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Mostrando postagens de novembro 29, 2013

SEI QUE DECORRE DO PACTO

sei que decorre do pacto este sangue ralo e doce a paisagem que fingi nos olhos o cheiro que criei da ilusão o livro amarelo e com traças melhor digo: deixa as traças a que me façam companhia fico fácil desesperado e romântico sei que é inevitável leva a pedra que comprei de Sísifo as dores que serviram aos poemas os delírios que suguei das nuvens leva a língua que comprei de Íxion o cd do Pink Floyd o último lançamento da Ford que não tenho todo pacto tem suas regras pode levar a musa a rasgada blusa escrito yakusa e boca chiusa sobre minha inexistência sobre a panela preta a frigideira arranhada a xícara quebrada a alma com veias de sangue o corpo aéreo e por último leva o sentido que nunca descobri das coisas evitadas

CORDÉIS MORAIS

E fizeram tudo Pra correr o desejo E punir em nós Seus efeitos. E fizeram tudo, Os da casta arcaica, Açoitando com versículos Os sexos das estátuas. Veio ferido, Compadecido, Crucificado Nos sentidos. E fez crescer tatos Ao rés da pele, Remexendo as grutas Ao entrar, apesar Dos pregadores Agitarem os cordéis Com suas varas tortas.

PERDEMOS SEGUNDO AS REGRAS

Perdemos a boca Do tempo a soprar-nos Para certo lado. Perdemos os portos antes De fecharmos a conta, Embora navegando Segundo as regras do mapa, Quebra-Cabeças. Por isso, o ser assim, Com cara de paisagem.

RESSOAR

A poesia estende o púbis, húmus, alma, louco senso, ressoando plume/implume, Vai assim me estrangeirando por dentro me destripando, me entrincheirando em lirismos, Estendo as mãos no papel, na intimidade do poema retalho infernos com céus

NAVEGO E ASSIM AVANÇO

Navego e assim Avanço um pouco. Onde o tempo com Remos lentos destece-nos O adulto, sobra Que à criança esquece

VENENO DOCE

A coragem nua, as aves em delírio. Romeu vê cortes subindo. O gume da fome de ser da casa Supera shakespeare e seu veneno doce.

TEMPO TEMPERO

Nosso tempo tempera a pele da alma com o som  da música que o espaço infunde

MÃOS SUSTENTAM SOBRAS

As mãos sustentam as sobras, Em rubor e ossos ansiosos, Não sem mares salobros Nos sonhos buliçosos. E as naus a que me prendo, Não sei se é doença ou cura, Sei que o óleo que desprendem Não favorece a pintura.

LEMBRO

Lembro: o mar se abria Enquanto nascias. Lembro, o sol ciava, Enquanto eras jovem. Lembro-te o eu ferido No outono. Choravas tanto. Lembro tudo um pouco antes.

O TEMPO

As cidades que criei,  por exemplo,  com as ervas da experiência em suas praças. Demasiadas as responsabilidades urbanas. Cidades não podem ser criadas com bestas. Tenho de me desintoxicar de quimeras. Tenho de me entupir no entanto delas. O tempo de cultivar é ambíguo.

POESIA E COMIDA

Poeta faminto não cria poemas. Mas moendo um miolo Já faz um grafema. Poeta sedento não segura o ser. Mas se bebe orvalho Versos faz nascer. Um poeta em becos Pode até criar Se achar um seco Grão para mascar. Veja o poeta pobre Com livro composto... Mal come, pois cobre Carne magra ao rosto. Com sede e com fome Só a morte vive. Mais o poeta come, Mais seu poema é livre.