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Mostrando postagens de fevereiro 15, 2014

TORTO POEMA A MONTAR-ME

Ah, tédio seria sempre ter um poema para críticos, amigos, e para isso. Então,  o drama me estipula. Torto poema a montar-me circula.

DEVANEIO VARIÁVEL

Num instante, o aloucado Ícaro, n'outro, o alocar de uma minhoca. O sol também terá um sono eterno. Toda estrela o tem, por certo. Mas sempre há uma suave chuva. Vamos ali prum café com uva? Um sorvete? Falar das curvas que comovem todo trem? Num instante, o mato do sátiro. Noutro, ele também. Seu desejo é fechar as ninfas com burca. Num instante, a deus temos, noutro, tememos deus, crença, descrença, mas quando passa o carro sobre nossas cabeças eterniza-se a estrada. Um amigo chora, escarlate, e isso o anoitece. Mesmo cético, creio, na noite que não é minha. Lembro a voz de Omar: "Nessa encruzilhada  do desejo e da necessidade, não deixes nada..." Falou alguma coisa mais.

ASMODEUS, IMPOSIÇÃO AO SOPÉ

Usava Aeshma Daeva camisinha de couro  de tubarão maquiado e masturbava-se com mão alisada em corais. Era um deus natural como um adolescente cheio de hormônios. Detestava salada de algas que serviam na cachoeira do acreditar. Quando os agentes da lei pegaram aquelas meninas no sopé da favela e elas lhes ofereceram aquela coisa preta no meio das almas, exatamente quando cheirávamos o pó das estrelas, como iríamos resolver sem ódio? Quando a gente entrou naquele bar, como escapar de odiar aquele Pai que condenava tudo o mais que não fosse seu falo ausente?Ainda mais quando ele nos olhou querendo converter-nos ao Natal, ao Dia de Reis, com seu cheiro de suor masculino. O remédio foi matá-lo em nós, não por inteiro, pois restos de veda-rosca exalavam no ser/alma enroscado. Aeshma estava conosco e, bêbado como um gambá, vomitou saladas primevas sobre os agentes legais, e, com hálito de águas tranquilas, escorou-se em nós quando saíamos da ilusão.

DOCE DOR DE SER ÁGUA

Dizem  que  um  poema  contemporâneo trinca brinca sem existir n os mamilos da nuvem literária e não trai como naquela vez em que prometi fidelidade e  finquei meus dedos românticos na boceta de uma titânide azul que era a forma tradicional de meus poemas enrolando as nove musas

NUNCA FEZ TANTO CALOR

Enquanto pseudos-fruidores com perfurantes olhos e bocas drenam do pescoço da cultura o sonho e reflexos, no instante em que vendedores no lotação  violentam mãos desnudas de meninas com balas, o calor torna mais "brabos" os covardes fatos cortantes.

MC DONALD'S COM M VERMELHO

Família assim Saindo: Duas moças E dois meninos, Sendo um deles bebê, E mais o pai e a mãe, Só pra esclarecer vocês. Entram todos no barzim Do fim da ruazinha: O do Marquim Dornaldis, Onde há na vitrine quente do balcão Linguiças pastéis e ovos de codorna De ontem e tresantontem, O calor matando e sendo morto, Uns bêbados chorando e cuspindo No outro lado do balcão o chopp fervente. Sentam-se então Duas moças E dois meninos, Sendo um deles bebê, E mais o pai e a mãe, Só pra esclarecer vocês. – O Haiti não é aqui... Cantou o caçula, Caetana e re(gil)iosamente. Na TV suspensa, Deuses de barba, Anjos da Guarda E nuvenzudas com silicone Se beliscavam, Enquanto lá debaixo Seis indultados no Natal Subiam a ladeira Portando metralhas E alma ruim. Acabando a subida, Entram no Marquim, Que lia o conto Sarapalha, Sujo de alho e mostarda, E o cercam. O galo canta três vezes Em tom de projétil Num celular vizinho: Fiu fiu fiu fiu GNAB (BANG AO CONTRÁRIO) BANG(BNAG AO CONTRÁRIO). A família é r

