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Mostrando postagens de dezembro 24, 2012

DE CORPOS E DE SEDES (versão II)

Quando um corpo vai noutro corpo incorporando, uma dor vai começando, a dor do fim que se aproxima, quando o corpo cansa, descansa, e arranja outra rima para o amor. Quando um corpo tateia a outro corpo, parece uma tempestade que se apruma, que tudo derruba, além das árvores que a floresta do amor insinua em derrubadas távolas. Quando um anjo tem sede de um anjo, há como um preparar de céus e climas, e o tempo avança, avança, avança, sem se concretizar, ambos vitimam o espaço que jamais alcançam.

AMANHÃ

Diz a alma: amanhã é outro dia. Outro começo. Outro fim de mundo. Todos sabem, pelo menos a maioria. Se perdermos o amanhã? As perguntas são simples. Sempre serão simples. O poema é simples porque pergunta. O poeta a mesma coisa. Porque é o poema. É simples porque tem a pele verbal inquieta. Eu tenho uma pele que parece simples. Sangra seiva. Foi com minha pele que defendi a indefensável morte. Que professei religiões que justificavam meus culhões. Que professei religiões que justificavam acima dos meus culhões. É com a pele da mente que escrevo de mil formas. Mente a alma. A alma me é ente. Mente?

DIANTE DAS CÂMERAS

Jasão tava no bar com seu violão Asa Grande. Passa a Fernanda Rosa, filha de um grandão do contrabando. Tinha um bundão de paralisar prosas de alemão. Em casa, Medéia dava um plus nas mãos depois de limpar a bunda do filho do meio. Jasão tava no bar com seu papo vesgo. Passou a Firmina, filha de um patrão do morro fronteiro. Tinha uma cintura e seios pequenos, maneiros, de biqueiras puras, plenas. Em casa, Medéia chapinhava o pelo com o fio do pescoço remendado. Jasão tava no bar com seu pinho pronto. Passou Epifânia, filha de João um bicheiro que a estava esperando. Jasa passa a mão e João marca o cenho faz o sinal da cruz e um capanga apronta o cano. Como era um filme, interromperam as gravações e foi todo mundo comer macarrão. No set, Medéia desmonta a persona e vira Andréia Freitas, atriz da rede, ajeitando o silicone em tempo record.

VAMOS JOGAR

O belo é uma questão  de negar tudo. Metafísica de Descartes. Negar os sentidos. Negar o espelho. Negar o poema. Negar o sonho. Negar a negação. Um é bom. Não. Dois, três, quatro, etc.,  dá bem pra fazer receita poética, participar de júri, dar oficina, e masturbar omeletes entre si. Os lábios literários almejam com gana o efêmero púbis  da mídia? Não? Eis o jogo, a trama. Começa na primeira linha. Vamos jogar, sim? Penso, logo desisto Existir é isso: de existir Se faz o correto viver. Se há o perfeito, há o se.  E se....R?

ORFEU EURÍDICE E O CRACK

Orfeu queria tentar e, por amor (incluso aí tesão), foi até a boca de “crack” ver Eurídice Conceição. Tinha uma intenção: tirá-la de lá. E eis que entrou. Negou, mas, contra a própria vontade, viciou, perseverou e eis que um dia avistou a bela. Porém, cada vez mais longe a Ceição. Ele ia, ela fugia. Até que a décima mulher do dono da boca 90, requenguela, Perzéfa Transsex, operada, gostou de Orfeu e intercedeu pelos pombinhos. Bocão foi bom. Teve galhardia. Disse que Orfeu podia levá-la, mas tinha de pagar as pedras que devia. Orfeu deu-lhe a lira, seu violão ferrado, de quinta. Papo furado, disse Bocão. Tem cor de viado. Não vale um pinto. Está até encupinzado. Falou Orfeu: Mas a meu dindo da Grécia pertenceu. Bocão falou: Tua mulher é minha. Eu uso dela té tê a grana. Mas, Bocão, ela me ama, chorou Orfeu. Provô da pedra, só ama o crack. Vou comê ela! Perzéfa perto cortava um fruto. Gritou: seu puto! Furou Bocão como peneira. Seu sangue em poça desceu o morro.

ENXERGAR

Lua insiste em crateras em cruz. Mesmo depois que usei seus cabelos para recheio dos uivos sagrados. E sua carne e seu sangue para a oferta ao Nada. Mesmo depois que lhe falei da opressão que teimo em fazer testando as armas. Mesmo depois que queimei meus satélites cristãos. Que lhe disse das mulheres oprimidas por igrejas cujos homens são elos entre homens e o Homem/ Pai/ Buda/ Krishna. Mesmo depois que falei da minha tribo de bigodes. Mesmo depois que lhe mostrei tudo que criei em volta da queimada de mulheres. Mesmo depois que mostrei-lhe a marca de seus olhos nas minhas costelas. Mesmo depois. E que parti-lhe os ossos. E que usei sua pele para os abajures.