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A ALMA SABE

O corpo, diante do amor, fica líquido, escorre entre gestos. Mas, porque a alma quer. Pois se não quiser, o corpo solidifica, vil carcaça. Não é tão fácil entender o corpo. Não é tão fácil dominá-lo. A alma colocada no umbigo sabe e vira orgasmo corporal. E delira, quebradiça, No vidro do verbo.

VISÃO

o ingente de ti: 1 te aproximas com oceanos nos lados.. 2 posso perguntar-te de onde o maremoto de tualma? 3 falam que teus olhos gemem nas ilhas cercadas recheando hinos de corais com a febre do sexo. 4 falam que teus olhos possuem navios-fantasmas e apelos às antigas bacantes... 5 e bates as nadadeiras feridas por pensamentos pontiagudos no corpo nu..

SE EU TIVESSE O VIOLÃO DE MANOELITO

Recordo-me, primeira namorada, a tua negra face de angolana, os teus olhos de luar enevoado, onde imagens de luz se acantonavam. Recordo-me aquele amarfanho Nos lençóis das moitas, pinicáveis. Recordo-me do andar equilibrado, o modo de agachar-te: roupa justa, custodiando o ardente céu do sexo, molemente, ´pondo sátiros no arbusto. Se eu tivesse o violão de Manoelito Estarias em apuros, Deusa Núbia.

PERDIDO GOL

Quando cheguei aqui,  pediram-me um poema dócil. Disseram-me: se és poeta,  um poema dócil é fácil. Apesar dos pedidos,  não larguei o grácil fóssil dos poetas muito mais antigos  que o Eufrates. E chutei então  de meu dom-com-tosse a possibilidade do fácil. Fizeram um tumulto  de barroco impacto. Simples é a pele  que tem tato de físsil. Foi o que eu disse e ficou longe o que era simples.

ME DÓI O QUE VEM

Me dói o que vem e não verei Me dói o que já veio e não vivi Me dói e sofro rindo a dor que sinto E minto onde há palco por sentir Essa dor que pinto embora a tinta Esteja embora ali vem de mais longe Ao alcance não da mão extinta Mas do verbo em mim de não sei onde

ACENDER A CHUVA APAGANDO

Tudo que marquei e amei de letras e auroras procurou impossíveis. No delírio, a ponta do abraço desejado envolvido pelo vulcão de explodir o eu. O que não tateei senão uma vez constrói peles fingidas. O que não conclui na vida finjo na estrada de papel. Desço a irrefreável via. Renascer no intervalo. pular a janela escancarada. Salto ornamental no mim-mesmo. Pintar, respondendo ao vazio do cheio que não se cumpriu. Esquecer que sou  a fuga permanente dos passos de impossíveis que se afogaram. Esquecer que fui mas já não me lembro. Apagar, fechar os olhos e acender a chuva apagando.