PAIXÃO PASÁRGADA

No coração do dia traspassamo-nos, os corpos não sabem das almas que adiam nos leitos enquanto lutamos em ringues com tétano nas cordas

Vidas no termo de e entre outras, o mundo é um tecido transparente, as nuvens chovem chumbo  nos campos de guerra, onde dores superam as minhas  com vestes de um novo napalm e barragens rachadas, nos pés o terror de paris

Não há satisfação, as almas tateiam, as almas tateiam no claro, com suas almas escuras, à esquerda e à direita espelhos de massas ázimas e ao centro o sem-ser que possuem

A luz do pensamento nas folhas da noite, a parábola dos grãos no centeio, é permitido o silêncio no caniço do tempo E é preciso uma unidade, dizem os des(unidos)

Só desejo agora a palavra espetada no cantar dos céus, e o tempo é breve aflorando no sangue espantosamente e já estou pássaro e espelho, rosto esfumado nos retratos

Me aprofundo suspenso nas águas da ânsia suave e muda- mente superficial do teu batom borrado e de tuas piruetas crucificadas no cotidiano Mas quem zombará de teu veneno minguante sem medo cheio?

Os rios e suas carícias nas pedras ante olhos vegetais, os espelhos dos céus enfermos de estireno e os peixes guelras lacrimejam enquanto acabam o canto morto do peixe outrora vivo : como pode o peixe morto despertar consciências frias?

As horas no monótono passo, cavalgando com margens de sono, um reino quieto me amolece... é este um reino que me aquece embora só o tenha onde ponho a alma, empalhado pássaro