenso! Esta atração pelos teus sons,  quiçá venha de uma idéia submersa  que observa os homens desde tempos arcaicos. Eis que começa o espetáculo e tu tentas chamar a atenção.. Numa atmosfera de sonho,  chega Martim Afonso, herói para os índios e inocentes de hoje. Em sua alma, se avizinham um trilhão de esperas e desesperos. Ser ou não ser, desvendar ou não desvendar, declarar ou não declarar, tomar posse ou despossuir? Mas é Martim que adentra ou o ator que o procura por dentro? Te mostras, Mar, alheio a tudo isso, pois, sabes da verdade crua dos homens e seus dons de generosidade e assassinato, pleno dos rendilhados entretecidos em Bem e Mal. A platéia delira porquanto é-lhe ofertado um feixe com a alma de todos os atores e não-atores,