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Mostrando postagens de dezembro 5, 2013

O LIXO RESPLANDECE

Há muito, carregamos o peso  das verdades de fraque e livro-caixa. Jornais e revistas mostram suas jóias e risos sob cuecas. Há muito, o discurso está babando nos corredores. O Papa pede perdão. Eu peço perdão. O Bispo pede perdão. O Pastor, O Monge, Tudo com O. Houve época em que usávamos a razão. Só não sei quando. É o que me contam os pais dos pais dos meus pais. Calaram as mães das mães das minhas mães. Aqueles, julgando e arrotando, lhes puseram mordaça. Há muito, o lixo dos patriarcas resplandece. E um deus caído dá tapinhas nas bundas passantes. É a tradição. A tradição de seguir.  De escutar o pum de um pai lá atrás. E fingir de surdo.

CONFISSÃO DE MAR

Bela de qualquer maneira, de milico ou paisana, do tempo à noite sorrindo ela surge e o sol se engana E a praia ganha sentido, seus olhos revelam mudas, faz delirar brisa e vento e faz do sol fala surda Pensava eu nestas ondas, quando ouvi passos corridos, as conchas brilharam tanto que fiquei cego do ouvido Numa tenda, ela olhava os preços dos petisquinhos, seus olhos tão redondinhos estrelas irradiavam  E ela passa passa passa, quando a alcanço se vai levando em si toda graça, agitando as ondas mais Mas há promessa em seus olhos de a esta praia voltar, quanto mais a penso, creio que esquecerei de ser mar

UM CARA COMO FUI ACABARÁ COMO SOU

Um dia a mendiga que se enche de plásticos fez plástica no nariz aquele que ela assoa como um chafariz teve um tempo foi bonita e um cara como eu fui olhava-a sem coragem de tirá-la pra dançar Há anos a mendiga que se enche de plásticos andava tão elegante com sapatos tão finos que um cara como eu fui achava que era a lua sua face de ilusão e sonhava e sonhava ser a noite que a abraçava Um dia a mendiga que se enche de plásticos dará lugar a uma outra e um cara como eu fui acabará como eu sou louvando as coisas diluídas

POR UM UNIVERSO DANÇANTE

Aguardo que venha a luz  que tudo ressignifique e um troll dançante faça do fim do mundo um desfile com milhões de carros alegóricos aguardo que o peito fique manso e que fique bravo na mansuetude como um cavalo vivendo contra o vento quero ver os quatro cavaleiros com programas na televisão já que os comerciais tripudiam sobre a fome e ri da nossa peste contagiosa de consumo que se alegra com a manipulação dos fatos e gestos e mortes aguardo que Sísifo seja apenas um mito na porta da rocha e não uma visão que assusta a cada pesadelo aguardo que as portas se abram que as janelas sejam escancaradas que eu me estilhace nas faces da música do começo do universo e que o mundo seja uma pauta musical sendo iluminado por cada nota aguardo que me sorteiem e digam ganhaste o grande azar aguardo que o correio me traga uma excelente notícia cheia de notícias em negativo com desespero de não ser mais triste aguardo as fúrias transformadas em abobadas abóba

ILUSÓRIA CANÇÃO

A palavra é insuficiente para o ser diante de cada dia que se apresenta amarrado com fitas de sangue. Cada dia uma ilusão-menininha  com laços de hemoglobina, cujo pai-sonho trabalha por 24 horas, de laços no relógio de ponto pra ir no parque gastar na roda gigante comer pipoca e cair da montanha russa mas com palavras insuficientes  pra dizer o quanto se ama, pra  dizer o quanto se odeia, pra escrever outras humanidades de ilusão, presa em babéis que se alteiam nas notícias das guerras dos homens, de número insuficiente pra separar o joio do trigo, pra transformar água em vinho para a de ilusão laços de hemoglobina. As palavras gastas como dinheiro nos comícios nas esquinas  nos patíbulos bibliotecas  bares igrejas câmaras tribunais, insuficientes são até para a lápide da ilusória canção que aqui não nasce .

SENTIDO DE BRONZE

A estátua de Casablanca. O seu amor  empedrado. Seu tempo estanque. Sua alma ausente é e sente o nada. Posso ver mexer-se seu filme a bombordo. Quase perdeu o eu quando o filme estava a meio. Já eu ainda escrevo de alma avoada. Diz-me o sentido do que quer que seja ao partir. Nenhum?