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Mostrando postagens de junho 19, 2015

COM TUDO QUE LEIO E SINTO

Tinha um caminhão chevrolet, um livro sobre o socialismo e vários folhetos de cordel, entre eles de João Acaba-Mundo, que lia até que acabasse o Mundo Claro do Dia. E minha mãe o amava. Todos o amávamos. Conhecíamos seu cheiro. Carregava cascalho e enxofre. Seu caminhão tossia. Um dia ele disse:  vou ser meu, já! Foi quando comprou o carro com tosse. Foi ficando oleoso, com graxa. Sempre embaixo do carro. Me pedia a chave de boca. Eu entregava, boca fechada. Me pedia o virabrequim. Era mui pesado. Ele sorria. - Vá ler um cordel! Eu ia. Li muitos cordéis. Que se enlaçaram no meu ser. Sobre Lampião, Corisco, etc. e tal. Embaralharam lá dentro Na armadura de Dom Quixote Feita de pensamento e sonho. Hoje, ele está dentro de mim Com tudo que li e leio e sinto. Vez em quando escuto uma tosse Bem fraquinha no beco da memória.