Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho 26, 2013

AOS POETAS O ENIGMA

Qual todos os homens, o poeta acorda, qual todos, ele ri e chora, e erra tanto quanto o rei da Inglaterra, qual todos, ele tira a meleca do nariz quando só uma pessoa por acaso o vê. Qual todos os homens, o poeta vive, qual todos, morre a cada desamor, e precisa do seu perdão, mesmo que você não o dê, e qual todos cutuca os ouvidos com as unhas quando só uma pessoa por acaso nota. Qual todos os homens, o poeta cansa, e cansado reza ou não pro escuro chegar, e o escuro não chega tão rápido quanto quer como ocorre com todos os homens que têm pressa. Qual todos os homens, o poeta quer marcar com lápis grosso o destino incerto, quer assinar papéis inúteis com inutilidades, quer deixar nos outros uma saudade como flâmula. Qual todos, quer chegar de novo ao porto onde deixou o mais fundo de si mesmo, quer abraçar de novo os adultos mais altos que puder encontrar, e os nomear seus deuses, garantia de primícias. Qual todos, os poetas confirmam o enigma da esfinge depois do sexo com suas areias

MEU ABRIR

Meu tudo é abrir-te Palavra Sem que o tempo importe. Há poemas-portas: Carne para o corte. Só a dor é chave. Recurvada. Vês nas mãos De vidro em simulacro Lâminas bem tortas? Frágeis aportes De irreal atrito. Ter às costas Asas em palitos, Penas quebradiças De desdita e pele póstera... Sem que os céus se importem E fogos esquentem, Ao que és entortam As palavras dentro.

DE ENTRE AS FERRAGENS

Há muitas vozes. Muitos poemas querendo viver. E o útero da minha mente vaza. A cabeça dói muito. Uma montanha em dores. Sei que quando estamos sós Não estamos sós E há sois Agora nublados Este poema teima em querer ser verdadeiro Mas é falso Não acreditem nos meus sóis nublados O poema é inútil Estou num abismo mental Mas estou subindo pelas paredes Já estou alcançando a borda.... Obrigado por permanecer aí. A cabeça dói com dor de ser psicológica Como... Estou proibido de dizer O que os olhos dizem quando não existem. Preso entre as ferragens do poema.

FAREMOS VOTOS COM NOSSO RELEVO

Quanto nos resta do século? Como aproveitar o que falta? Amar? Mas quem quando onde? Todos se entreolham. Quem será que nos completa? Somos sós pra sempre? Apesar das peles no entorno, o cheiro é só um acaso. Não tememos os jornais que enrolam policiais nas peixarias. Outrora, Tempo, banhavas nossa alma em indiferença. Mas agora não deixaremos. Acumulaste milhões de memórias às custas da nossa pausa. Deste de mamar a mortos semideuses com o preço do nosso sangue. Agora, queremos que confesses. Outrora, acumulávamos tuas medidas nos ossos. Falavas de um de nós: - esse tem o osso atemporal e por isso darei a ele um fim! Ouvíamos sua voz, não era preciso que nos esforçássemos. Mas agora teu cão feito de dentes incisos não mete medo a nossos cabelos brancos. Tua esquadrilha de ponteiros de papel pega fogo em nosso vento. Guardamos os lenços que enxugaram muitos olhos. Não queremos esquecer o que nos fizeste. Por isso nos enfiamos nesta caverna em frente à tua casa. E aguardamos que reco

ZUZU ANGEL

Quando uma mãe se faz anjo, primeiro ela rasga as asas e tira todas as suas penas até ficar nua, se expor. Quando Zuzu se temperou no fogo, lacerando a alma nas rochas, poucos acreditaram. Quando aquela mãe anjo tornou-se, poucos a viam pois no céu de seu filho ardiam suas nuvens em rapidez de dor. E o mar era fosco então. Mas, anjo que era, a alma de suas cinzas Abriu-nos para a indignação necessária.

VAN GOGH BATEU EM CASA

Van Gogh bateu em casa. Tomou café, comeu orelhas de poesia. Ajudou-me a espiralar a tarde. Mas só depois de pegar o sol e dar-lhe pétalas de girassóis, no quarto onde uma cama pousava. Foi embora com a chuva a tiracolo como uma tela pra mais tarde sonhar Kurosawa.

GARRAS TRANSPARENTES

Pouco sei ou devo saber do pouco que fizeste para estar no penhasco frágil. O primeiro homem no começo da montanha, por exemplo. Não, não te assustes de eu o saber. Deixaste que ele te tirasse as garras . Soube também do segundo ser transparente. Quebrou o vidro no cerne de ti. Esta a razão de andares envidraçados labirintos. Enxerguei-te as ondas no mar do ser. Estavas afogada no sal marinho.