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UMA MÃE COM FILHOS ENTALADOS NA MEMÓRIA

Ícaro, não. Mas Dédalo sabia. Porém, como bloquear o desejo do alto? Também fora jovem. Experimentara o medo das distâncias. Tantas vezes voltara com a pele na cera derretida. O coração acelerava, e ria muito, bem largo. O prazer de ter enfrentado os dentes da morte. O riso de ter desnudado as nuvens distraídas. Por isso, deixou Ícaro ousar no colo do sol. Dédalo sabia o valor de avançar no risco. Quando viu o filho cair feito um facho, seguiu-o. Duas estrelas cadentes atingindo o barro. Dédalo queria ter morrido. Qual uma mãe de filhos enganchados na memória.

TUAS PESTANAS

Tuas pestanas acenderam as centelhas do universo. A gravidade da lua tua causa as marés no peito. Tua gravidade nua  sobre meus mares enjoados. Dos antigos nautas,  trago apenas estes ombros  a que descanses  teu cheiro de árvore  nos olhos do meu acalanto .

METAMORFOSE

Pedras amontoadas. Há medo na calçada. Cães, ratos e pombas. Um papel resta amassado. Minhas patas grudam. Um verso morto no focinho. A lua arde como o sol. Meus pelos anoitecem Para sua nudez.