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Mostrando postagens de janeiro 10, 2014

FICÇÃO-ALMA

Dois toquinhos de cigarro no cinzeiro à minha frente, a seu lado um lápis de olho de filhas olhudas pra doces, uma caneta deitada perto ama lápis de olho, e até trocaria de função não fosse o medo de cair nos mares da vista, e se nadar soubesse em olhos com lentes mergulharia, assim usaria  as lentes como bóias pra salvação da ficção-alma

OSSADAS DE ÁGUAS

Há ossos como os da alma que não se quebram fácil há ossos de árvore que deitam flores há ossos de estrela que deitam luz como fazem almas que não se curvam fácil ossos há no corpo do vento esclerosado parou no ouvido das folhas com ossos que ninguém nota estou pisando sempre nas ossadas das águas da chuva disto

ADJETIVAR SUCOS

Adjetivar a fruta-letra pendente, um olho passa o sabor da frase a outro olho, sobre outros olhos o cheiro do vento limpa as retinas, mostra a língua, cansada do calor das laranjas cheirosas que pulam de todas as fruteiras e nos sucos morrem

TABLETES DE SOMBRA

Prosa molhada cortando a dedo, a alma de papel, o sangue, a seiva, o asfalto no lápis, o salto das artérias, velhos túneis por onde entram glóbulos de todos os erros dos que escreveram antes, molhados  de tabletes de sombra

QUANTOS USAM A CESTA PARA EGOS

Quantos há reis-de-si-mesmos? Diz-me, pessoa boa, ruim, à-toa.       Quantos vão nas bibliotecas? Quantos usam linguagens que criam? Quantos em êxtase chegam no abismo? Ninguém aceita o anjo urinando pós-modernos cristais. O tamanho da alma é mais importante. Uma alma ereta não é brochante. Há uma conversa doida no bar do cotidiano onde as portas batem com estrondo demasiado e ao canto um braço estica jogando egos na cesta. Quem? Tento ser novo mas as asas batem nas fogueiras como cigarro no sofá antigo e o buraco se abre e tudo se dá como sempre se deu no rio da minha aldeia que só olho de passagem como o fio de mercúrio da Estireno que lambeu de passagem o dentro de um peixe que foi comido por um colega de serviço que morreu por dentro e por fora ganhando passagem só de ida para além do rio do esquecimento (será que o barqueiro da morte se aposentou?). Minha aldeota cultural é industrial e linda e tem um rio colorido em cada artéria.

SOB O SOL O POEMA

Observo que de mãos arregalando a poesia acordou imóvel em cima e suas bandas macias sobre a laje ofuscam até o sol na história que se altera Vejo os raios sobre suas espáduas o suor deslizante em seus vales de frases sua circunferência ressentindo o verso morno e passada a manhã, a poesia, sentando nos olhos fuzilados pelos fatos, viola a lei do real  como se estivesse sem bloqueador racional