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Mostrando postagens de junho 6, 2013

SEREI RÃ QUE EM MIM PULEI

Por que tenho de sair  se é bem mais agradável  tingir de luz os olhos? Por que vagar por aqui  se nos céus ardo ao sentir? Por que grudar  no que não tem aderências? Quem sabe eu possa me abrir. Quem sabe eu possa assumir todos os nãos (i)morais? Serei rã  que em mim pulei  sem lago algum pra pular?

JOGO

Estou. Estás. Valete. Ás. Esta vida como baralho. A morte joga junto. Essa farsante mora Do outro lado do amor, Numa casinha tosca Vive batendo no batente. Ela, essa de peitos murchos, Tem como empregados pesadelos e paredes cruas, Onde se escrevem cheiros de nada. Mas eu sou estou vou sair da mesa E me lançar para o papel manchado E esburacado de surdez.

SYLVIA PLATH E A BELEZA DAS SUICIDAS DE PANELA

A beleza das suicidas de panela trabalhando fora e dentro se cristalizou nos corpos seus de cozinha. E intensa saudade sinto de seus cérebros de panela atingindo meus olhos ao lê-los. No ouvir o pulsar de seus jarros, inda toco o barulho de seus baldes. Tão limpos os seus banheiros...tão escalavradas suas cútis! A beleza das suicidas não foi uma coisa em vão pois nos deu furor...Como ser indiferente se essa beleza finda não gerou coisa mais linda....ainda.... Sylvia Plath me deu um forno novinho de perfeição mortal com bolinhos ocos dentro. Espedaçando as artérias, imito seu trêmulo sangue de vidro.

ALMA EQUINA

Posso ser um cavalo poético mais audaz. Com minhas patas posso estremecer verbos-aurora. Com meu focinho posso ensandecer frases-crepúsculo. Tenho um cérebro de cavalo para sujeitos e predicados. Um cérebro que encurta distâncias entre verdades. Que esgota os mortos afirmativos. Um cérebro profundo que chama E nega o abismo com alma equina.

ANÚNCIO

Pegai vossas coisas. Desarmai vossos sorrisos. O caminho vai ser duro. Mas tudo começa ao quebrarmos o muro. Chegamos do Nada e moramos aqui um tempo. E estamos ainda sem nada. E estamos ainda sem nada. Armai-vos de amor. Mas quem sabe o que é o amor? Mas quem sabe o que é o amor? Uma mãe sabe. Só uma mãe sabe. Pegai vossas coisas. O que vai acontecer aqui É a explosão anunciada. Explodirei meu eu. Desarmai vossos sorrisos. Mas abraçai primeiro as árvores. Mas abraçai primeiro as árvores.

MENTIRA COM PATÊ

Não sei nada. Sou o zero da escada. Não o papel para a sua cagada. Me traga uma palavra-começo. Um leão rugindo no desenho de um caderno infantil. Minhas garras estão na pele molhada dos dias de chuva. Quero a canção de algum sabiá. De palmeiras onde eles não existem. Quero um pacto com o que está por vir. Quero a fumaça do som do primeiro universo. Quero rastejar como o lagarto de cristal dos sonhos. Sou um simulacro. Um sino atroz. Sou uma mentira com dente caindo. O que quer sem querer. Não sei nada de verdades. Sou o zero da escada. Sou o papel para tua cagada. Cague e vá, Espelho Cagão. Olha no espelho, Espelho. Olha: sou teu espelho. Olha no espelho. Eu olhei em ti e não me vi logo. Eu movi-me espelhado primeiro e aqui depois Tenho um espelho lerdo. Sou uma mentira com talento para verdades.

TRAJETÓRIA ENTRE AURORA E CREPÚSCULO

Aurora. Um homem carrega seu AMOR aos ombros. Procura um berço. Sobe a ladeira íngreme. Com uma mão segura a perna esquerda do menino. Com a outra empurra uma pedra ladeira acima. O menino a crescer em seus ombros. No meio da ladeira, cumprimenta quem passa. Quem passa? Alguns o ajudam a empurrar a pedra. Outros alimentam o menino em seus ombros. O menino cresce. Fica adolescente. O adolescente poderia ajudar, mas não ajuda. Gosta de ver o outro em si sofrer, A impulsionar a pedra adiante. Até parece ser o AMOR filho da pedra. Ser filho da pedra é como ser filho da puta. O homem sofre subindo a ladeira. Arca. A certa altura, rareia a ajuda. Um aqui, outro ali. O adolescente às suas costas torna-se adulto, Que gargalha ao ver o sofrer do homem. Não sai dos ombros, forçando o peso. O homem já aceitou o seu destino de dor. Rola a pedra até o final da ladeira. Novo Sísifo. O homem avança. Há um AMOR velho agora em seus ombros. O homem avança. Cai AMOR dos seus ombros. Morto o AMOR? En