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Mostrando postagens de novembro 23, 2012

SER HUMANO É DESUMANO?

Um ser humano leva um celular, que comprou de um desconhecido, barato e sem nota fiscal pra que sua filha dê-lhe um sorriso. Outro ser humano no banco da praça pensa na família  que lhe espera no barraco e estende a mão  por cinco reais de esmola pois diz que não compensa menos já que tudo tá o olho da cara; e seu carro está a apenas cem metros dali, no caminho ele vai tirando a gaze com que enrolou pernas e braços... acha um celular. Outro ser humano no beco da ponte faz um pacto de ilusão mesmo sem ver ou ouvir com o anjo Febrônio que caiu faz pouco tempo (cem anos?) de um buraco da camada de ozônio. Seu celular quebrou. Outro descobre de onde vem  a palavra penico  num livrinho cujas páginas  ia usar depois da ocupação de seu peniquinho esmaltado. Ser humano é difícil pra burro... sem celular.

DURMAM BEM

Talvez estas palavras agora não tenham nada a dizer e só procurem um espaço nesta escuridão  para dormir um pouco por isso o jeito delas meio bambas vomitando dizendo palavrõezinhos em voz baixa  pois andaram tanto e não houve um olho que as conectasse. Talvez eu só devesse lhes dizer: - Durmam bem....

MAR DE MÁSCARAS

Noto estranhos ritmos navegando o entre-ilhas do contra-senso servindo neste comercial urbano energéticos com ódios para conjurar a sede de auroras de plástico e orgias de consumo enquanto homens cinzentos matam mendigos  e mulheres castigam a si mesmas sob inquisições de ilusão.

NA PORTA DA DICI

Eu parei para ler uma letra de música estampada na porta de vidro de uma associação comercial e pensei numa letra que eu pudesse fazer com lirismo igual POR VOCÊ EU DANÇARIA TANGO NO TETO Mas uma voz de mansinho pra que ninguém a ouvisse disse devagarinho num modo bossa-nova de João ou Tom Jobim quero o poema todo fica quietim quero o teu desejo de ser mais que o mito da aldeia inglória quero a tua fama lama flama à vista tua imaginária musa de revista quero a tua dor fingida de artista quero a tua cor pálida alquimista quero, ou dá ou desce DESCI DANCEI

TEMPO DE GOTAS VELHAS

Caem as baratas gastas que se agastam na noite, casacas de chuva velha, patas aceleradas. Gotas velhas, chuva nova, sem sangue, sem ossos densos, com antenas sonolentas que distorcem costas tensas. A chuva fecha o que penso, e nem sei se o pensar colhe, e me transporta qual barata, embora o tempo me esfole.

BOLO MISTO

A verdade acaciana  é que estou explodindo expressões em comprimidos, às vezes para contrabalançar o furor de minha febre demasiada. Outras vezes, esqueço, e calma tomo com guaraná. Calcando o verso num copo de ossos-letras e analisando vácuos, faço mortes em retalhos: de encontro a é uma morte e ao encontro de é outra. Uma coisa é o encontro dentro. Outra coisa é o coentro-conto. Fico assim por horas, doendo. Assim, melhor provo as gentes, com três colheres de mentira e uma pitada de verdade, pequenininhas mortes de amor.