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Mostrando postagens de novembro 22, 2013

MERGULHO NO TEMPO E NO RIO

Não se pode mergulhar duas vezes no mesmo rio, apesar do rio me parecer sempre o mesmo, com a mesma margem e suas moitas, e as mesmas árvores ao longe. A mesma família mora ali há anos, minha avó recebia os aluguéis quando era dona da casa onde mora a família. Depois meu avô e minha avó morreram. E o rio continuou ali, um pouco mais sujo, afogando alguns de vez em quando sem querer, porque um rio geralmente é muito bondoso. O mar é que tem seus rompantes, ora manso, ora bravo. Mas como dizia, duas vezes não se mergulha. Até porque o tempo passa e se veste de hoje em qualquer espaço onde estacione. A família mora ali há anos, mas já esta afetada pela urbana face. Traficantes possuem uma boca perto. Prostitutas gostam de parar frente ao rio de madrugada e ofertar-lhe os pés, quando muito as coxas. É quando o rio diz: "ai, que felicidade!" Não se pode mergulhar duas vezes no mesmo rio.

ELA DORME ELE OLHA

Ele olha pra ela que dorme no sofá encolhida, parece calma, e respira em harmonia com a rede lá fora que um vento safado balança. Ele pega a mão dela, ela finge que não sente as mãos calosas dele, finge que não ouve o coração dele, finge que não sente  o quanto ele esconde as palavras como pedras colecionadas  para a beira da água do amor. Lembra da primeira dança em que ela de olhos fechados imitava uma nuvem carregada ou melhor um girassol romântico e mais longe lembra quando no balanço ela o cobria com celestes raios, lançados do calor de suas retinas. Ela dorme tão quieta que chega a ouvir os rios do entorno do éden, embora só ela saiba que não dorme, pois assim pode melhor senti-lo  em toda entrega do ser, frágil só pra ela, forte só pra ela.