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Mostrando postagens de maio 4, 2014

A PÃO E MÁGOA DE VERDADES

Quando me atirou no rio, Meu pai queria eu lutasse, Que eu aprendesse o nado, E ferisse ao dar a face, Quando me lançou das pedras E me escondi sob a casa, Queria que eu crescesse, Assim como em Pedras Se Indo, Um filme muito sucinto. Quando me descarregava Acima do seu pescoço, E de lá me atirava No abismo ao sul de Cnossos Era pra que aprendesse Os vôos de antigo Dédalo Na alma do filho intrépido. E das vezes em que fez Rastejar-me na parede Me preparou para Kafka. Quando me deu às mulheres Da Zona do Cais do Porto, Queria que eu aprendesse Com meu pau de rijo estofo Sobre o Teatro da Estrada, Sobre as delícias da Pele E seu orgasmo-em-palavra. Até hoje escrevo em tábuas, Ouvindo-voando e uivando, Principalmente rangendo, Com sede, a pão e mágoa De verdades desfazendo.

LUZES DOIDAS DENTRO (à esposa)

Em teu jeito, Céu de Neve, Deixo imberbes ramalhetes De meu poema de verbo atlético Surge o barco de pau-brasil e afeto   Em meu oceano de coisas pra te dizer Há águas de lirismo e espumas de dor Por tua lua, esposa, faço poemas de peles de lobo Sei, por minhas falhas de pedra, que pequei Bato nas pedras com lençóis de mel e luz Bato nas pedras com semínimas de astros Por você quero ter poemas aos mil E significar e ressignificar-me Recheado de neve cada verso perfura maçãs E claras ânsias tenho entre teus braços Tens olhares a que dou sentidos metafísicos E nos quais me banho de luzes doidas dentro

FOI ASSIM, VÊ SE PEGA...

Foi assim: a vovó de Chapeuzinho namorava um Papa-Figo que era gordo e branquinho e não gostava de fígado por ter nojo do cheirinho. O Papa-Figo sonhava com um banquete supimpa onde se alimentaria do "figo" das figueirinhas de um pomar que inexistia. Ele queria mudar daquela morta cidade onde os outros papa-figos zombavam com crueldade de seu gosto por frutas....... Entendido?

SEM POUPAR ERROS

Lutar sem poupar esquivas. Torcer as palavras vivas. Nunca deixar de banhar-se  no barro de invectivas. Dar verbos  às anêmicas frases. Sempre separar células  contaminadas de certeza verbal. Por isso, escrever  com os olhos a vazarem, humanos de amar . 

AFOGADO DE FINGIR

Ilusão Me serviram ilusão  Com muito sal Pressão alta nas asas Caí sobre o mar ilusório Com sal e sonho  Sobre as têmporas Ilusão, eu sei: Não despenquei  Com sonho e sal Apenas pensei Que despencaria E quase morri afogado Usando o travesseiro Como bóia no mar lençol Quando acordei Bem de manhãzinha

PARAR OLHAR E SEGUIR

Meus ombros cresceram Com sombras de aparo. Castelos caíram. Outros mil subiram. Dormi sobre seios De vento e brisa. Me serviram lendas datadas Sem efeito sobre o pâncreas. Apenas ficou a paciência De parar e olhar e seguir De parar e olhar e seguir...

DOENTE DE NORMAS

Deitado, eu estava  Curado, Fiquei de pé, Olhei o horário, Escovei os dentes. Vesti a roupa. Me perfumei. Saí correndo. Peguei o ônibus. Estava pesado. Pensei no serviço. Cheguei atrasado. Bati o cartão. Caiu a parede e o chefe  Descascados. Preenchi papéis. Seguindo normas. Cheguei ao fim do dia. Seguindo normas. Bati cartão, seguindo normas. Peguei o ônibus. Toda mulher que via  Se chamava Norma. Desci do ônibus. Doente de racionalismo. Deitei. Me curei de novo. Pude sorrir com toda a desrazão. E sentir com palavras choradas.

INSETOS NA MÁ FIGURA

Há insetos lambendo o ar da má figura. O fim não veio pois está tomando um cappuccino. Há insetos de fogo sobre rochas de corrupção. Há insetos de lava sobre os discursos. Um mar de insetos-línguas aberto sobre palavras em desordem. Um mar de insetos vermelhos sob cartas marcadas. Um maremoto de fígados sendo devorado nas câmaras. Há sombras nos passos dos inúmeros diachos. E apenas é de noite e vejo no mapa da alma um corredor atulhado.