Moravam ali fazia dez anos. Foi a primeira casa do bairro Jardim Costa e Silva. Três cômodos. Uma casinha até bonitinha, graças aos cuidados dela.
Ele chegara há pouco da eterna procura por emprego. Iam levando a vida se beneficiando de planos governamentais, enquanto a maré estava brava.
Chegou, nem cumprimentou a esposa. Já sentou e se serviu da comida, ainda quentinha. Ela ficou olhando.
Ele de um lado da mesa mastigava com dificuldade.
Ela, do outro lado, começou a desfiar sua teoria nada patriarcal.
- Sabe o que eu acho? Se fossem os homens que parissem. Escuta bem. Se fossem os homens que dessem á luz. Se. Se as mulheres é que, nos tempos primitivos, fossem caçar, hoje não teríamos um Deus e sim uma Deusa.
Ele não se contém.
- Mulher, você está com o demônio!
- Me escuta. Se as mulheres desde o início fossem o sexo forte, teríamos uma Deusa, sim. Porque seria um sistema matriarcal.
- Mulher, para com isso. Você tem que se humilhar, se colocar aos pés do Senhor.
- Perante um Deus ou uma Deusa não se humilha, em primeiro lugar. Talvez se houvesse uma Deusa, não houvesse humilhação. Digo talvez. Porque homem e mulher têm os mesmos defeitos potenciais, eu acho.
- Você está desafiando minha autoridade de senhor desta casa.
- Se os homens parissem, fossem mais frágeis, como nós mulheres, menstruando e tudo mais, não teriam tempo de erguer seu poder histórico. O pai só ganha mais porque a mãe ficou tanto tempo na cozinha.
- Não fiz nada de propósito. Quando nasci tudo já tava aí.
- Mas que tu gosta, gosta. Tua comidinha, tua roupinha. Quem é que cuida? Sabe quanto tempo demorou pra uma mulher usar uma calça, fumar um cigarro, ter uma profissão no mercado de trabalho? Sabe quantas mulheres morreram por serem tachadas de demoníacas? Se vocês tivessem um corpo frágil, hoje talvez eu é que dissesse que você tá com o diabo.
- Para com isso. Deixa eu comer.
- Esqueceu do soco que você deu ontem em meus peitos?
- Já passou.
- Se fosse o contrário. Se. Se você fosse frágil, eu ia arrebentar com os seus! Eu só vivo aqui por meus filhos e por medo que você me persiga e os mate!
- Se você fugir, eu faço isso mesmo.
Quando ele falou isso, entraram na cozinha a mãe dela, as cinco irmãs, uma avó, uma bisavó, as quatro vizinhas do lado da casa e da frente. E mais mulheres foram chegando, até que ele morresse na cozinha, sufocado de mulheres.
Ele chegara há pouco da eterna procura por emprego. Iam levando a vida se beneficiando de planos governamentais, enquanto a maré estava brava.
Chegou, nem cumprimentou a esposa. Já sentou e se serviu da comida, ainda quentinha. Ela ficou olhando.
Ele de um lado da mesa mastigava com dificuldade.
Ela, do outro lado, começou a desfiar sua teoria nada patriarcal.
- Sabe o que eu acho? Se fossem os homens que parissem. Escuta bem. Se fossem os homens que dessem á luz. Se. Se as mulheres é que, nos tempos primitivos, fossem caçar, hoje não teríamos um Deus e sim uma Deusa.
Ele não se contém.
- Mulher, você está com o demônio!
- Me escuta. Se as mulheres desde o início fossem o sexo forte, teríamos uma Deusa, sim. Porque seria um sistema matriarcal.
- Mulher, para com isso. Você tem que se humilhar, se colocar aos pés do Senhor.
- Perante um Deus ou uma Deusa não se humilha, em primeiro lugar. Talvez se houvesse uma Deusa, não houvesse humilhação. Digo talvez. Porque homem e mulher têm os mesmos defeitos potenciais, eu acho.
- Você está desafiando minha autoridade de senhor desta casa.
- Se os homens parissem, fossem mais frágeis, como nós mulheres, menstruando e tudo mais, não teriam tempo de erguer seu poder histórico. O pai só ganha mais porque a mãe ficou tanto tempo na cozinha.
- Não fiz nada de propósito. Quando nasci tudo já tava aí.
- Mas que tu gosta, gosta. Tua comidinha, tua roupinha. Quem é que cuida? Sabe quanto tempo demorou pra uma mulher usar uma calça, fumar um cigarro, ter uma profissão no mercado de trabalho? Sabe quantas mulheres morreram por serem tachadas de demoníacas? Se vocês tivessem um corpo frágil, hoje talvez eu é que dissesse que você tá com o diabo.
- Para com isso. Deixa eu comer.
- Esqueceu do soco que você deu ontem em meus peitos?
- Já passou.
- Se fosse o contrário. Se. Se você fosse frágil, eu ia arrebentar com os seus! Eu só vivo aqui por meus filhos e por medo que você me persiga e os mate!
- Se você fugir, eu faço isso mesmo.
Quando ele falou isso, entraram na cozinha a mãe dela, as cinco irmãs, uma avó, uma bisavó, as quatro vizinhas do lado da casa e da frente. E mais mulheres foram chegando, até que ele morresse na cozinha, sufocado de mulheres.
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