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Mostrando postagens de junho 2, 2013

SENHORA EX-MÃE GENTIL

Natanael Gomes de Alencar e Leonardo Só (POEMA RECONSTRUIDO DE RETALHOS DE 1996 NA EPOCA DO MASSACRE DOS CARAJÁS) Começo aqui estes versos Para falar com ardor De quem constrói a nação Como bom trabalhador. Vão as falas que se seguem Para ti, ex-mãe gentil, Não esqueçamos que o sangue Dos teus seios nos fluiu. O pedreiro fez teus pulsos, Os braços de tuas celas, Fez teu manso colo puro Com medidas nada austeras. O mundo é a nave das tiranias fatais, Mas a vós, Senhora Mãe, torce a face e a retrai, Pois nem do algoz usas disfarce, Quando massacras e tripudias A nossa cidadania, como ousaste Em Carajás. O professor muito ensina Tuas crianças, com flama, Seguindo a sua sina, Sem valer o quanto ganha. O faxineiro faxina Tuas sujeiras, Senhora, Mas de dentro nós notamos Que isto não te melhora. Diarista ou a contrato, Zela para dar apuro Ao teu urbano perfil, Se jogando no teu culto. O mundo é a nave das tiranias fatais, Mas a vós, Senhora, torce suas rugas fractais, Pois nem do algoz usas

VAI E VOLTA

Súbito, vem este amor. Sem favor me apura o dom. Nele há tanto carinho Que me alinho ao doce tom. Sinto aqui ele apertando E estreitando o peito em teste Prestes a deixar vazio Seu macio berço agreste. Sua falta está por dentro. Concentro, mas já se vai. Sem mapa, sai ao relento. Indo lento, avança e cai. Mas volta, me faz contente, E, ingente, me envolve e trava, E, em lava, me esquenta e vibra, Me livra o ser só e o grava.

O AMOR É UM BEIJO

Essas palavras são simples. Simples como chupar bala. Eu muito te amo e queimo. Mesmo apartada dos olhos Próxima estás desta vida. Querer-te como alimento. Uma lasca do teu beijo Com cobertura de amor Preenche a alma nas bordas.

COISAS QUE ACONTECEM

Empédocles jogou-se no vulcão para provar que era um deus. Não conseguiu provar outra coisa que não a mortalidade do eu. Os outros disseram assim: - Que coragem ele teve Ao avançar para seu fim! Ícaro beijou o sol, depois caiu no mar, Caronte cobrou icário. Corajoso Ícaro, qual o Lobo Mau, segundo falaram para mim. - Que corajoso ele foi Ao mergulhar em Chapeuzinho assim! Vejam, o Lobo Mau. Aprecio o Saci-Pererê, com aquele jeito seu azedo. Tão corajoso, pois descalço, pula e quando um prego entra em seu pé, tira-o e come. - Que coragem ele tem ao pular com risco assim! Gosto da Cinderela, por ser tão linda e olhuda, e por ter expulsado a madrasta, mudando o conto de direção. Da Branca de Neve careca, de Alice, por chamar seu câncer fazendo sua pele parecer baralho. De Rapunzel por mudar às sombras. Quanta coragem é necessária para o risco? Quanta coragem é necessária para contrariar a história?

AGORA HÁ POUCO

Agora há pouco, Senhora Morte se sentou em meu sofá. E eu disse: você aceita um café? - Com bastante açúcar! Fui para o quarto calmamente. Só pra vocês saberem: Em 1718, um americano, um tal de Puckle, Construiu a primeira arma de fogo de grande calibre Capaz de disparar vários projéteis Em um curto espaço de tempo. Fui para o quarto calmamente. Toda metralhadora tem uma mola Que dá início aos disparos da arma. Ela permanece travada numa posição contraída, Pronta para se esticar e empurrar para a frente Uma peça pontiaguda chamada agulha. Voltei ao sofá rasgado e com uma mola aparecendo. E a Morte estava lá sorvendo um café. Quem a serviu, se fui ao quarto contíguo E a Vida foi comigo?... Sentei, ela pousou a xícara no chão da sala E começamos a montar e desmontar a metralhadora.

Cabelos de Beleza

Ouço-te o banho. Imagino-te lua minguante. O barulho do chuveiro em sonoplastia. A água escorrendo o perfume de ti. Que eu senti de perto ainda há pouco, Quando te abraçava, em nudez de invasão, Paradas as mãos na trêmula curva dos teus quadris, Os cabelos presos, caídos pela doença, O escoar do teu cálice, E tua alma de galáxia que logo subirá, em ascenção, Em conjunção com as estrelas de nossa memória. Te amo. Em constelações de fúria e revolta, Aguardo-te. Para amorterapia.

A DOR DO MORTO

O mortos chegam. Querem jantar. Na minha carne que amou. Na minha carne que beijou a dor. Chegam nus em pelo. Já não tem sexo. O mortos só pensam em fumar minha alma. O que é mortal senão a dor do morto?

BALAÇO NA PELE DO TEMPO

A lua é sempre a mesma. Há três cães com uma metralhadora no pescoço de Cérbero que dormia no beco perto da ponte, onde um jovem foi confundido com um ladrão vermelho, um jovem estudante de odonto. Não há surpresas. Círculos dantescos na pele do tempo que é voraz com a carne dos valores. Não quer disfarçar nada. Furoato de mometasona. Está lá até que não esteja. Chá de carobinha. A lua está lá. Vê todos os crimes. Mas não pode sair de onde está. Problemas de pele. Crateras. Como é bela. Bela bela. Suas ínguas não são aparentes. Merece um sonho. Mas não testemunha um. Pedaços de corpos de planetas. Um belo sonho para a lua. Um cinturão de asteroides. Chutado pela Máfia Estelar. Pela lua dos lobos transparentes. Uma chuva de objetos voadores No supermercado sideral. Abe