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Mostrando postagens de outubro 17, 2013

CHAMADO ARREMEDADO

Assim meu mundo caminha nas arestas Cheio de extensões fraudulentas do ser: Cópia de algum outro que se imagina original A montar o arremedo de si abaixo do título.

EXCESSOS SEM CORPO

Há excessos de Deus-Sabe. Há medo de não ter pedra Que abra a casa dos bons Que em altura se atesta. Pastores flagram ovelhas, Monges entopem cadeias, Sacerdotisas enganando, Ambições fazendo a feira. Temos que criar valores No corpo a partir daí Dar carne sã como for A inéditos princípios.

VÊS

Vês como molham-me teus olhos raivosos? Me afogam e transfundem e resfolego... Que eles soterrem-me e me irisem...

UM DIA ME MATEI, ENTENDE?

Um dia em que um amigo morreu no ajeitar-se às pedras, uma amiga o criticou, dizendo: suicidou. Um fraco. Merece pena, não é como você. E deitou sobre mim uivando um gozo provisório... Então, eu me matei, depois de lhe deixar o meu orgasmo. Porque para um homem se matar tem de ter em seus olhos o fogo da Fênix, em sua boca o hálito de Cérbero, em suas orelhas o segredo da Esfinge, em seu pescoço a dureza dos Titãs, e desafiar os deuses como Prometeu, para enfim chegar ao esquecimento de muitos com os quais até se deu. Me matei e ninguém me impediu. Porque a decisão é solitária. Quando a gente quer, quer. Foi assim: escureceu-se o palco. O trem vinha ao longe. Ainda olhei pra trás a procura de um acaso. Quem sabe de uma mão eterna. Só um rato enorme ultrapassava a ponte.

POEMA MERGULHADO NO AMIGO

Passa o letreiro. O corvo só é ruim Sem filme de terror americano. Há escuro em não ver-te, Melhor amigo, de preto, Mas é que tu partes Sem dar-me aviso Ou amuleto. O letreiro passa. Como farei pra me enxergar? Se quando vivo Me alegravas Com teus xingamentos E piadas de amor lascivo? Amigo, como escreverei Sem a troca do sonho? Como remarei sozinho Neste barco bisonho? Ficou tão grande esse mar. Ficou tão alto  o barulho das ondas.

RASTRO E RASTRO

O rastro na mente Devora pensamentos E as horas tartarugam. O formigueiro da criação Tece rabiscos Com arabescos ínfimos. O rastro na areia Demora em labirintos E me guia em vidro A entrevida.

PORTA

  Uns-e-Outros falam uma porção de coisas. Que há uma porta inicial. Que, atravessando-a, tudo se resolve. E então todos passam a se lembrar Do quanto era bom viver num jardim E nascer como uma planta diversa Todos os dias: áurea raiz. Outros-e-Uns falam: Esqueça. Esqueça. Mas como esquecer Se já ouvi uns, Se o cheiro do jardim Já imaginei a subir-me Ao nariz?

VIOLINO SIMPLES

Um violino guarda os desejos da cidade. Se necessário também sabe o choro dela. E um bom violino sabe subir em prédios.

FENDIDO

O ser côncavo Crava. O ser cântaro Convexa. Do ser que fui Me faço anexo Cravo e cruz Aqui.

CUIDADO COM ELES...

Espalha-se o poema como flor. Que todos sejam alimentados do que é redigido em suas pétalas. Que todos matem a sua sede.  Pronto. Ficou bonito. Um poema com cheiro. Mas...cuidado, há os poemas  gordurosos de rima, corrupção gramatical e gás léxico do bafo de definidores e de seu ódio ao eu. Cuidado . Levanta a cabeça. Eles passam.