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Mostrando postagens de outubro 19, 2014

PRECISO REMAR

Preciso consolar a vida cheia de morte pois seu choro aos meus ouvidos sorri mais do que suporto Preciso consolar o barulho cheio de silêncios pois seu choque vazio me faz trêmulo nas orelhas Preciso remar entre notícias cheias de sinais rubros e sentir a morte morar nos meus irmãos para registrar a alma na carne do alfabeto

APESAR DE TUDO SOU

Apesar das algemas sou liberto como um poema incerto na argamassa do espaço Apesar das grades sou liberto como traço em tela de um olho dormindo Apesar do estilete sou liberto como um cabelo ao vento ou um alheio sentimento

PEDAÇO DE FOME

Pedaço de uma fome qualquer e com sede vai com cesto ao rio-mar buscando estilo mas o estilo é uma velha lenda que o poeta copia e preso fica ali sem pérola própria com cesto cheio de furos Mas o que é a poesia? O que é o é? Vou comunicar: não agora que estou com palco proibido ao real e com uma voz-cópia Eu queria fazer um poema sobre a poesia mas nunca fui até ela ela é que veio até mim sem pedir licença pra engomar minhas roupas da primeira vez me enterrou minha mãe não teve tempo de me pentear Quando vi a flor da poesia, ela despetalou minha interioridade mas era cópia de uma cópia de uma cópia de um escritor com estilo e que não muda nunca

O MITO ME ABRE AO NADA

O mito me abre os olhos mais que ao fato à faca-dicionária cheia de orvalho O mito me abre a alma mais que ao sono, é quando enxergo o signo como não-ser O mito me abre o corpo da palavra, é quando só com meu nada posso lavrá-la

SEMPRE CAI

A carne sempre cai quando a alma esvai ao que devora o amor E no solo vai ganhando frestas poluindo envenenando queimando com o ácido do seu descante o que devora o amor Sempre cai

SE EU PUDESSE O FIM

Se eu pudesse  escolher o fim o quereria  com um ar de começo nas bordas de anseio de teu beijo e fujo eu do centro porque na beira do rio há mais verde curvado às águas que passam nos teus lábios dentro às pedras que se arrepiam se encolhendo de frio como quem brincam oferto este frêmito vermelho no assento