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Mostrando postagens de abril 29, 2013

ESPELHO-TE NOS CALHAUS

Não adianta fingir claros, Pois sou do escurecer. Um tal chora frente ao espelho Por ser eu a encanecer. Esse sofrer espelhante Como de alguém que se larga Ao espaço reflexivo Gera espinhos nas ilhargas. Embaixo das ondas tento Ser além do bem, do mal, Dando infância ao velho lento. E ao te ver bela, real, Sei que tenho sorte. Sento E te espelho nos calhaus.

FIOFÓ DO MUNDO

Te falo, sanguinolento: Os anjos de pés oficiais, Anjos que escrevem com sangue Ante o testemunho de estátuas Com armas de venalidade e corrupção, Gritam as mães com panelas Nas cozinhas de primeira grandeza Da sugada Brasília de Alões, Nas favelas virtuais do Ku do Mundo, Nos mocambos chilenos, Nos beirais das ruínas, em Somenos, Bairro de Brazuca, adrede maquiado Entre culhões/cuecas e consciências nos bolsos. E compram almas sem pele básica nos shoppings/currais eleitorais. É assim que anjos fumam em inferno aberto, Se abrigando do frio de enxergar O que resta e é ossário para contemplação dos fantasmas. É assim enquanto a pobreza em remela Assoa o nariz e cobre-se com papéis de bala Que eles chuparam muito mais No auge no nosso nazismo de 20 anos,  Seus nauseabundos dedos. Ontem e hoje, os mesmos de sempre  Cuspindo chicles verde-sangue Nas tuas ventas esquecidas É uma pena que você venda seus amigos Se caralhe, sanguinolento!

JAMAIS VOEI COMO AGORA

Nasci. Cheguei até aqui. Minhas asas sangram. É no espelho que sangram Do eu ao inverso. Desde pequeno, as manchei No centro incerto do ser. Com elas, jamais voei. Sua seiva dói Nos vasos do papel. Com elas, jamais voei Como agora.

ESPINHOS COM ROSAS

A essa hora, mães vendem coisas nas ruas. Pais vendem troços nas ruas. Filhos idem. Isso acontece há tempos. Meus pés já atravessaram a alma. Há espinhos de novo. Nunca encontrei imagem Sem espinhos nos braços. Numa floricultura, Espinhos vêm com rosas.

GENERAL GORILA DA DITA DURA

O General brada e senta-se à mesa. Saliva ele e, como o outro, ama o cavalo? Tirou zero na aula da infância. Nem sente os hematomas à sua volta. Nem sabe o General que foi outrora o Brasil Pra Cova. As vistas grossas embalam gorilas com amor(te). O General brada, educado como os restos no canto do pires. Não sente o cheiro dos jardins mudados. Sente-se abençoado em suas botas. O copinho de café quente que tomará amanhã em cima do canhão de brinquedo que imagina ter na sala. Anseia por banhar a consciência. O General nasceu puro mas sujou a consciência Naquele Polícia-Ladrão. Hoje, o cemitério se chama: o  General Saliva Salva!

QUESTÃO DE SERIEDADE BASILAR

Os que leem o que escreves nem bem devem saber o segredo de espumar frases com vida. Gesto que traz a vantagem de dominar a dinâmica do começo da vontade de escrever ao máximo. Quando reescreveste palavras nas asas do silêncio, deste nova vida aos ecos da tua alma de tinta. Logo mais me desfarei de encontro às rochas do papel, o sangue modelará o Poema. E te rirás, ao  transfigurá-lo com as retinas, sem reparar no quanto sou sério.

CIRANDA REVIRADA

Oh gira o poema e torna a girar, Revira comigo, que, feito piaba, Aos teus pés de santa-diaba, Morena, pus-me a nadar! Meu poema ardido Por teu escândalo Tem jeito triste, Filosofando! Morena, morena, Só namoro, entenda, Pois casar é muito E vivo em contendas. Foi só conhecer-te, Levantou-se a grua, Minha sede intensa De chupar-te as luas! Meu desejo incendiou, E o luar ensandeceu-me, Por isso vulcões estouram Do solo que em mim fendeu! Tirai-me, Deusa, o tormento? -Não posso senhor Poeta. Onde a vida ao eu faz vento A morte a vida completa! Meus poemas derramaram. Minh'alma em lava ferveu. Mandei chamar-te, morena, Para cirandar sem véus. Meu vovozinho de Registro, Carregadinho de nanica, Fez bananada, raspou visgo, E tomou água da bica. Não te aproximes, ainda, Morena, pois, meu vovô, É fraco-fraco, fraquim, Num guenta o cheiro de frô! Oh gira o poema e torna a girar, Revira comigo, que, feito piaba, Aos teus pés de santa-diaba, Morena, pus-me a nadar!