NO MEU QUARTO DE OCEANO

Com seus olhos úmidos, choveu. Um anjo puro muito inimigo seu rezava no templo. Coceira nas axilas do barranco estremecia o solo. Mas ainda não era o fim.  Muito coçavam os pentelhos de Deus. As árvores urinavam nas bocas dos rios. Bebiam da inundação carontes mansos. Aprenderam com as desbocadas quimeras do quarto. No meu quarto, não mais lugar para livros. Elfos amigos fodiam debaixo a falsos Cérberos, digo, Cérebros. Fadinhas autofágicas vomitavam suas asinhas sobre o papel. Paris ainda cintilava no postal antigo. Quando puxei a descarga, nem tudo desceu. O ar contaminado pelo cheiro chegou até os outros. Falaram de minha mãe coisas que só eu sabia. Sempre fui um oceano para meus pais. Sabia disso o peixe-boi.

POETA FEIJOADA

Poeta Maior, quando tu trespassas est'alma em troça/traça e passa-me com os teus poemas, Eros na mesa, este poeta tardo co'a memória repassa minha tataravó parda fodendo meu vô árdego com amor e aroma de feijoada atávica.

MENTINDO-ME O ROSTO

Quando recebi este rosto de hoje, assim inchado como pé-de-atleta-baixo, pesqueiro com motor magoado, olhos lotados de medo e cansaço, e estas mãos com sardas crescendo ao modo de árvores intensas, e este peito a perder-se no queixo, não foi surpresa. Conheço o espelho de longa data e ele sempre foi um filho-da-puta, mentindo meu rosto a cada momento.

DEBAIXO DAQUELA LAJE

Ele latiu-me que vivia debaixo daquela laje um pouco antes de estourar os miolos defendendo a companheira de cio se colocando à frente de uma chuva de chutes e pauladas depois que o eixo da terra desviou acho que 6 ou 6,5 graus a violência ficou natural e precipita-se em chuvas de violentos gestos não há bueiro que contenha e suavize as enxovias dos corações cobertos de cinza e rubi Ele latiu-me que vivia debaixo daquela um pouco antes de aprender que valia a pena confiar que valia a pena esperar que valia a pena abanar o rabo

DÚVIDA DÚVIDA CRUEL

Quando soubemos de Caim, tivemos dúvida do crime. Ele sempre fora pacato além de não ter mãos nem pés. Ele, antes de matar o irmão, cheirou códigos samurais, dizem, mas nem nariz ele tem. (Como será que respira?) Depois acusaram-no de traficar água nas costas das esfinges. Mas aqui não tem esfinges a não ser nas cadeiras dos vereadores.

HOSPÍCIO

A noite nos  escreve com  o sonho à mostra e quando deixa  de escrever-nos nos encosta  nas dobras do dia onde enlouquecemos de sol e lógica e justificamos nosso hospício de calor onde casamos temos filhos e honramos pai e mãe comprando ventiladores condicionadores de ar na areia da praia na casa de campo ou entre muriçocas de vento em apartamentos e casas de chuva

CASTIGO MÍTICO

Me encolho no Olimpo, penso no cordel. Naquele cordel que meu pai leu sem vontade. Naquele cordel que leio com vontade agora. Penso nas asas que ainda não fiz. Na insegurança que haverá na cera dela. Na insegurança que eu darei ao palco. Na insegurança ao chegar perto do sol. Sol que me acolherá como um berço antigo. Um berço amarelo iluminado de penumbras... Penso no bom de um amarelo suave. Em todo o provado dos lábios das rochas que empurrei ladeira acima.

ARMADILHA

02h48.  Prossigo. Sou apenas mais um. A corrente se liberta do meu ferrugem mas ainda prossigo. As rodas vão, independentes de padres e miguéis. Porque o poema precisa que a rocha prossiga. E eu penso nas vozes antigas, nas atuais e nas que ainda não chegaram. Uma cadela desespera com papilomas na boca. Já urinou na calçada. Homens correm atrás dela. Cada qual com um porrete feito de crânio imprestável. Fiz uma armadilha para eles. 02h49.

