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Mostrando postagens de dezembro 10, 2012

NASCI CRESCI

Nasci e cresci me inquietando. Desde sempre perguntando. E quanto mais perguntava, na alma Reta um lado ardendo. Algumas palavras nasceram E me entortaram mais. Fiz túmulos de papel, Mas à dor não deram paz. E fui destoando, toando. Desentranhando, doendo, Entortando o desencanto De atordoar o tempo. Das poesias que fiz, A mais torta é mais feliz.

MAS GANHASTE

Perdeste  mais um  dia disso. Mais um  dia daquilo. Perdeste  mais um risco de arco-íris. Perdeste  ao discar tantas vezes  para Osíris que inexiste sem o antigo. Perdeste  o amarelo e roxo  dos ipês. Perdeste  cantos de pássaros. Perdeste  o verde dos jardins. Perdeste  os amores  que trituram. Perdeste  tempo ao espelho, ficaste empedrada. Perdeste  o caminho que não escolheste. Perdeste  quando negaste o rosto  ao cão da escada, amor verdadeiro. Perdeste  quando viste luz  e ensombreceste. Perdeste  quando não ligaste  à dor de outrem. Perdeste  te desviando  às chances de sorrir. Mas ganhaste quando a amizade  devolveu o que perdeste em nacos de afeto iluminado.

TENTEI NÃO DEU

Tentei prender-te no poema Não deu Tentei subjugar-te na alma Não deu Tentei prender-te entre linhas Na gaiola nos braços Não deu Numa baleia branca Não deu Num tubarão alemão Não deu Numa favela carioca Não deu Na Rede Globo Não deu No BBBrasil Quase deu No livro de tragédias Quase deu No teatro de bonecos Quase No coração tentei Um pouco entraste Escapuliu Foi então que sem querer Querendo Tentei no ventilador de teto Aí deu Consegui E até hoje, quando em suor me afogo, Ligo o ventilador ao máximo Só pra ver-te rodar E adormecer-me em vermelho.

CRENÇA EM FARDOS

Um cheiro de poética grega. Um tal observando uma bicicleta. Faz de conta que não olho a moça em flor. Um carro passa rente à bicicleta. Um outro passa rente a um homem. Ele tem a vista obstruída pelo açúcar. Mas nenhuma dívida com os amigos. Nós dois e mais uns doidos cremos No magnetismo da linguagem. Somos senhores sem vergonha De poetizar Beleza e Podres Humanos. Temos modos diversos de entrelaçar o verbo. Mas nenhuma dívida e muita dúvida Em cada tijolinho de nosso interior. ...Nós acreditamos em fardos.

CACOS DE TEU MEDO

Acho cruel discordar do cãozinho que exige o passeio exatamente às 22 horas. Acho emocionante imaginar-te no abismo por desnudares os céus com as idéias velhas de teu pai. Acho emocionante imaginar-te a morte depois do que coube à verruga em tua alma. Acho emocionante te imaginar sem sapatos sobre cacos de tua alma de espinhos por poluíres a Moldura do Retrato.

O ÓDIO DE MEU PAI PELOS GENERAIS GORILAS

Eu sempre percebi nos olhos de meu pai o ódio supremo aos gorilas que comiam o cérebro da Democracia. (Os Generais eram chamados de gorilas, mas tinham menos coração que King Kong.) Eu sempre percebi nos dedos de meu pai o inchaço do ódio quanto aos gorilas que cresciam das ervas daninhas em torno dos justos. Eu sempre percebi aquele ódio que pensei ser contra mim.

INCRÍVEL FOME

Certos tons me dão uma fome incrível. A saliva aumenta e o estômago idem. Tento não olhar essas pautas vivas, Mas desde a infância sou fraco à música. Na mesa, uma faca de fio cego. Há sangue de SER por toda parte. O prato melado e sujo de harmonias. E as sobras no dente a gerar chiados.