Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro 20, 2014

TARDE ARDE ESQUECE AQUECE

Estendemos as mãos quando as sangramos nos fatos. Destampamos  os vãos da sinceridade quando o engodo  estampou a anti-norma. Nos feriu o cão quando todos  estávamos fora da culpa. A gente esquece  a pele  e a alma aquece depois  a sós .

CONHECI ANNE FRANK

Conheci Anne Frank  quando usei  pela primeira vez  minha armadura  e li suas cartas no canto. Quando li sobre os nazi  de sovacos suásticos. Anne me contou  do livro que não percebeu. Não percebeu  as pulgas mancomunadas  com piolhos que vivem da morte,  nem aquelas estranhas  cruzes quebradas. Ah, construí um oceano  para ela viajar  em barcos de papel. Vou lhe fazer um barco  com Fernando Pessoa nos cascos. Eu estou buscando tábuas  Na tabacaria da tua aldeia.

ÍCARO EM FAUSTO

A sociedade serviu-me um bolo, numa festa, com cultura patriarcal nas bordas cheias. Como-o, abusando de minhas prerrogativas vampíricas, quando as madres submetidas firmam os olhares. Um relógio usava, com o qual dominei as mulheres de  Nosso Pai, lhes mostrando as marcas em nossas costelas delas, às 11, 55 h dos dias 30 de fevereiro, horário do Éden. Hoje, uso as igrejas para reforçar as asas de Ícaro em Fausto.

NA PEDRA DO ESPELHO

Tudo o que escrevi na pedra Reflui da água à margem, Tudo o que refiz a traço, Que reli, vivi no espaço Em branco, p or um triz Não passo a régua . Se chorei, ferido, em farras, Com a filha duma égua Da palavra avara, Mais eu choraria, prego Que sou neste ser de barro, De verdes riscos, pacto De um deus triforme Com um espelhado, Que nesta alma riscam Formas inexatas .

FLORANDUZUNDA

Nas nossas margens plácidas, Brazil - Bruzunda rende, Com sua pobreza exposta De viridumpiranga, E com passarelas maquiadas De manchete de ossadas Expostas por almas vis, Desumanidades E recheios de s(h)eca/late. E duras ondas paradas Rendem orfandades políticas que Diluem-se em linhas ti-ti-tis: Eles não ligam ao escuro Que larga inocentes Nos redemoinhos De cuecas de alargamento Universal marca Florão D'América. Assim Veja  Caras.

ONDE AS MULHERES COM AS QUAIS QUEIMAR-ME?

Eu poderia simplesmente me conformar com a beleza de submetê-las com minhas presas que o sistema religioso me deu e o não-religioso confirmou. E submeto com a cozinha sempre ali. As crenças dominantes nasceram no meu mundo. Num mundo onde o Pai reluz, contrário à lucidez. As mulheres que amo querem ser iguais à Virgem. Amam o Filho Sagrado. Passam pasta de dente para falar com seu falo. E depois aos seus cabelos com óleo lavam. E às suas roupas dão polimento com humilde flanela. Não pensam no porquê da ausência da Filha ao lado do Filho. Mas parem filhos-da-puta. Onde as mulheres com as quais possa queimar-me? Esta água me consome desde o século das trevas e se chama Vontade-de-Ser-Justo-Até-Demais. Sei que há um orgulho nisso. Ser-Justo-Até-Demais. Sei que há um engulho nisso.

CHEIRO DE COSTELA

Meus pais me entregaram  crenças prontas,  quando eu engatinhava arrastando as raízes.  Foi primeiro um brinquedinho  que me deram na Igreja. Massinha misógina. Nasceu comigo apenas  o receptáculo de medo e espanto. Meu: o único dever  de cultivar o medo e a culpa  como a um tiranossauro rex  de estimação. Mas meus pais e amigos  e inimigos  veneravam o Vaso do Jordão de Idéias Líquidas e Confortáveis. Da mulher o cheiro ainda é de costela na cozinha dos valores.

QUEM HÁ DE DOURAR-ME

Quem há de dourar-me o espírito com o ouro do Alquimista? Quem há de doar-me átomos para que mais vida eu vista? Nasci, em cidade antiga, com fios de marionete, e o cheio verso vazio, a cantiga em canivetes. E a pergunta inusitada: -Quem há de ao infinito, chegar sem tecer a Escada? E não possuo, interdito, resposta certificada, ardendo de sangue e grito.

É....CALOR

O que eles fizeram, você me pergunta. E o que você fez, deixando a alma morrer com a tarja preta de ir em vez de escrever errar acertar rasgar a capa e ser? Deixaste, por cansaço, uma frase cair da intenção, papel evadir nos dormentes, palavra derreter entre dentes... é...calor.

NERUDA E OUTROS NO GUISADO

Lava a louça, arruma a casa, Traz sempre a palavra pronta. Desventurada responsa. Ordeno: e nche a pa nela! Afinal, mando em mim mesmo. E uma panela deve sempre  Estar cheia, bem tampada, de frases sempre guisadas, a Neruda, a Mia Couto, a Dylan Thomas, a Pessoa, a Sylvia Plath, a Hilda Hilst, na cozinha de minh'alma.