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O TREM

O trem. A mulher inominável. Só você a vê. O olhar penetra fundo nos trilhos . O bruto corte, a inesperada carona. Meus ninhos morrem. Embranquecem. Os céus, plenos, sorriem. Aquecem. A viagem prossegue. O trem respira e passa o lenço no rosto.

MARIPOSINHA INFIEL

Mariposinha danada! Não consegue ser fiel, Olha uma luz, já se agrada, Vê estrela, jura ao céu. Ontem: aquela luzinha Da casinha do Israel; Anteontem: um brilhinho Nos brinquinhos de Isabel. Mariposinha inconstante, Excitadinha por luz, Por causa de estrela nova Abandona a que a conduz. Outro dia, em minha casa, Deitava eu no sofá, Ela a uma acesa lanterna Começou a rodear. Olhou um toco de vela Que acendi, foi xavecar. "É que são tantas as belas! Como a só uma cercar?" Minha doce namorada, Da visão fecha as janelas! Se eu pegar essa avoada Nos teus olhos, mato ela!

QUANDO VOCÊ CASOU

Você olh ou para a frente, Você o lhou para os lados, Limpou as margens do s olhos, Você se sentou. Quando você viu a peça, Quando você escutou a peça, Você pensou, Limpou as margens, Virou do avesso. Hoje você não consegue julgar. A peça foi boa? Não viu ... Quando você virou do avesso,   Quando você ouviu a música da peça, Foi como se ouro entrasse pelas orelhas, Esqueceu o enredo e fechou os olhos. Sentiu o cheiro de seus cabelos E a cor d o som que ela emitia, Descobrindo uma razão pra casar E seguir a dona dos cabelos Para sempre .

ESTAR DENTRO DA PAREDE

Estar dentro da parede há séculos. Ouvidos se estragando após ranhuras constantes. Crianças raspando as essências da cal. Pancadas distorcendo estômagos de argamassa. Há traços de sangue nas omoplatas. Estar dentro é tecer uma dimensão fechada. Uma dimensão que imagina o fora como sonho. A dimensão do fora gera filosofias e religiões. Dentro das paredes uma verdade única. Há traços de cimento nas suas omoplatas. Há uma dureza que vem da massa densa. De fundamentos sólidos geraram-se limites. Há outras durezas de tijolos e blocos. Mas sempre de pensar na dimensão do fora Criam-se lendas D'Os-que-usam-Colheres-para-o-chapisco.

RECHEIO INSEGURO

...Quando canso, sento, Lembro o que passou, Na escrita mexo O feijão da dor. E recrio os ossos Com arroz pensado. E transformo gozos No ser temperados. Quando os pratos boto, Pego, os lambo e os trinco. E se aos seios mostras, Em seus bicos brinco. Quando o suco espalho Do ser em vermelho, Quase esqueço alhos, Fritos desesperos. Única, olha, há vermes Sobre a mesa em pelo. Toca, irmã de Aquiles! Lava os cotovelos! Há uns pontos fracos Neste amor-de-mesa: Recheio inseguro, Tempo de alma presa.

JA ESTOU NO CINQUENTUM

Está certo. Sempre falo O texto de minha aldeia. Também sei que isto exala À pessoana cadeia. Sei que me uso do avesso, Indo do fim pro começo. Entre restos de um ser móvel, Sou do pó e pago o preço. Sou triste? Pra uns o sou. Alegre? Outros supõem. Se enxergam d'alma a derme, É o poema que me expõe. Me arrumem vaias breves. Meu texto segue, incolor. Por mim, daqui eu ir i a Sair, mas o Diretor... Já estou nos cinquentum. E vou vivendo pra lá, Bem longe, a voz sem um Som que agrade ao escutar.

MINHA MÁQUINA

Das 8 as 12,  Das 12 as 16,  Das 16 as 20,  Das 20 as 24,  Das 24 as 8, durmo. Assim, usam minha M ENQUANTO ISSO Que já não me reconhece É FATO. Trava quando me vê ENTE. Na mesa, me vira o rosto. Na sala, não quer saber. PORÉM tão PEN.