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Mostrando postagens de janeiro 16, 2013

RETIRO MEU POEMA DO MERCADO

Retiro meu poema do mercado. É sem preço. Seu material é de alma. Noventa por cento sinceramente finjo. Fiquem amigos na praia privada com boas capas e tiragens e palmas e abraços e autosatisfação. Me retiro do caminho desamparado poema póstumo. Com o preço que não me colocaram. Saio para o mar profundo da padaria.

UM HOMEM

Um homem com a mãe no Pronto-Socorro. Não esquece a dignidade precisa. Até enfrenta jalecos possuídos. Vai ao banheiro. Urina arco-íris   E os põe na garganta Para rebentos carentes De alma cinza. 

O QUE FALO

Qual a minha linguagem? Cada um tem a sua? Qual a mais nua? A mais vestida? A mais sígnica? Que mais pinica? Já falei macio. Já mandei às pi... Hoje falo dores. Minha rica linguagem é um pássaro quebrado. Minha linguagem é um mar de pedras. Há flores com vômitos em gel. Minha cabeça gela de nadas em pasta.

É O TAL

Saiu no livro o poema trágico. Olhei-o como se olha um estranho. Tão presunçoso. Canastrão. Não parece ser meu filho. Nasceu tão terno e  Agora está ali estampado. Está tal imagem em simulacro. Esperando elogios absolutos. Esperando as abluções. Não mais nesta alma! Tem agora muitas outras. Despem-no lá fora.  Fazem dele o que querem. De quem o fez falam mal. Do poema não. O poema é o maior. Só por estar no livro. Tem número de página. Tem letra barroca. Parece uma bicha louca. E trágica.

O POEMA DIFÍCIL

O poema não sai. Não quer sair. Tá deprimido. Não quer conversa. O poeta insiste. O poema é sádico. Pisa, morde, empurra. Justo agora isso. Dando de difícil. Se não fosse outrem Com seu deixa disso, Dava-lhe um tabefe Com ponta de lápis E um risco inglês. O poema não sai. Tá se achando inútil. Por que então sair? É melhor ficar Em seu canto fútil. Mas insisto: sai, Seu poema fátuo! A ceitar o fato. O poema não sai. Os amigos fiquem No entanto certos De que sairá. Só agora ele Não quer se mostrar. Aceitar .