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Mostrando postagens de setembro 23, 2014

O NAVIO

Um navio. Entro. Vejo o mar ao longe e perto. Sujo de óleo e homens. Dentro, uma piscina. Gente gorda, gente fina. Foi dia de visita. Saio. O navio sonha. Não, navios não sonham. Eu sonhei que era comandante. Que cantava aos tripulantes. Aos visitantes. Aos pagantes. Sai. Fiquei só com a praia. Nem moedas para um sorvete. Passam banhistas. Tento esquecer o navio. O navio tenta me esquecer?

SE EU ME CHAMASSE SETE-FACES (a Drummond)

Vejo gente multiplicada por gente sobre gentes.... Pra que tanta perna, tanto movimento, nada lento, tudo rápido? Poucos cultivam o bigode. Só conheço o Tião e o seu irmão. Creio no segredo do sonho quântico. Somos eternos em processo. Eu mesmo me abandono a devaneios sutis. A galáxia é vasta. Meu coração adora um torresmo com cevada. E ainda me comovo com a morte na TV. Se eu me chamasse, eu me atenderia. E se meu nome fosse Raimundo? Voaria com solução De formicida e rima. Ou não.

SUOR EM CUBA

Em Cubatão, há o suor na avenida 9. Há movimento abaixo e acima. Há ambições, sonhos. Moças almejam moços tranquilos. Que as amem e lhes deem filhos. Nem sabem por quê o útero clama. Mulheres amam ou não. Homens não amam ou sim. A solidão clamando. Pardais quicando. Há quem ame o sol e a lua somente. Há maquinismos. Houve poluição. Alopécia nas serras. Dizem que não há mais. Penso Cubatão, depois de tomar banho. Amo esposa e filhas e ilhas findas. E aos amigos, sóbrios e bêbedos, De religião, política, teatro, E levedo. E a mãe e irmãs, Desde cedo. Amo a cidade velha. Há quem ame às sementes Do amor, somente.

POETA DIZEMOS

Eu digo que sou poeta. Um amigo também diz. Um outro é reconhecido. Um outro se faz notório. Cita frases e se diz feliz. Lobato disse. Disse Rimbaud. E vai citando Todo lampeiro, Mas viver que é bom? Por que fazemos isso? Isso de nos dizermos poetas?

OBESA POESIA

Quebra a vidraça do verso a poesia que faço querendo exibição. Mas foi presa. Quem mandou ser malcriada? Mas ela não foi. Quebrou a vidraça do verso por estar obesa de universos e quase não caber no quarto de papel em que a deixaram.

DOR NO BOLSO

Não é o vento. É o ventilador. Escuro. Bati o nariz. A conta de luz No móvel. Desligar o vento. Do ventilador. Há dor no bolso. E nas ventas. Escuro. No claro De amanhã, Pagar a luz Por código de barras.

REJEIÇÃO

Vinha o outro-eu comigo. O derrubei no abismo. Pisei sua bondade Com uma canção difícil. Depois, o outro-eu subiu. A sua bondade com hematomas Se curou e continuamos por aí.

ENCHER OU ESVAZIAR

Embora o poeta gargalhe, há verdades só no corvo do varal da alma, que martiriza o papel com lágrimas de peixes picados por felinos mortos e por filósofos pescadores com veias incendiadas de verdades em pratos feitos e frases prontas para se atirar e não deitar ou andar encher ou esvaziar, enquanto lê Edgard