Pular para o conteúdo principal

Postagens

NÃO POSSO SALVAR O DIA

Não posso salvar o dia. Ele já nasceu crucificado. Não posso salvá-lo. Seu sangue sobre nós. Até queria. Mas está escrito nas peles como estigma. Bem no centro dos seres. Doendo como um osso gritante. Escangalho suas costas. Acendo com meu escárnio seu caule. Mordo suas folhas com meu cinismo. Não posso, não quero, queria.

O TEMPO É TEU?

Pode pisar, o tempo é teu, Não esqueças que embaixo, Embora o espaço/tempo dobre E nos confronte, Senhora, Faço palavras-circunferência. Quando estiveres sem ar em cima Não esqueças a força que de teus olhos Senhora Pus ao canto dos meus óculos como estepe E só há sofrimento no poema Quando ele se joga.

O FATO SUPREMO

Veio. O fogo perto ainda. A dor de suas mãos Caía em lindas chuvas, E todos lhe liam O desejo, fé, mergulhos Com a beleza de suas vinhas. Veio. Para os fatos, era O Fato. Sob a marquise, na moitinha, O cheiro da Suma Chuva, Longe do inquieto anseio, Parecia... Deus no espelho. A verdade é que ele veio a essa cidade velha. Quem era? O estrago Que me espelha, Escuro lago, seco Seio.

AMORÁVEL POETA SAIDO

O poeta saiu do centro: dura figura. Saiu do cerne, esquecido  e cruzou por fora. E lhe dariam um cargo  em comissão no Inferno  por ingênuos sonhos parricidas. Mas esses sonhos  há muito alimentavam  corvos de ironia... Assim: Voltou ao início das coisas.  Flexível.  Amoleceu, amorável.

FORÇANDO EM TEU RIO MEU FLUXO

Fui sonhando os peixes que pescava No oceano em cheiros que sentia Fui sonhando os peixes que comia Nas panelas com que o ser cozia Fui sonhando as espinhas esguias Que ao meu olhar engasgavam Fui entretecendo guelras Que em meu mar ressonavam Fui ficando um dique profundo Onde um pesadelo emudecia E forçando em ti meu fluxo Onde meiga morte seduzia, Reabilitei-me, chuvoso