FILHOS DE MADONAS

Os tais enchem as ruas, filhos de madonas tristes, e, sem mexer as mãos, fumam tudo que existe. Aos que passam, esses filhos de madonas não oferecem seus doces de fumaça. São todos vozes da urbe e o fogo que os bebe esfrega e afoga finais dos outros filhos.

MITO EM MIXÓRDIA

Odisseu bebia bebidas quentes. E começava a falar das sereias. Sua oficina cheia de dentes. Sabia de Narciso e as mordidas No lago do  cavalo de orixá. Seu nome? Pégaxu. Ou Picachu? Odisseu incendiara muitas vilas. Vencera tróias outras. Sem querer ferira o abismo. Odisseu  Sempre ressuscitava Quando bebia rios- Espelhos.

CAVERNA DE "PRATÃO"

Estava conversando  na Caverna de "Pratão". Prisioneiro, disse Pratinho,  somos de nós mesmos, Grutas de Falópio  que almejamos (estava bêbado), O que vemos  são sombras dos outros (Estava filosofissêmico). Ele me disse das duas faces. Uma assim outra assado. O que nos prendem são os sentidos, Dizia. E eu olhava sentidamente Sua filha de dezessete anos Que brincava com fogo Na Vila Erótica Dentro de um armário de gelo. Ela perguntava repetidamente Alguma coisa com sentido Tipo o que é real o que sabemos Qual o sentido da seta Quando acabam de brincar Os profetas O que fazem os cegos? Quando Tirésias matou a cobra, mostrou o pau?

PROBLEMA PROFUNDO

Ele tinha um problema profundo Além de ter trepado com Genalva Matado o pai Rasgado o manto de Tirésias Mijado na boca de Medéia Comido a Esfinge pelo lado Da porção mulher menos macho Atropelado um tio de segundo grau Devorado uma sereia assada Depois de ter tirado suas tripas E espinhas afiadas do trabalho No Congresso Nacional Pois não havia vagas Para mais um cruel Entre os comissionados Ligados à Secretaria Recém-criada.

NO AGUDO DA AMIZADE

Não fui o que fez coisas maiores do que as que fez meu pai Condor. Não sou sequer o arremedo das fortes mãos no motor. Quebrei muitos espelhos sem sequer ligar às imagens que caiam das molduras. Era novo, sangue em mel, Como um saci-melaço. Me preocupei com a bondade de minha mãe católica. As sombras rodeiam os bons. Não perdoei os traidores Pelas pedradas na testa. Muitas vezes fiquei só Com o barro de deuses na cabeça. Não fiquei sem escrever um minuto Por receio dos campos se fecharem. Sempre fui um preguiçoso numa rede De onde saí poucas vezes para passear No agudo da amizade sem paredes. O que é um amigo?

AO SOM DE MOZART

Quando estiver torto ou morto entre beirais, levem-me à baldia estação, selva de ais. Quando estiver zonzo, langue em luz assaz, estarei pronto de alma aos comensais da cruz. Já fui pedra, já fui carne, já fui sarro pra demônio, já fui ator de garagem (só não sei se isso foi sonho). Quando estiver mais longe, deixando mil coisas, quero ir findo e incréu, ao som de  Tom e Mozart.

NÃO HÁ DISFARCE OU FUGA

Espelho falador diz que envelheço Nos sulcos que me rasgam meio rosto, E a mim só me resta ficar mudo Ou rabiscar o espelho, este encosto. Não sei se possuí fartos cabelos Ou pele lisa como pista em neve, Só sei que me faz medo este reflexo Que me toma de assalto e ao tempo mede. Amada esposa, a sede em mim alcança O teu amor, que é sol à vida breve! Amadas filhas, apressada é a dança. Acoberta-me agora a densa neve Da moldura do espelho, que descansa A mastigar-me, enquanto o tempo escreve!

ASAS AUTÊNTICAS

Asas autênticas paridas nas ondas dos fatos. Embora continuem incendiando mendigos. Embora quebrem rostos com lâmpadas. Embora crianças jogadas pelos muros. Embora poetas sem vozes declamem Possuídos de genialidade mercantil Colando a bunda em grupo feito cães. Pela condenação de ser livre acima do papel Lanhando a pele do lápis no céu de se buscar.