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Mostrando postagens de março 25, 2012

UM ÍCONE

Naquela escola, próxima à Prixel, abriram o notebook.  De dentro,  o traço direito, defendendo o rosto. Baixou o traço esquerdo, cobrindo a pseudo-virilha. Quebraram-lhe os dados, o aço, envenenaram-lhe a excre/mente virtual, tudo que em si era soft/hard. Ergueu o braço direito, ajeitando os pseudo-dedos que ele achava verdadeiros, como todos nós. Baixou o braço esquerdo, sinalizando aos ícones-irmãos. Foi quando viu a tela. E fragmentos de metal no lixo.

AMADEIRADO

Há tanto tempo grito desta caixa de madeira forçando as tábuas de um dia inteiro Grito desta caixa de sólidas paredes de jacarandá um dia inteiro Desta caixa de mundo onde me debato arranhando o espelho onde se mira o som do eu Desta caixa onde me agito desde que carregaram meu corpo de um útero quente grito amadeirado

O TORTURADOR

Vou lhes contar uma história antiga. Enquanto a química dos alimentos se redemoinham em seus estômagos.  Era uma vez. Não. A vez é agora. Vocês sabem que foram tirados dos crânios aqueles cheirosos cabelos para rechear travesseiros, não sabem? Quando foram tirados, o torturador nunca iria imaginar que dentre eles estavam outros. Nunca imaginaria que entre eles estavam fios de cabelo de um menino de suas relações. Aquele seu filho, nórdico puro, que desapareceu entre judeus num campo perto dali, na fuzilaria do inverno de 39, tinha cabelos de sol nórdico, e, sim, eram seus cabelos que enchiam aquele travesseiro que seu pai usava, quentinho. A pele do filho estava também esticada em sua alcova: pele ariana filtrando a luz do abajur na cabeceira da cama. Branquinha. Antes de dormir, tinha o costume de enfiar agulhas, sadicamente, no abajur, pensando ser de uma judia pela qual seu coração se rendera, uma adorável puta, melhor que sua pudica mãe, no entanto.  Também, judiado pela insanidad

15.500 DEPOIS DE ZANZALÁ

Coça os olhos, após acordar com dor no supercondutor, comichão nos fusos. Acha as chinelas de amianto e dirige-se ao banheiro. Cheio de xixi? Ou somente sensação elétrica? Ou reflexos da teoria do campo magnético nas partículas XYZ? Olha o calendário: ano de 15.500 depois de Zanzalá, 05 de maio. Marcou com traficantes do virtual. Deixou de fazer coisas importantes por causa disso. Estava fazendo estudos para um salto androideano, ligando o inconsciente das criaturas artificiais aos mitos antigos. Seus pensamentos criativos eram captados pela Central? Imediatamente, chegam os agentes do governo robótico e trocam seus chips de fibra de carbono. Mas mesmo pinças precisas não removem seu percentual de autonomia. Os outros andróides sequer suspeitavam de sua genialidade, de seu desejo oculto de ser qual os humanos que existiam na Terra em 2000 d.C. No banheiro que construíra para si simulava os hábitos humanos e aumentava seu percentual de inteligência (i)lógica, aperfeiçoando as cagadas.

CONTO "TRAÍRA"

TRAÍRA conto meu um pouco antigo O Jardim Costa e Silva ficou em polvorosa. Em toda a cidade de Cubatão, haveria assunto pra toda semana. Tudo começou assim: Chegara em casa, irado. - Traíra! - Olha os modos! - Me lixo. - Os vizinhos. - Se mudaram. Chuta a mesa. Pratas voam, falsas. - Eu te segui. - E aí? - Eu vi tudo. - E aí? - A coisinha também viu. - E aí? Não conheço coisinha nenhuma. - A da esquina. Vê cigarros. Aproveita o clima. - E esses cigarros? - São seus, debilóide. - Não me chama assim. – Torce o braço do outro. - Puto. - Sou homem, você sabe. - Viado. - Repete. Puxa o revólver. - Atiro? - Atira. - Eu atiro em você. Depois em mim. - Atira. -Por que você quer tanto que eu atire? -Quero ver se você é homem. -Muito mais que você. -Duvido. -Só por causa de um bigodinho tá se achando. -Tá com inveja? Compra hormônio do bom. -Não preciso disso.Tenho mais alma de homem que você. -Alma de homem ninguém vê. O corpo todo mundo olha. Meu corpo é que vale. -Que homem é você?